Que rápidas as pernas de Walter Pitts. Não são formosas, nem são seguras. Correm velozes à frente de dez pares de pernas perseguidoras, que se tivessem olhos e os olhos fossem balas, há muito Pitts teria sido abatido. Continue lendo “Grande filme de bullying”
Jejum e mar de palha
O cinema só não é uma arte maior como a literatura porque não há cineastas virgens. O cineasta virgem seria uma contradição nos termos. A câmara de filmar é um falo hiperbólico: devassa, despe, acaricia. Bi ou promíscua, a câmara tanto faz estremecer Keira Knightely e Scarlett Johansson como Michael Fassbender. Continue lendo “Jejum e mar de palha”
O romance facho-hollywoodiano
A lassidão jurídica de Clark Gable
Já fui, como Clark Gable, um perigo para os peões. Tive dois carros antes de ter a carta. Primeiro, um lendário 2CV, a seguir um imaculado MGM descapotável. Continue lendo “A lassidão jurídica de Clark Gable”
A fantasia em fuga
Deixem-me ir buscar a mulher nua de 1897. Filmou-a George Méliès, o francês que, com riso e aventura, salvou o cinema dos vetustos irmãos Lumière, que lhe apertavam o gasganete com as garras da realidade. Continue lendo “A fantasia em fuga”
O ópio do artista americano
O que se escreve no que se escreve? O que se filma no que se filma? O que vemos quando vemos o sexo de Basic Intinct? Joe Eszterhas, autor do argumento desse filme, disse, num parágrafo cheio de inveja, que vemos a juventude de Sharon Stone. Continue lendo “O ópio do artista americano”
Tirar a roupa
Se a história do cinema ensina alguma coisa é que vem aí uma década de libidinoso aquecimento. No século do código Hays, passagem dos anos 20 para os 30, tudo era proibido. Mesmo o beijo na boca era só uma lástima de beijo na boca. Continue lendo “Tirar a roupa”
Ilha dos Amores em Hollywood
Era tudo proibido e havia portanto toda a liberdade. Tenho estes dois olhos que a terra há-de comer apontados a Hollywood e, em Hollywood, a essa pequena porção de paraíso que era a MGM. Continue lendo “Ilha dos Amores em Hollywood”
Heróico, viril e vil
Todo o passado é sincrético. Como sabem, John Gilbert é um actor do tempo de Homero, Greta Garbo, Ben-Hur ou não fosse o cinema uma invenção mediterrânica. Um dos criadores desse cinema da antiguidade clássica foi Louis B. Mayer. Judeu, claro. Como Aquiles, era heróico, viril e vil. De poderoso soco. Basta vê-lo, à porta do Alexandria Hotel, aos murros a Charlie Chaplin. Foi em Los Angeles: na minha antiguidade clássica já havia América e hotéis de cinco estrelas. Continue lendo “Heróico, viril e vil”
A noite e o riso
Gosto tanto do riso que rasga a insossegada noite. O senso comum reclama o silêncio nocturno. Peço ao senso comum a mesmíssima desculpa que peço a Shakespeare. Continue lendo “A noite e o riso”
Pum, pum, estás morto
Que bem que nós sabíamos morrer! Tínhamos aprendido a morrer com os índios, os mexicanos e os bandidos de mil westerns, com os piratas de cem filmes de capa e espada, com os filisteus que Sansão arrasava com a sua força de braços. Continue lendo “Pum, pum, estás morto”
A bomba atómica
Talvez explodisse a uma fulgurantíssima terça-feira. Ou a um domingo, apanhando a família a comer caranguejos, na casinha colonial que tínhamos em pleno musseque Sambizanga. Estava para explodir a bomba atómica que apagaria da face da terra a afrodisíaca insatisfação da humanidade. Continue lendo “A bomba atómica”
Deus já foi um Eusébio cósmico
Tenho uma saudade estrábica da missa de sábado às sete da tarde. Toda a gente sabe que a saudade tem problemas oftalmológicos, mas quem é que ainda sabe o que era a missa de sábado, que já valia como missa dominical, abrindo-me as portas a um domingo inteiro de praia, colonial e tropical, na Ilha de Luanda, ou nos mangais do km 36, antes do Miradouro da Lua? Continue lendo “Deus já foi um Eusébio cósmico”
A mulher irretocável
Tenho falado muito com jovens. O facto de eu usar chapéu facilita. No meu tempo, o chapéu preto era reaccionário, pidesco até, se ainda alguém sabe o significado destes coxos qualificativos. Havia uma excepção, o chapéu na cabeça de Bogart. A cabeça de Bogart enchia qualquer peito de admiração. Continue lendo “A mulher irretocável”
A culpa é de Chuck Norris
Estimado Woody Allen, eu pecador me confesso. Parte da culpa é minha. Quando o senhor Castello Lopes, nos meus tempos de director de programas, tentava vender à SIC os teus filmes, eu propunha-lhe sempre comprá-los por um terço do preço que custava um Chuck Norris. Ui, o teu orgulho artístico ferido. Continue lendo “A culpa é de Chuck Norris”