Falava e tinha o encanto de seda de uma homília do Padre Tolentino. As homílias de Tolentino escutam-nas os devotos ouvidos e até as comovidas paredes da mítica capela do Rato. O perfume das palavras do falso Conde Victor Lustig, numa tarde de 1925, converteram num jardim de aromas a sumptuosa sala do Hotel Crillon, vista a derramar-se sobre a Place de la Concorde. Continue lendo “A Torre Eiffel e o Bairro Alto”
A orelha de Van Gogh
Dizemos “irrevogável” e já mal nos lembramos de Paulo Portas. Esquecido e escasso, o adjectivo de género duplo regressou, rabo entre as pernas, à morna sonsice do dicionário. Tivesse Paulo Portas, como Van Gogh, cortado uma orelha e outro dicionário cantaria. Mas quem é que hoje se atreve a cortar uma orelha? Continue lendo “A orelha de Van Gogh”
O rei de França não era um queixinhas
A 4 de Janeiro do ano da graça de 2019, nasceu na Imprensa portuguesa uma coluna intitulada Vidas de Perigo, Vidas sem Castigo. É fraca prosa da minha autoria e acolhe-a, magnânimo, o Jornal de Negócios, e mais especificamente, a sua separata das sextas-feiras intitulada Weekend. Continue lendo “O rei de França não era um queixinhas”
Adeus
Foi esta a minha última crónica no Expresso.
Escrevo neste jornal, que Francisco Pinto Balsemão fundou, desde 1981. Com duas interrupções, uma para escrever no extinto Semanário, a outra, para ajudar a fazer a SIC. Não há duas sem três, pensei quando voltei, há oito anos, com esta coluna a que chamei A Vida Dá o que o Cinema Tira. Continue lendo “Adeus”
Estrela tracejante no céu de África
O cinema era o Avis. Um ano depois já se chamava Karl Marx. Juro que foi lá, à meia-noite, no Natal de 1974, que vi Tomorrow, adaptação de um conto de Faulkner. O artista, como ainda se dizia, era Robert Duvall, solitário agricultor que dá guarida a uma mulher tão grávida como abandonada. Continue lendo “Estrela tracejante no céu de África”
Uns ovinhos de perdiz
Tinha os olhos postos na minha pilinha. Olhava-a com uma inquietação de oito anos de idade. Ali estávamos, ela de olhar mais cego, a interrogarmo-nos um ao outro: estaria a façanha, na sua complexa articulação e intrincado encadeamento, ao nosso alcance? Continue lendo “Uns ovinhos de perdiz”
Os sinais de fumo da realidade
Eis o que faz do cinema uma arte, o involuntário humor da realidade. Cinco histórias. Continue lendo “Os sinais de fumo da realidade”
Keaton e Chaplin na Almirante Reis
A mulher madura ria-se, de perdida, os dois pés assentes no lancil do passeio da Avenida Almirante Reis. De pés no lancil do passeio, na Almirante Reis, nunca mais ninguém, mulher ou homem, se rirá tanto e tão perdidamente. Deixemos a mulher madura, da pequena burguesia ascendente dos anos 80, rir-se. Voltaremos a ela quando consiga falar. Continue lendo “Keaton e Chaplin na Almirante Reis”
Madre Teresa e o “Apocalyse Now”
O rio Tejo é um rio manso. Brando como se dizem ser os costumes portugueses. O maior mal que talvez o rio Tejo seja capaz de fazer é inundar, o que, diga-se, está na telúrica natureza de um rio. Continue lendo “Madre Teresa e o “Apocalyse Now””
A cruz perpétua
Na mão psiquiatricamente perturbada de Arthur Herman Bremen brilhou o ponto trinta e oito, o mais mítico dos revólveres, e quatro tiros no ventre condenaram o senador George Wallace a paralisia perpétua da cintura para baixo. Em 1972, a mando da desordem mental da mão de Arthur Bremmer, o seu dedo indicador no gatilho inaugurou, sem o saber, uma valsa a três tempos que punha a dançar arte e realidade. Continue lendo “A cruz perpétua”
Um olho no cavalo, outro em Dean Martin
O tipo era um bêbado sem remissão. Tão reles e submisso que já nem à mão lhe davam a moedinha: atiravam-lha para o escarrador do saloon. Falo de Dude, a quem os mexicanos chamavam Borrachón. E, todavia, esse trapo, que se esfregava pelas ruelas traiçoeiras de Rio Bravo, destila uma elegância física natural. Dentro de Dude está afinal Dean Martin. Continue lendo “Um olho no cavalo, outro em Dean Martin”
A tesoura de Grace Kelly
O dinheiro tanto move montanhas como movia Alfred Hitchcock e as personagens dos filmes dele. Por dinheiro, um antigo campeão de ténis, personagem de Dial M For Murder, manda matar a mulher, temendo que ela o deixe e leve a fortuna, trocando-o por um romancista de policiais, como romancista de policiais também era o meu amigo Dinis Machado, que muito amava a sua Dulce Cabrita. Continue lendo “A tesoura de Grace Kelly”
Diz-me agora que não tens medo
A paixão que é o medo! O amor, o amor, pois claro, a cálida perna nua que se roça pela nossa correspondente nudez, a diligência investigacional com que indicador e polegar tacteiam um mamilo, como se fossem crianças de seis anos a brincar às escondidas… o amor, pois claro, mas nada se compara à paixão pelo medo. Continue lendo “Diz-me agora que não tens medo”
O enfarte de miocárdio
Mas quem é que hoje ainda apanha um comboio? Eu sou do tempo em que até se apanhavam comboios para 1920. John Wayne apanhou um desses belíssimos cangalhos ronronantes e desembarcou em Inisfree. Foi a mando de John Ford e o comboio chegou com três descomprometidas horas de atraso. Continue lendo “O enfarte de miocárdio”
Que longe que era a guerra
Pode alguém ter saudades e memórias ternas e queridas da guerra?
Aposta arriscada, mas vamos já à destrunfa: eu nunca conheci Hitler, mas Bill um miúdo inglês que bem podia ter crescido na velha Luanda dos anos 60,
se não fosse um puto londrino dos anos 40, quer dizer duas coisas ao alemão de curto bigode e vai explicar-nos tudo.