Para fechar a silly season, e ao fim de dois anos de aturado labor intelectual, autorizo-me uma lista fútil. São episódios que, de certos filmes, teriam feito filmes diferentes. Outros, bem mereciam ter dado um filme. Continue lendo “Hollywood raramente se engana e nunca se cala”
Na ponta da língua de Mae West
Ter 120 anos não é sexy. Se estivesse viva, Mae West festejaria hoje (17 de agosto) esse aniversário. Temo que a ideia de ser sex-symbol aos 120 a encantasse. Continue lendo “Na ponta da língua de Mae West”
Uma ponta de pecado e ar fresco
Nunca. As coisas nunca são o que parecem. Basta o exemplo insofismável de um filme, o indecentíssimo The Seven Year Itch, que Billy Wilder realizou por cima e por baixo das curvas de Marilyn Monroe. Ela é a vizinha de um tipo casado que, por obrigações profissionais, não vai de férias com a família. Continue lendo “Uma ponta de pecado e ar fresco”
Menino da mamã
O desmame não foi fácil. A Gary Cooper não lhe faltava muito para os dois metros e não lhe faltava nada para ser o homem mais bonito de Hollywood. Ainda assim, era um menino da mamã. Continue lendo “Menino da mamã”
A cerveja é uma suspensão da realidade
Nenhuma cerveja nos leva ao inferno. Pior, toda a cerveja é uma suspensão da realidade. Em guerra é um pedido de tréguas. No amor, a câmara de descompressão antes da antropofagia erótica. Continue lendo “A cerveja é uma suspensão da realidade”
A noite mais escura é a noite do caçador
Do calor das cinco da tarde veio um riso de criança. Estou em Lisboa e a alegria irresponsável de uma gargalhada infantil interrompe-me a siesta andaluza. Julgava que já não havia crianças nas ruas de Portugal. Continue lendo “A noite mais escura é a noite do caçador”
Um tipo meio aciganado, europeu
O tipo moreno, meio aciganado, ao volante do descapotável, virou-se para o amigo e disse-lhe: “Quando Jack Warner e Sam Goldwyn controlavam isto, Los Angeles era um lugar diferente”. Continue lendo “Um tipo meio aciganado, europeu”
Dinheiro e arte
O produtor Samuel Goldwyn nunca imaginou que do ameno céu de Los Angeles desabasse uma tempestade daquelas. Fizera o melhor, como a tanto o obrigava dinheiro e arte. Vira uma peça da escritora comunista Lillian Hellman e gostou. Continue lendo “Dinheiro e arte”
As gravuras rupestres de Hitchcock
Nunca fui a Altamira ou às grutas de Chauvet. Talvez Hitchcock tenha visitado esses museus rupestres de touros e felinos. Talvez a cruel inocência dos seus olhos de filho de merceeiro inglês se tenha espantado com as pinturas de leões e bisontes. Continue lendo “As gravuras rupestres de Hitchcock”
O improvável mecenas
Eu quero bem que as vestais se lixem: a arte deve muito ao crime, à Mafia, a bandidos sórdidos que, de repente, têm os seus momentos de nonchalance. Pelo menos o cinema deve. O cinema americano como o cinema europeu. Exceptue-se o actual cinema alemão… mas quem, em nome de Cristo, quer saber alguma coisa do actual cinema alemão? Continue lendo “O improvável mecenas”
O dono dos sonhos
Construíram a maior máquina de sonhos que a humanidade conheceu. Tecida a luz e sombras, cerzida a estrelas. Tudo projectado em milhões de gigantescos ecrãs que disseminaram uma diáfana ilusão sobre brancos e negros, indianos ou japoneses. Papuas, mesmo esquimós, terão tido a sua convulsão a chiaroscuro ou technicolor. Continue lendo “O dono dos sonhos”
O avanço alemão
“Pode uma nação que arrota compreender uma nação que canta?” A lamúria é de um italiano, o general Sebastiano, a quem o germânico marechal-de-campo Erwin Rommel, acaba de proibir que cante as amadas árias, de Puccini ou Verdi. Continue lendo “O avanço alemão”
O bastardo
“Bastard.” Foi a primeira coisa que Louis B. Mayer disse a Billy Wilder, mal acabou a projecção privada de Sunset Boulevard. Repare-se na economia da língua que os americanos usam. Continue lendo “O bastardo”
A cada um a sua way
Encandearam-no os olhos dela. David O. Selznick, o mais poderoso produtor de Hollywood, era uma torrente de energia, poder e emoção. A cabeça, as mãos e os bolsos dele tinham feito Gone With the Wind. Trouxera Hitchcock para Hollywood como, mais tarde – já outra humanidade – se levaria Mourinho para o Chelsea ou Chamartin. Continue lendo “A cada um a sua way”
A doença que James Dean inventou
Ele morreu vestido dentro de um Porsche desfeito. Ela morreu nua, numa cama de solidão. Há qualquer coisa em comum na morte deles. Salvaguardadas as episódicas diferenças, morreram da mesma morte. Aos destroços do Porsche de Dean, aos torturados vincos dos lençóis de Marilyn, perfuma-os idêntica angústia.