Da agenda do vô:
Aos 2 anos e 4 meses, Marina ultrapassou um ponto da infância tenra. Marina agora é um ser que dialoga com a gente.
Claro: essas coisas não têm data. É tudo processo. A História – aprendi com meus muitos excelentes, extraordinários professores de História – não se faz com grandes explosões, importantes marcos. Se faz ao longo do tempo, num processo. Marcamos algumas datas porque temos necessidade de estabelecer marcos, marcas, e então temos os 14 de julho, os 4 de julho, os 7 de setembro. Mas a Revolução Francesa, a Independência Americana, a independência do Brasil, tudo foi processo.
Não é possível dizer, de Marina, algo assim: no dia tal, Marina começou a dialogar.
É um processo.
Ontem mesmo, conversando com pai e mãe de Marina, comentei que comigo Marina ainda não dialoga tanto. Com o vovô, Marina tem mais uma relação de… ação, talvez. Correr, pular, brincar de outras coisas que não exijam propriamente diálogo.
Marina me desmentiu hoje.
Estávamos no quarto dela, e ela distribuiu para mim, para Mary e para ela mesma as três travessinhas de comida.
E conversou com a gente.
Eu estava sentado no chão junto da cama dela, e ela estava muito pertinho de mim. A avó estava do outro lado.
Marina começou a conversar com a gente. A dizer que ia fazer sopa de bolo de chocolate. E que a boca da gente ia ficar suja de chocolate, como no filme da Peppa – e eu falei que era como tinha acontecido com ela, quando ela estava com a mamãe e o papai no hotel, e tinha ido de trator para a cidade e tinha tomado um sorvete de chocolate.
Marina presta uma atenção danada a quem está falando.
Como eu estava muito pertinho dela, via muito de pertinho os olhões dela olhando para mim, o jeito do rosto dela que me ouvia.
Aí ela começou a dizer que o chocolate (e ela fala chocolate de um jeito absolutamente delicioso, que não sei como identificar; seria preciso filmar, gravar a vozinha dela, para depois examinar foneticamente o que ela faz) ia sujar a boca do vovô, e a barba do vovô, e a boca inteirinha da Marina.
Aos 2 anos e 4 meses, Marina se mostra conversadeira. Uma pessoa que gosta de dialogar.
Não é, felizmente, do tipo que só quer falar. Não, de jeito algum. Ela ouve. Quando a gente fala com Marina, ela presta uma danada de uma atenção. Faz lembrar Sergio Endrigo: “la vocce del’ummo, cuando parla, io ascuolto”.
Marina é conversadeira, Marina é alegre, Marina nestes últimos dias tem sido um bom garfo. Comeu tudinho do que a Cláudia pôs no prato – franguinho, chuchu, arroz, lentilha – servido pela vovó.
E, no cadeirão, comendo a comida que a vovó dava, demonstrou, diversas vezes, paixão explícita pela vovó. Encostava a cabecinha nela. Pegava nela. Quando peguei a filmadora, e ou a máquina fotográfica, fez pose de grudentinha com a vó.
Ah…
Quando a mãe chegou, estava brincando com vô e vó de fome come – vira o copo, vira o copo, troca o copo. Tinha inventado também o cai o copo, e cai a Marina. E ria, e ria, e gargalhava. A mãe, tão acostumada a essa filha alegre, até se assustou com tanta alegria.
Vimos então as 4 historinhas da Peppa Pig permitidas por noite. Ao final, deu aquela choradinha básica, aquela choradinha que eu acho que ela não quer dar, mas ela no fundo espera que os adultos esperam que ela dê, e então ela tem que dar.
Aí nós nos preparamos para ir embora, e ela estava absolutamente envolvida numa brincadeira, com a mãe, de ser bailarina na aula da professora da Peppa de quem me esqueci o nome.
***
Mais pra de noitão, brinquei com minha filha via mensagem: Fia, não é gozado você ter uma Fia tão maravilhosa quanto a minha?”
Ela respondeu: “!ahahahahah! a minha é muito mais!!!!!!!”
Resolvi não discutir com ela. Pra que discutir com a filha que você ama demais da conta, só porque ela acha que a filha dela é mais maravilhosa do que ela mesma?
22/7/2015
Como é bom ler essas coisas, Sérgio!
Beijo
Vivina