Neste sábado, Marina observou pela primeira vez na vida um toca-discos em ação.
Pediu para ouvir de novo a canção “A Bailarina”, de Toquinho e Mutinho, do LP Casa de Brinquedos, que botei pra tocar no Technics. O LP é de 1983, quando Fêzinha tinha oito anos, mas Marina conhece bem as músicas porque a mãe comprou o DVD.
As décadas passam, mas parte da trilha sonora permanece. Acho isso maravilhoso.
Enquanto tocava “A Bailarina”, Marina ficava na pontinha dos pés na minha sala e dançava, sorrisão imenso no rosto lindo, enquanto nós babávamos – a bisa Diva, a mãe, a avó e o avô.
Foi enquanto tocava o LP Casa de Brinquedos que eu a peguei no colo e a botei diante do toca-discos. Ela observou fixamente aquela grande bolacha preta com um buraco no meio girando, girando. Mostrei para ela o braço e disse que ali tinha uma agulha. Ela não deu atenção a esse detalhe, mas mostrou intenção de pegar naquele apetrecho até então absolutamente desconhecido. Disse que não, que não podia mexer – só se ela quisesse pegar na tampa. Pegou uma vez; acho que ficou um tanto frustrada por não poder mexer à vontade no troço.
Depois botei o CD dos Saltimbancos. Esse ela tem em casa, ouve bastante. Adora cantar junto com a Nara “A história de uma gata”.
Essa coisa de passar as canções de mãe para filha, de pai pra filho, como dizia o Velho Lua para o Gonzaguinha, me deixa deslumbrado.
Semanas atrás, Fêzinha filmou Marina cantando “Nós gatos já nascemos pobres, porém já nascemos livres”. Ficou absolutamente feliz por poder mostrar para o pai dela que a neta já cantava a canção que eu tocava para ela no toca-discos do apartamento da João Moura desde a época em que tinha cachinhos dourados como os que agora Marina tem.
Nunca vou esquecer da emoção que tive, muitos anos atrás, quando Inês me pediu para gravar as canções do disco Peter, Paul and Mommy, de 1969, para ela dar para a pequena Maria ouvir. Inês tinha ouvido aquelas canções centenas de vezes, no nosso apartamento da Ministro Godoy, bem ao lado do prédio em que hoje Marina mora, e queria passá-las para a filha.
Quando nasceu Marina, sua sobrinha de coração, Inês mandou da Alemanha os votos de que ela fosse “Forever young”: “Essa vai pra Marina, que é música bem manjada mas maravilhosa, e além disso aprendi a conhecer esse poeta com o avô dela!”
“Então como é que a história? De pai pra filho…”, diz o Velho Lua.
Que maravilha isso.
***
Marina ficou aqui das 15h até as 17h30. Em mais de 95% do tempo, esteve sorridente, feliz. Brincou de tudo que tem pra brincar.
Quando a mãe resolveu que era hora de ir embora, a avó botou Marina para ajudar a organizar a bagunça: guardar todos os brinquedos espalhados pela sala dentro da caixa. Marina trabalhou nisso com afinco, seriedade. Depois da tarefa executada, afirmou, com a maior segurança:
– “Agora a Marina vai embora pra casa.”
E dirigiu-se à porta, resoluta, descabeluda com seus cachinhos dourados ao léu.
22/2/2015
Que delícia de texto! Descabeluda é o máximo!
Sabem de uma coisa? Palpite: acho que já está na hora da Marina ouvir algumas nursery rhymes como Mary had a little lamb, Jack and Jill, Jingle Bells, London Bridge Is Falling Down… Nessa idade aprendemos tudo brincando…
Não me queiram mal…
Olha o link
http://youtu.be/1kSFWCt1rFM
Adoro os textos sobre a Marina, e adorei vê-la sorrindo (só tinha visto fotos sérias, mas gosto da seriedade dela).
Não entendo essa volta dos LPs, pensei que fosse apenas coisa de hipster, mas pelo visto não é.
Acho maravilhoso essa coisa de transmitir gostos, ou nesse caso específico, músicas de pai pra filha. Hoje tenho orgulho de gostar dos mesmos caras de quem meu pai sempre foi fã, como Frank Sinatra, Bing Crosby etc. Só não consigo gostar de Fred Astaire, que ele considera o melhor. Nisso, ele e eu discordamos: sou team Gene Kelly, não tem nem discussão. =D