Antes de tudo, um alerta. Alguém se recorda do texto dos Barbeiros?
Pois é, acabo de ficar órfão de mais um.
E agora sim, continuando a esculhambadora e infinita série Inconformismo. Sigo, como de costume, chutando cachorro morto.
Inconformismo 2:
– Tragédias que adornam minhas viagens.
Falando em tragédias, 90% das minhas viagens são adornadas por algum crime bárbaro ou simplesmente pela morte de alguém famoso.
John Lennon, Daniela Perez, Whitney Houston, Cassius Clay e Sertanejos que sempre morrem viajando. Bem, esses já não contam mais, é rotineiro. Afinal, após um show regado a cachaça e música que descrevem em detalhes como é a vida de um corno, dirigir de madrugada por nossas estradas e chegar vivo a outra ponta, é uma dádiva. Me lembra o Nintendo Mario Kart, nunca cheguei até o final.
Já chegou ao ponto que, quando compro as passagens, fico pensando quem irá me assombrar dessa vez.
Quanto a aviões pequenos e helicópteros, ô gente insistente! Sabe que não dá certo e continua fabricando. Gera prejuízo para as gravadoras.
Depois dizem que sou teimoso só porque sou capricorniano. Acho injusto, pois nunca fabriquei nada que mata pessoas. É como cândida, mais estraga coisas do que resolve. Para clarear um miserável pano de prato, a funcionária mancha uma Lacoste e um moletom Ralph Lauren. A média é essa.
Essa história de aviãozinho e helicóptero virar pó, começou lá atras e não parou mais. Para quem não sabe, o dia 3 de fevereiro de 1959 ficou conhecido como o dia em que o rock morreu.
A trágica morte de Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Bopper terminou em um desenrolar de fatos desencadeados, em mais um acidente aéreo. Don McLean imortalizou esse momento na música “American pie”.
Para variar culparam o piloto, afinal morto não discute e avião pequeno não tem caixa preta.
Veja o caso dos Mamonas, até hoje não sabemos se de fato era o Dinho que estava no comando do manche, ou se o piloto ou o cara da torre, não sabiam a diferença entre direito e esquerdo.
O que me resta dizer é que Aretha Franklin tinha razão em se recusar a voar nessas pequenas geringonças. Só viajava de buzão ou limusines. O produtor Clive Davis ficava inconformado.
Ah.. tá, mas de carro você pode cair em um buraco em uma estrada e se acidentar.
Ok, pior é o avião, para qualquer lugar que ele vá o buraco o acompanha.
Poderia escrever sobre dezenas de talentos perdidos bestamente. Inclua nisso Stevie Ray Vaughan e o guitarrista do Ozzy Osbourne.
Para os fabricantes eu sugiro a inserção de 3 leis:
1-Mudar a lei da física para “tudo que sobe despenca.”
2-Obrigatoriedade de pagar um bom seguro para quem estiver embaixo.
3-Acompanhar um jazigo com a capacidade do avião em toda transação de compra.
De venda, não há necessidade, normalmente ninguém tem a chance de vender esse troço inteiro.
Um dia mandarei essas sugestões ao congresso!
Fato é que, quase sempre passo minha viagem sendo assombrado com cartazes, notícias na tv e revistas com a foto do falecido.
Tanto é que se me perguntarem do que mais me lembro em minha última visita ao museu de Louvre, digo que da camiseta do Cassius Clay, que eu via para vender até quando abria a tampa do sanitário.
Se eu fechar os olhos por um instante, vejo a Monalisa com luvas de boxe 12 onças.
Começou com o John Lennon. Depois a Daniela Perez. Na ocasião estávamos em Nassau e o garçom veio me perguntar se eu tinha detalhes do crime.
Eu nem sabia do crime, nem quem era a novelista, nem a filha dela e muito menos qual novela. Acha que eu viajei até esse fim de mundo para ficar vendo tv?
Apenas me limitei a dizer: -Pois é, as maiores atrocidades do planeta não acontecem apenas nos Estados Unidos.
Não tem outro papo. Se em um restaurante percebem meu inglês de arder, logo perguntam: Hi, Brazilians?
Que remédio…culpa da cegonha, que me deixou cair na metade do caminho (mas infelizmente não sei explicar isso em inglês).
Aí logo emendam:
– Como está o caso daquele rapaz que matou a mãe com uma colher e fugiu?
Não tenho informação, apenas vi na tv a sobrinha da vítima inconformada dizendo:
– ele tem que ser localizado urgente! Afinal trata-se de um faqueiro raro e “de família”. Se essa colher não aparecer, perderá muito do seu valor incompleto. Precisamos encontrá-lo! Aclamava ela estufada de botox.
Pois é dona, se tiver gasolina na viatura a policia localiza em 2 dias.
My friend, nem para nos esconder nós servimos, dependendo a região, ele está nessa comunidade ou naquela outra. Se for um Big Shot, na Bolívia ou Paraguay, onde todo infrator pensa que é o Club Med e irá bater uma bolinha com o Ronaldinho.
Inconformismo 3:
– Telejornalismo de ação.
Gosto muito de acompanhar noticiários feito por quem gera os noticiários. Se algumas pessoas tivessem um pouquinho de juízo, evitaria virar notícia.
Não que notícia seja ruim, todo o possível deve ser noticiado. O que falta é o final da história, que nunca aparece.
Entendo que notícia de crime dá audiência e dinheiro, mas a conclusão do fato 2 anos depois não gera 5 minutos de audiência.
Os repórteres levantam uma tremenda poeira e depois desaparecem com o caso.
Como dizem, o Brasileiro tem memória curta. Já a minha é de elefante, lembro até do médico que me deu um tapa no traseiro quando nasci. Ainda encontro esse cara… covarde, me bater pelas costas! Minha birra com médicos começou aí.
A nova moda é não dar nome aos bois. Anunciam um grande assalto a um shopping em São Paulo. Não falam o shopping, nem o bairro, nem a loja.
Gostaria de saber que tipo de informação e essa? Falta pouco para dizer: um homem morreu ali, não sabemos se foi assalto ou acerto de contas, nem o que levaram e se levaram.
Cáspita! quando tiver as informações publica pô. Eu quero saber onde é, inclusive para passar longe desse buraco.
Parece que tentam blindar o estabelecimento.
Como se alguém irá pensar: não compro mais naquele joalheria porque já foi assaltada. Mas afinal, a verdadeira função de uma joalheria não é só para ser assaltada?
Pois morando nessa selva, quem de fato irá comprar jóias?
Me lembra a época em que fui comprar um carro e tive que engolir um GPS no painel.
O vendedor falou: “É bom cara! E já está no pacote.” Pensei, eu ou o GPS?
Respondi: amigo, não faz o mínimo sentido para mim. Se eu tiver que ir a algum lugar que precisarei da orientação de um satélite, tô fora desse passeio, só se for para a lua. São visões diferentes da vida.
Tenho bode daquele app Waze. Ando com uns barnabés que para ir até a padaria ligam esse troço.
Se sigo aquilo, chego um bagaço no local, parece que corri as 24 horas de Le Mans.
É um tal de entra ali, aqui, vira lá, contorna na rotatória, pego todas valetas e lombadas de SP. Gasto o triplo de gasolina, esmigalho os pneus, destruo o carro para ganhar 4 minutos. Isso deve funcionar na Suiça, afinal para que vou chegar mais cedo ou na hora? Se eu chegar na hora, com certeza terei que esperar os outros.
Brasileiro chega atrasado até na lua de mel, nem liga se alguém chegar antes. A meta é nunca chegar na hora, sempre tem uma desculpinha.
Prefiro seguir em uma linha reta, paradinho, ouvindo música, praticamente imóvel, curtindo o ar condicionado.
Quanto a ir em locais que precisa de Waze, me lembro daqueles tontos que caem no golpe do Tinder.
A garota diz: vamos nos ver hoje? ele babando feito um cachorrinho Schnauzer, topa.
– Onde?
Gato, eu tô aqui pertinho de Artur Alvin, pode ser umas 23:30h na avenida do pêssego s/n? É uma travessa da Rua Maria da Pitríca- Bloco G fundos. “Cê vem co Mercedes né?“
– Puxa tão tarde, eu estou ansioso!
– É que eu tô me arrumando bem cheirosinha para te ver.
Só se for cheiro de pólvora!
Quem esse cara imagina encontrar nesse fim de mundo? A Miss Filipinas ou a Brooke Shields na lagoa azul?
Tenha dó, e tem um caso atrás do outro, nunca o encontro é na Oscar Freire ou no Shopping JK. É no mínimo curioso.
As vezes acompanho um caso escabroso por mais de 10 dias na tv, em todos telejornais e internet. Aí aparece outro caso, aquele cai no esquecimento e é passado o bastão.
Deve ter bandido que assiste e diz: “chega desse caso, vou fazer algo pior para ter minha obra divulgada”.
A verdade é que gosto de acompanhar para onde está caminhando a mente humana, no seu pior momento. Chamo esses programas de “o rastro da maldade”.
Outro dia me lembrei daquele monstro que voltou de uma festa e foi socando a esposa desde a garagem do prédio, continuou no elevador, depois empurrou ela da sacada do apartamento, pensou bem, foi buscar o corpo no térreo, carregou ela de volta para o apartamento, avaliou o ocorrido, resolveu fugir de carro. Adivinha para onde? Paraguay! mas perdeu o controle, capotou e só aí foi preso.
Imagino o porteiro assistindo tudo isso.
Se for no meu prédio, está tranquilo, tiveram a brilhante idéia de colocar tv a cabo na portaria. Posso até entrar e sair pelado que não percebem, em contrapartida, sabem a escalação inteira do time da Jugoslávia.
Nessa festa, esse cara deve ter ingerido mandiopan com cogumelos de boi zebu, regado a jurubeba leão do norte sem gelo.
Mais aventura que isso, só a derrubada das torres gêmeas!
Conclui 2 coisas: que se ele dirigisse melhor estaria solto e pelas habilidades (exceto a pilotagem) poderia ser convidado para o próximo James Bond.
E o telejornal, depois de um tempo, nem para falar se o carro deu PT voltam nesse caso.
Imagine que até hoje eu não sei onde foi parar aquela carne radioativa de Chernobyl? A Cobal importou com todo carinho para nós brasileiros em 1986. Um dia eu descubro. Até hoje tenho até sonhos com uma carne iluminada verde flúor.
O fato é que a gente morre sem saber o final desse e de outros mil casos que acompanhei até sair fumaça da tv e nunca mais soube pissirócas nenhuma.
Esse seria o telejornalismo de ação ou de ludibriação?
Não desistam, em breve novos e deliciosos temas do nosso cotidiano. The struggles continue….
Aguardem…
Julho de 2024
Interessante o caso do avião. O buraco acompanha ele kkkkk.
Textos bem divertidos
Felicitações ao Fábio pelo humor.
Bom dia Fábio, sempre se superando, a crônica 2 é um grande ensaio sobre a aviação. Me fez lembrar da notícia (piada) do avião que caiu em um cemitério em Portugal, já haviam localizado mais de 1000 corpos. Kkk. Quanto a crônica 3 o nosso jornalismo vende através de desgraças, nunca que uma menina do nordeste venceu um torneio de matemática mundial. Não dá ibope. Precisamos de notícias boas. Parabéns, mais uma vez se superou.Abração
Boa tarde Fábio,
Mais uma excelente leitura.
O lance da Cândida estou rindo até agora …
Continue nos divertindo.
Forte abraço,
Cheirosinha…só se for cheiro de polvora…
Como sempre mais um texto sensacional …parabéns Fábio,….
Parabéns, Fábio! Seus textos são muito originais, criativos, verdadeiros, com muita inteligência e humor.
Reli o texto dos barbeiros e me diverti tanto como na primeira vez que o li.
Continue nos presenteando com essas histórias leves e agradáveis.
Fábio, escritor, comentarista, de uma memória invejável e inventor de crônicas criativas e bem humoradas mas super realistas. Fico analisando palavra por palavra de seus textos de super coerência mas, confesso, tendo que “cambiar” o temido pelo engraçado. Vale a pena. Parabéns, uma vez mais!!!
Parabéns Fábio!
Maravilhosos textos, como sempre, com sua visão hilária, realista e perspicaz.
Por favor, não nos deixe órfãos do seu humor!
Pensei que só eu quisesse saber os finais dos casos e assisto os dias seguintes também. Ufa!! Não tô sozinha kkkkkkkk
A carne iluminada? Aguardemos quando alguém der aquele sorriso brilhante, tipo uma estrela no dente kkkkkkkk
A Romi é sua fã tá
Abraço pra ti Fabinho
Mais um brilhante texto que nos remete aos velhos tempos no espelho da sua memória.
O que o desejo de um pano de prato branquinho pode fazer, foi sensacional!
Mais uma vez obrigado pelo texto e parabéns por sua escrita impecável, meu amigo!
Abração