O copy e o foca

Os dois senhores aí da foto não se viam há uns bons 15 anos! Encontraram-se para um rápido café numa padaria, e saíram de lá combinando que têm que se ver de novo, com tempo de sobra, sem ter que olhar no relógio – e tomando cerveja, e não café.

Conheceram-se quase 50 anos atrás – em 1974, portanto 49 exatos anos atrás. O da direita na foto, o que tem cabelos, tinha então 19 anos e era foca de tudo quando entrou na redação do Jornal da Tarde na Rua Major Quedinho. O da esquerda era copydesk da Editoria de Reportagem Geral, ao lado de craques – Gilberto Mansur, Anélio Barreto, Sérgio Rondino, José Eduardo Borgonovi e Silva, o Castor, Marco Antônio Menezes, Humberto Werneck foram copydesks da Geral naqueles primeiros anos da década de 70.

A reportagem propriamente tinha, entre tantos e tantos outros, Valdir Sanches, Inajar de Souza, Percival de Souza, Antônio Carlos Fon, Randáu Marques, Moacir Bueno. O editor era Fernando Portela, o sub, Sandro Vaia. Meu Deus do céu e também da Terra, que timaço, que Seleção…

Uma das características do JT era fazer reportagens cuidadosas, longas, bem apuradas e bem escritas, em todas as áreas, mas havia um cuidado especial com as matérias de polícia. Usava-se a expressão “Novela Policial” para realçar o cuidado com que o tema era tratado. E o foquinha começou aí, nessa seara.

Fausto Macedo jamais deixou a S/A O Estado de S. Paulo, desde a chegada ao JT. É hoje – e já faz muito tempo – um dos principais nomes da imprensa brasileira na cobertura do Judiciário, do mundo da Justiça. É cheio de fontes – figurões da Justiça ligam para o telefone dele para contar histórias, dar dicas. Enquanto a gente tomava um café na padaria, mandou mensagem para ele o juiz titular de importante Vara Federal. Ele me contou, bem rapidamente en passant – tinha que voltar daí a pouco para a redação – que, quando o então juiz Sérgio Moro disse para ele que estava pensando em aceitar o convite do Inominável e deixar a 13ª. Vara Federal de Curitiba para ir para Brasília, ele, Fausto, falou algo tipo: – “Olha, dr. Sérgio, pense bem… Brasília é um mundo completamente diferente… Em Curitiba o senhor é uma grande autoridade, lá é outra coisa…”

El tiempo passa – e que coisa fantástica é o passar do tempo!

Comentei com minha amiga Sheila Lobato que estava indo tomar um café com o Fausto, e ela respondeu que dá gosto ver um coleguinha brilhar. Fiquei pensando nisso enquanto caminhava até a padaria para encontrar o Fausto. Opa, mas se dá gosto, meu, ver coleguinha brilhar – ainda mais se o coleguinha tiver sido foca quando você já era alguma coisa! Como o Fausto, o Paquinha – perdão, o Luís Fernando Silva Pinto, durante anos e anos correspondente da Rede Globo nos Estados Unidos. Dois foquinhas que não sabiam de absolutamente coisa alguma, naquele início dos anos 70, quando chegaram ao Jornal da Tarde na Rua Major Quedinho…

El tiempo pasa – e hoje o Fausto é um nome importante do jornalismo brasileiro, e o careca ali da esquerda da foto é apenas um aposentado terrivelmente mal pago pelo INSS (porém feliz da vida com minhas meninas Mary, Fê, Marina e aquela outra lá de longe, Inês, e com os meus sites).

Leio bastante o que o Fausto escreve em seu blog no portal estadao.com.br e no próprio Estadão – Mary e eu assinamos o jornal de papel, e portanto temos também acesso aberto a todo o portal. O vice-versa não rola: descobri que ele desconhece totalmente meus sites. E não se lembrava, de forma alguma, que eu havia sido o segundo editor-chefe do portal estadao.com.br, depois do criador do troço, o grande Moisés Rabinovici, que já era quase uma lenda quando cheguei ao Jornal da Tarde em julho de 1970.

(El tiempo pasa, e um dos editores do portal que respondiam a mim, o Edmundo Leite, gente finíssima, é hoje o cara que dirige o Acervo do Estadão…)

Ao compararmos fatos, datas, idades, essas coisas, nos espantamos um pouco, os dois, com a pequena diferença de nossas idades – cinco anos. Pois é – mas a diferença é bem pequena hoje. Quando a gente se conheceu,  jovens pra cacete, cinco anos eram uma eternidade – a distância entre um copydesk de 24 anos, cercado por mestres, só gente de primeiro time, e um foquinha de tudo que não sabia de coisíssima alguma.

Ele contou que se lembrava de uma das coisas que eu dizia para ele: – “Não tente inventar. Se não tiver uma bela idéia, vá pelo básico, pelo que for o mais simples, o mais direto – pão pão, queijo queijo”.

E não tem dia em que não se lembra daquela escola que teve, ao começar, foquinha de tudo, 19 anos de idade.

El tiempo pasa e, diabo, já não se faz mais jornalismo como antes – nem focas. Nem copydesks existem mais. Sequer revisores existem mais, e isso faz tempo.

***

Esse delicioso encontro com o Fausto, que deu vontade de quero-mais, aconteceu por causa do meu irmão Floriano.

Algumas semanas atrás, o Fausto estava conversando com a atual presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª. Região, e ela citou o dr. Floriano. Falaram, os dois, a dra. Beatriz de Lima Pereira. presidente do maior Tribunal do Trabalho do país, e o jornalista importante que meio século atrás foi meu foca, sobre o dr. Floriano – por quem Fausto tinha e tem o maior respeito, a quem chama de “o nosso querido dr. Floriano”.

Ele ficou curioso em saber sobre o Floriano, quando ele havia morrido, e aí me mandou mensagens e propôs um café.

História puxa história, e então não consigo me impedir de contar aqui a história envolvendo o Floriano e o Robson Pereira, o sujeito do Grupo Estado que mais entendia de internet quando a internet estava chegando ao dia-a-dia das pessoas e aos jornais, em meados dos anos 90. Robson foi o cara que ajudou a diretoria da Agência Estado – Rodrigo Mesquita e seus então braços direitos Sandro Vaia e Elói Gertel – a modificar o então bebê estadao.com.br, de uma revista ilustrada para algo voltado basicamente para as hard news. E foi aí, nessa transformação, que aqueles loucos resolveram me botar na salinha que havia sido do Rabino, a salinha do editor-chefe do portal.

Bem, mas a historinha que reúne Floriano e Robson é a seguinte:

O Robson, um carioca (e a gente sabe que os cariocas, mesmo os melhores e mais talentosos, entendem muito pouco de São Paulo – imagine-se os que não são melhores nem talentosos), ouvia falar que eu tinha um irmão que tinha sido presidente do TRT… e aí imaginou que meu irmão fosse o Lalau, o Nicolau dos Santos Neto, o corrupto!

Levou meses e meses sem ter coragem de perguntar para alguém se eu era mesmo irmão do Lalau. Agora, diacho, se eu fosse irmão do Lalau, como era possível que tivesse tantos amigos ali dentro, sujeito benquisto, editor-executivo da Agência Estado fazia tempo, escolhido para ser o novo editor-chefe do portal?

Fausto se lembrava bem que o dr. Floriano assumiu a presidência do TRT de São Paulo na época complexa, conflagrada, do Nicolau dos Santos Neto e das denúncias de corrupção. Mas eu contei um detalhe que ele – mesmo com todo seu conhecimento do mundo jurídico, e tendo entrevistado o Floriano diversas vezes – desconhecia.

Momentos antes de entrar na sala do plenário do TRT para a cerimônia de posse na presidência, em 1998, meu irmão Floriano assinou a demissão do juiz corrupto Lalau da direção da comissão que cuidava da construção do novo – e ultra hiper superfaturado – prédio na Barra Funda que abrigaria as juntas de conciliação e julgamento de primeira instância, hoje chamadas de Varas.

Era um dos grandes orgulhos do Floriano: ter demitido o juiz corrupto no primeiro ato de sua presidência do Tribunal, antes mesmo da cerimônia de posse.

***

Quando contei para o Fausto que minha filha é juíza, e preside uma vara no Fórum de Santana, que fica na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, a menos de um quilômetro do prédio do Estadão, ele reagiu de imediato com algo do tipo: – “Mas é do sangue! Puxou o tio!”

Nem contei para ele da imensa quantidade de gente da área do Direito entre os Vaz.

Fica pra próxima.

13 e 14/9/2023

Um comentário para “O copy e o foca”

  1. Sérgio, gostei muito da crônica.

    Sempre fui leitora do Fausto mas não sabia nada, nada sobre ele.

    Na minha cabeça eu sempre relaciono o início de carreira dele com o Percival de Souza.

    Estou sonhando?!

    Obrigada por mais um texto tão interessante.

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