“Ela tá tão feliz, né?”, escreveu minha filha, em mensagem para nós por volta das 21h30, depois que mandei pra ela duas fotos de uma Marina feliz feito pinto no lixo aqui em casa hoje – a terceira quarta-feira consecutiva, após a volta das aulas presenciais, em que fomos pegá-la na saída da escols e a trouxemos pra cá, pra brincar umas horas antes de a mãe pegá-la depois do trabalho.
Sim, Marina está muito feliz nestes últimos dias – mas foi só quando a Fê me mandou aquela mensagem que me dei conta de que, de fato, tanto na telenetada de anteontem quanto na nossa convivência de duas horas e meia hoje Marina estava especialmente feliz.
Marina em geral se mostra tão alegrinha que precisei da avaliação da Mamãe dela pra perceber que sem dúvida a alegria dela parece especial.
E aí a ficha me caiu por completo. Respondi para a Fê: “Muito! Acho que a volta à escola tá sendo uma liberação, uma fonte de alegrias… (…)
Volta â escola, noite (de sábado para domingo) na Marcela… Voltando a ver os iguais a ela, seus pares… Né?”
Me lembrei do que a Fê me contou sobre o Dia das Crianças. Marina brincou conosco por tela por quase 2 horas, bem mais que o combinado de sempre que são 1h30, e estava alegrinha. Mas, no meio da tarde, pediu à mãe para ver a maior amiga, a amiga irmã Nina, vizinha. E apresentou o argumento – a criatura sabe argumentar, a danada: – “Eu não queria passar o Dia das Crianças sozinha…”
Uau…
Sim, é isso, é exatamente isso: as crianças estão começando a ver de novo as outras crianças!
Depois de mais de um ano e meio de quarentena mais rígida, de escolas fechadas, parquinhos das praças e dos prédios fechados, de visitas aos amiguinhos mais próximos para passar a noite proibidas, as crianças estão começando a desfrutar da companhia das outras crianças de novo!
A alegria que minha neta está sentindo nos últimos dias, para a qual minha filha precisou me alertar, já que eu não conseguia ver uma diferença grande na carinha quase sempre muito alegre da Marina, é a alegria da volta à convivência com os pares, os semelhantes, os iguais.
Criança com criança!
Depois de um porrilhão de meses só com os pais! Ou com os tios, e avós, sempre, claro, com todo cuidado.
Os cuidados continuam, é claro. Os meninos estão cansados de saber que têm que manter os cuidados todos.
E, nisso, Marina é especialmente cuidadosa, séria, consciente. Aos oito anos e meio, Marina é a coisa mais anti-Bolsonaro que este velhote aqui poderia esperar: Marina é o anti-negacionismo em pessoa. Marina usa a máscara da maneira mais correta possível – e usa máscara sempre. Nos últimos meses, avós vacinados, ela tem a autorização de tirar a máscara quando chega aqui em casa (enquanto Mary e eu permanecemos com as nossas máscaras) – mas a primeira coisa que faz depois de chegar e tirar a máscara é lavar as mãos. E, quando se arruma para eu ir com ela até o carro da Mamãe ou do Papai, põe cuidadosamente a máscara.
Os cuidados continuam, evidentemente – mas as aulas voltaram, diabo!
Os meninos estão de novo convivendo com os meninos!
E então Marina nos contava, alegre que nem pinto no lixo, enquanto vínhamos da escola aqui pra casa, sobre as Olimpíadas que estão rolando.
Começou explicando que não era à toa que ela estava toda vestida de vermelho – camiseta vermelha de manga curta, outra camiseta vermelha por cima, e malha vermelha por cima das duas. Não era à toa – era porque ela está no time vermelho das Olimpíadas. E às vezes dois times se juntam, e hoje tinham se juntado o vermelho e o verde, e essa era a combinação de que ela mais gosta, porque no verde estão as amigas tais e tais, e tem também no verde o fulano que é muito bom na queimada, mas ele é muito bom mesmo, e então, no jogo…
E, durante boa parte do caminho de volta da escola, Marina nos narrou coisas.
Ela não é muito de narrar coisas. Em geral, quando a gente pergunta como foi lá – seja na escola, na festinha tal e tal, no passeio, na viagem, seja o que for –, ela em geral responde com frases bem curtas. – “Foi legql”. Às vezes se alonga: – “Ah, foi bem legal!” E só.
Pois hoje, terceira semana de aulas presenciais cinco dias por semana, contou bastante coisa pra nós, bastante, bastante – e estava tão alegrinha ali do meu lado no banco de trás, a Vovó dirigindo, que meu peito de avó estufou e perigou ter um treco.
Esses relatos anti-monossilábicos têm uma explicação óbvia: é a alegria pelo retorno, pelo reencontro com os amiguinhos, os colegas, os seus pares, os seus semelhantes!
O que está acontecendo com Marina deve, seguramente, certamente, estar acontecendo com milhares e milhares de criaturinhas São Paulo afora, Brasil afora.
Essa geração de criaturinhas que sofreu a conjunção de duas pandemias terríveis, horrorosas, a da Covid-19 e a do sociopata que lutou fervorosamente a favor do vírus, está vivendo a felicidade de ver a luz no fim do túnel. O apesar-de-você. A primavera.
Esta anotação da Agenda do Vô é de 20/10. Estou pondo no ar com uma semana inteira de atraso, mas acho que vale.
E assim aproveito a obra de arte que o Papai fez de Marina no domingo passado. Eta coisa linda.
Vovô coruja. Nada de ter trecos. Uma delícia tudo o que você contou. Meu neto, César, 15 anos, 1,90 de altura, ainda não teve aulas presenciais. Passa o dia no computador, com seus amigos idem. Espero que chegue rapidamente o momento feliz de chegar a sala de aula.
Valdir