Depois de todas as críticas, Bolsonaro radicaliza mais

Jair Bolsonaro não tem jeito. Não aprende. Depois de ter sido duramente criticado ao longo da tarde do próprio domingo, 15/3, durante toda a segunda-feira, e nos jornais da terça, pela irresponsabilidade criminosa demonstrada diante do Palácio do Planalto no domingo, não baixou o facho. Não deu uma sossegada, nem mesmo de leve. Ao contrário: na manhã desta terça, ao mesmo tempo em que se noticiava a primeira morte pela Covid-19 no Brasil, ele radicalizava ainda mais. Partia para o ataque aos governadores.

– “A economia estava indo bem”, mentiu ele, com a cara de pau que o caracteriza, em entrevista à Rádio Tupi do Rio de Janeiro. “Fizemos algumas reformas, os números bem demonstravam a taxa de juros lá embaixo, a confiança no Brasil, a questão de risco Brasil também, então estava indo bem. Esse vírus trouxe uma certa histeria e alguns governadores, no meu entender, eu posso até estar errado, estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia.”

Os governadores que estão seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde e também do próprio Ministério da Saúde, para tentar no mínimo diminuir a rapidez da propagação da doença, esses estão errados! E ele é que está certo, ao fazer contato físico com 272 pessoas diante da rampa do Planalto e dizer e repetir que há histeria, que o novo coronavírus não é tão perigoso assim!

Dá o mau exemplo contagioso, como bem disse a escritora Ana Maria Machado, e errado está quem tenta proteger a população da pandemia que já matou mais de 7 mil pessoas?

O que Bolsonaro está querendo com essa estratégia de radicalização cada vez maior, do confronto cada vez mais aberto – com a realidade, com os fatos, com o Legislativo, o Judiciário, os chefes dos executivos estaduais?

Qual é a estratégia?

Está Bolsonaro chamando o impeachment? Pedindo, implorando para que se inicie o processo de impeachment, para que ele, respaldando pela massa de apoiadores que julga ter, tente fechar o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal?

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Impeachment, interdição. Camisa de força. O que seja – mas é preciso tirar o louco, o psicopata, o irresponsável, o criminosamente irresponsável da Presidência da República.

Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia.

Não é de se admirar que estejam aumentando as vozes que defendem essa idéia, essa necessidade: tirar Bolsonaro.

Na edição da Folha de S. Paulo desta terça-feira, 17/3, Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP,  assinou um artigo com o título “Está na hora de discutir o impeachment”: Ele questiona: “A crise é grave e parece cada vez mais que a inação pode levar a um comprometimento permanente das instituições. Podemos nos dar ao luxo de manter Bolsonaro no poder por mais dois anos?”

No seu blog, o cientista político Mauro Aurélio Nogueira, conhecido por seu texto cuidadoso, sempre apoiado no bom senso, na lógica, o oposto do radicalismo, publicou um artigo que começa assim: “Até quando o País suportará? Onde estão as forças, as instituições e as pessoas dispostas a frear a insanidade presidencial?”

O jornalista Ricardo Noblat, criador do mais antigo e tradicional blog político do Brasil, escreveu no Twitter: “Chega! Fora com Bolsonaro que sabota o trabalho do seu ministro da Saúde porque considera a ameaça do coronavírus uma “histeria” e porque Mandetta ajuda os governadores do Rio e de São Paulo a combatê-la. A essa altura, Bolsonaro é o maior aliado da doença. Impeachment nele!”

Em sua coluna na página 2 de O Globo, Merval Pereira vai no mesmo tema, quase exatamente no mesmo tom: “Ninguém sabe como isso vai terminar, mas torna-se assunto inevitável a possibilidade de Jair Bolsonaro vir a ter interrompido de alguma maneira seu mandato presidencia por absoluta incapacidade, não apenas de gestão, mas psicológica. Pode ser por uma licença de saúde, uma renúncia, ou um impedimento político.”

Em artigo na página 3 de O Globo, Carlos Andreazza começa com o mesmo raciocínio apresentado por Mary Zaidan em seu artigo de domingo, 15/3, no Blog do Noblat: “O procedimento bolsonarista já está mapeado: plantar — neste caso, lá fora (numa TV americana) — a notícia (de que Jair Bolsonaro estaria contaminado) que se negará em seguida. O que interessa é desmentir; subsidiar a trombada de versões, a desconfiança generalizada.”

Para, em seguida, afirmar: “Estamos na mais baixa cavidade da depressão política que nos consome desde 2013 — da qual o bolsonarismo é a mais intensa convulsão. A degradação é veloz. Mas o fundo do poço é fundo. O presidente comete sucessivos crimes de responsabilidade. Estica progressivamente — todos os dias — a corda dos arreganhos autoritários. Sem qualquer resposta institucional de corpo, ousa — ousará — cada vez mais. Escrevi, na semana passada, que não tardaria até que tomasse parte numa das manifestações contra os Poderes da República. Aí está.”

Neste terceiro post da série “Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia”, transcrevo as íntegras dos artigos citados aí acima.

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Está na hora de discutir o impeachment

Pablo Ortellado, Folha de S. Paulo, 16/3/2020.

As insensatas manifestações do último domingo, 15, foram a gota d’água. Num só gesto, Bolsonaro mostrou, para quem ainda tinha dúvidas, que está ativamente conspirando contra os outros Poderes; além disso, ao participar do convescote autoritário, contrariando recomendação sanitária, mostrou que não tem autoridade para liderar o país na crise do coronavírus. Está na hora de discutirmos seu impeachment.

Além de celebrar a manifestação e pessoalmente participar dela, Bolsonaro tem reiteradamente minimizado a crise do coronavírus, chamando as medidas que estão sendo implementadas de “extremismo”, “histeria” e “superdimensionamento”, quando sua missão seria a de colaborar com as ações que podem reduzir o número de óbitos.

A taxa de mortalidade de quem se contaminou com o coronavírus é de 3,74%. Assim, se o vírus contaminar 10% da população, o que pode acontecer em alguns meses, deve matar 785 mil brasileiros. Isso é 15 vezes o número de brasileiros mortos na Guerra do Paraguai.

O presidente Bolsonaro está preparado para conduzir o país durante uma epidemia dessa magnitude? O que pode acontecer caso, incomodado com alguma atitude do ministro da Saúde, Henrique Mandetta, resolva substituí-lo por um fanático ignorante como Weintraub, Araújo ou Damares?

Mas isso não é tudo. A estratégia da confusão pela qual Bolsonaro tenta dissimular seu ataque à independência dos Poderes não deveria enganar mais ninguém.

O presidente ao mesmo tempo estimulou as manifestações e disse que eram espontâneas; permitiu que atacassem o Congresso e o Supremo e disse que não compartilha dessas posições; fez pronunciamento pedindo que as manifestações não acontecessem e, quando aconteceram, divulgou vídeos dos protestos e compareceu à manifestação em Brasília; disse que respeita Maia e Alcolumbre, mas que quem deveria prevalecer é o povo nas ruas.

Como Bolsonaro quer confundir, devemos sempre tomar como sua a posição mais grave que não foi desmentida por uma negativa firme e inequívoca. Por esse motivo, precisamos ter clareza: Bolsonaro convocou e participou de manifestações que pediram o fechamento do Congresso e do STF.

É bem verdade que o impeachment deveria ser evitado, porque o instituto não pode ser abusado e já está bastante desgastado depois do controverso impedimento de Dilma Rousseff. Mas a crise é grave e parece cada vez mais que a inação pode levar a um comprometimento permanente das instituições.

Podemos nos dar ao luxo de manter Bolsonaro no poder por mais dois anos?

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O vírus Bolsonaro

Por Marco Aurélio Nogueira, 16/03/2020.

Até quando o País suportará? Onde estão as forças, as instituições e as pessoas dispostas a frear a insanidade presidencial?

É difícil não se horrorizar ao ver as fotos de Jair Bolsonaro participando de um ato contra o Congresso, abraçando pessoas e apertando as mãos de seguidores. A justificativa foi lamentável: ele foi às ruas porque “está com o povo”. É uma insensibilidade brutal, escandalosa. Uma desfaçatez inadmissível, indefensável. Típica de alguém surtado.

É estarrecedor constatar que existem pessoas que tratam a atual situação de calamidade pública como se fosse uma “armação da mídia”, pessoas cegas em seu fanatismo, indiferentes a milhões de brasileiros. Posam de verde e amarelo e se dizem patriotas, mas são traidores da Pátria, se quisermos falar assim.

Um presidente que infringe regras e orientações estabelecidas por seu próprio governo é uma aberração. Ele debocha daquilo que as autoridades sanitárias desejam que seja norma de conduta para todos. Põe em risco a saúde da população e mostra não estar à altura da crise em que nos encontramos, que é epidemiológica e mundial, mas é também política, moral, econômica. O País está parado, à espera de alguém que o lidere e governe.

Em se tratando de Jair Bolsonaro, não dá para dizer que chegamos ao fundo do poço. Dele podemos esperar coisas sempre piores, mais graves, deletérias. Trata-se de um presidente que faz do poder um jogo de vida e morte, o contrário do que se esperaria de alguém eleito para governar um País enorme, complexo, diversificado. É um exibicionista, agarrado a ‘lives’ patéticas, nas quais demonstra toda a sua grosseria, seus maus modos, seu egocentrismo, sua irresponsabilidade. Tanto pode aparecer de máscara como se estivesse em quarentena, quanto pode cair nos braços da galera que o acompanha como se não houvesse amanhã.

Bolsonaro é uma versão do vírus do fanatismo populista e retrógrado, essa monstruosidade que se espalhou pelo mundo como uma pandemia. É uma ameaça à sociedade, à democracia, à dignidade humana.

Até quando o País suportará? Onde estão as forças, as instituições e as pessoas dispostas a frear a insanidade presidencial? O presidente hoje conspira abertamente contra seu próprio governo. Seus ministros e assessores parecem achar graça em suas peripécias, pensam que não atrapalharão demais, acham que ‘o cara é assim mesmo, é o jeito dele’. E a trupe de seguidores segue atrás, batendo bumbo e tirando fotos, contra tudo e contra todos.

Aqueles que compõem o governo atual e lhe dão sustentação ou são covardes irresponsáveis, que temem fazer alguma coisa, ou estão mancomunados com a mesma fúria de destruição que o presidente exibe, de modo cada vez mais escancarado.

Os democratas precisam agir, sair da passividade, olhar no olho da crise e assumir a responsabilidade de pensar uma saída. Não podem passar panos quentes, tergiversar em função de cálculos eleitorais ou partidários. É um momento agônico, que requer grandeza de espírito, coragem e generosidade.

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O dízimo de Bolsonaro

Por Merval Pereira, O Globo, 17/3/2020.

Ninguém sabe como isso vai terminar, mas torna-se assunto inevitável a possibilidade de Jair Bolsonaro vir a ter interrompido de alguma maneira seu mandato presidencia por absoluta incapacidade, não apenas de gestão, mas psicológica. Pode ser por uma licença de saúde, uma renúncia, ou um impedimento político.

O assunto já era freqüente em reuniões de parlamentares, autoridades e empresários em Brasília e nos centros de decisão do país. Com a mais recente demonstração de irresponsabilidade no domingo, o tema ganhou dimensões alarmantes, a ponto de o próprio Bolsonaro, sentindo o cheiro de queimado, ter declarado que seria “golpe” isolar o presidente.

Por “isolar”, compreenda-se a prescrição médica determinada por seu próprio governo, até que fique garantido que não está contaminado pelo novo coronavírus. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que corre o risco de entrar na lista negra de Bolsonaro pelos elogios que vem recebendo por sua ação sensata e eficiente durante a crise, foi cuidadoso ao dizer que participar de manifestações não era “adequado”. Lembrou que o ministério por enquanto estava apenas fazendo recomendações, que devem ser seguidas, mas não são compulsórias. Referindo-se indiretamente ao comportamento irresponsável do presidente.

Mas “isolar” o presidente pode significar também tocar o país sem depender dele, com os setores mais responsáveis do governo e os demais Poderes tomando as decisões necessárias. Ignorando quem deveria estar na liderança de um gabinete de emergência para enfrentar as crises de saúde pública e econômica, e, ao contrário, está à frente de intrigas palacianas e teorias conspiratórias que corroem sua mente e atrapalham a prevenção pelo mau exemplo.

O fato é que Bolsonaro mostra com freqüência assustadora não ser capaz de ocupar a presidência da República, ainda mais num momento como o que vivemos, que exige discernimento, exemplo, liderança, capacidade de mobilização para atuação em comunidade.

A realidade mostrada cotidianamente pelos meios de comunicação pelo mundo é tão dura que a censura mental que Jair Bolsonaro quer impor não resiste a ela, ao menos para a maioria dos brasileiros que já não o leva a sério diante da variedade das demonstrações de que não tem condições de estar onde uma maioria hoje inexistente o colocou.

Um presidente eleito por voto popular desgasta sua legitimidade sempre que demonstra não ter condições morais ou psicológicas de cumprir o papel para o qual foi escolhido.

Talvez se fosse exigido um teste psicológico dos candidatos, assim como se exige não condenação em segunda instância,  vários não estariam aptos a participar da eleição, evitando-se assim problemas como o que levou uma deputada como Janaina Pascoal, do antigo partido de Bolsonaro e cotada para ser sua vice, a pedir o afastamento dele da presidência da República.

A frase de Bolsonaro ao ser contestado por vários setores da sociedade por ter saído do isolamento a que está submetido para cumprimentar populares com calorosos apertos de mãos, e beijos e abraços, é exemplar de sua visão egocêntrica: “Se me contaminei, a responsabilidade é minha”.

Não seria problema apenas dele, já que ocupa o lugar de quem deveria dar o exemplo, liderar o país diante de um ambiente de guerra. Mas a questão é mais ampla: antes de se contaminar, Bolsonaro colocou em risco centenas de populares que, incentivados por ele, se submeteram à exposição do Covid-19 nas manifestações contra o Congresso e o Supremo.

Sobretudo, à contaminação por ele próprio, que ainda fará um teste definitivo para ver se não foi atingido pelo novo coronavírus na viagem aos Estados Unidos em que nada menos que 13 pessoas da comitiva testaram positivo.

A atitude de Bolsonaro diante da grave ameaça à saúde pública no país é similar a um de seus maiores apoiadores, o autoproclamado Bispo Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que divulgou que o Covid-19 era uma invenção de satanás.

Assim como Macedo não quer perder o dízimo com os templos cheios de incautos fiéis, também Bolsonaro não quer perder o seu dízimo, que são os votos.

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A epidemia do golpismo

Por Carlos Andreazza, O Globo, 17/3/2020.

O presidente foi ou não infectado pelo novo coronavírus? Ninguém saberá. Há um estímulo oficial à descrença constante. Diz-se que não. Mas quem acredita?

O procedimento bolsonarista já está mapeado: plantar — neste caso, lá fora (numa TV americana) — a notícia (de que Jair Bolsonaro estaria contaminado) que se negará em seguida. O que interessa é desmentir; subsidiar a trombada de versões, a desconfiança generalizada.

Estamos na mais baixa cavidade da depressão política que nos consome desde 2013 — da qual o bolsonarismo é a mais intensa convulsão. A degradação é veloz. Mas o fundo do poço é fundo. O presidente comete sucessivos crimes de responsabilidade. Estica progressivamente — todos os dias — a corda dos arreganhos autoritários. Sem qualquer resposta institucional de corpo, ousa — ousará — cada vez mais. Escrevi, na semana passada, que não tardaria até que tomasse parte numa das manifestações contra os Poderes da República. Aí está.

A ação é coerente se considerarmos a série de imposturas e irresponsabilidades por meio da qual, nos últimos 30 dias, Bolsonaro liderou uma implacável blitz autoritária contra o equilíbrio democrático no Brasil. Não é dinâmica de quem pretenda se submeter aos filtros republicanos por muito tempo. Há um quê de desespero. O prometido crescimento econômico não veio. O presidente sabe que frustrará e perderá apoio. Sua única gramática — tanto mais se acuado— é a da guerra. Ele vai — foi —para a briga de rua. O clima de crise é a temperatura ideal para medidas de exceção.

Onde estão as provas de que a eleição presidencial de 2018 foi fraudada? Não se pode esquecer desse esboço para golpe. Tampouco se pode esquecer da reação covarde do Judiciário.

Faz já mais de semana desde que o presidente atentou, com gravidade sem precedente, contra o sistema eleitoral — auge de um arco dramático totalitário encenado enquanto a linha evolutiva da Covid-19 já se traçava como alarmante realidade mundial. Supremo Tribunal Federal e Congresso Nacional optaram pela omissão. Bolsonaro captou o recado: o próprio convite a que comparecesse a uma manifestação que, ora, alvejaria Congresso e STF.

Nada exprimirá melhor a mentalidade bolsonarista — o projeto autocrático de poder — do que a fala do presidente à nação, na quinta-feira passada. O eixo do pronunciamento jamais foi a gravidade da situação decorrente do avanço da Covid-19, mas uma mensagem sectária, destinada exclusivamente a seu povo, acerca dos últimos atos de rua.

O país desafiado por uma pandemia, mas a preocupação de Bolsonaro era — é — com o fomento aos grupos organizados em que investe como instrumento de força para emparedar as instituições. Para que não haja dúvida: o presidente se valeu de cadeia de rádio e TV para difundir uma falsa desconvocação para os protestos. No domingo, comportando-se como um sociopata, foi prestigiá-los in loco.

É estratégia arriscada — mas que, por isso mesmo, impõe que se reflita sobre seus propósitos. A possibilidade de que tenha ido para o all-in não é remota.

A linguagem reacionária bolsonarista é inconsistente com o trânsito da normalidade — com os parâmetros da estabilidade democrática — e não tem recursos para se sustentar em longo prazo senão sob a aposta no golpismo. Atenção: golpismo. Donde se explicaria o elevado aporte na radicalização chantagista que caracteriza a tentativa de implantar uma cultura plebiscitária entre nós.

O Palácio do Planalto é uma célula difusora de mentiras — uma estrutura inconfiável, incapaz de semear o terreno de previsibilidade necessário a pactos e contratos. O governo não tem palavra. Trai. Dinamita pontes. Confunde. Age como situação e oposição simultaneamente. Só o firme propósito autocrático de fomentar a anomia — numa circunstância propícia à ruptura institucional — justifica que, em meio a tamanha crise, com todos os elementos de uma tempestade perfeita, o centro do governo se coloque, deliberadamente, como centro gerador de desinformação e conflito.

É uma atitude para o choque que cansa, que estressa — e que é avessa a qualquer ambiente de negócios, que fere as mais básicas necessidades de um chão em crise. Quem investirá aqui? Há um horizonte projetado. A economia, mal saída da recessão, regredirá. Os tais mercados — que aderiram ao bolsonarismo sem considerar que reforma liberal é inconsistente com projeto revolucionário — não tardarão a pular fora. Não tardará a pular fora também o trabalhador cujo saco cheio financiou o ressentimento bolsonarista, mas que agora percebe que instabilidade não gera emprego. Um cenário a que Bolsonaro, com menor base social, responderá com ainda maior tribalismo golpista.

As chances de o Brasil singrar celeremente para a ingovernabilidade são grandes. Até o impasse absoluto, entretanto, o novo coronavírus servirá de desculpa para muita incompetência, muito embuste — e alguns crimes.

7/3/2020

Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (2)

Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (1)

Um lembrete: esta série de textos e compilações não tem periodicidade fixa.

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