Com a descupinização fase 2 (sala e corredor), e a necessidade de tirar tudo das estantes grudadas nas paredes, estou me iniciando na nobre arte do desapego.
Joguei fora uma das três diferentes edições de Guerra e Paz e uma das também 3 edições diferentes de Crime e Castigo. E mais 5 DVDs de filmes horrorosos que ganhei de brinde anos atrás por assinar uma revista de lançamentos de vídeo.
Postei os dois parágrafos acima no Facebook no dia 16 de novembro, uma quinta-feira – e boa parte do que escrevi era a mais pura verdade dos fatos.
Sim, eu tinha em casa, até agora há pouco, 3 edições de Guerra e Paz: uma na coleção das obras completas de Tolstói da Aguilar, uma em dois volumes lançada pelo Clube do Livro da Nova Cultural da Abril, nos anos 80, e uma bem mais recente, em 3 volumes, da gaúcha L&PM – foi nela que reli a obra, alguns anos atrás. Os dois volumes da Nova Cultural estavam em péssimo estado, a capa dura já solta – exatamente como a edição da Nova Cultural do Crime e Castigo. (Mantive, é claro, a edição do livro dentro das Obras Completas de Doistoiévski da Aguilar e também uma bela edição encadernada que era originalmente da Mary.)
Aí de fato pus pra fora uma edição de cada uma das grandes obras-primas. Foram os primeiros livros de que abri mão nesta temporada infernal de tira-absolutamente-tudo-do-lugar – junto com os tais cinco filmes.
E aí me ocorreu fazer graça com a coisa num post no Facebook, esse lugar paradisíaco em que 90% das pessoas praticam religiosamente o desapego das coisas materiais.
E, quer saber? fiquei bastante contente comigo mesmo por estar fazendo graça em vez de estar de mau humor, azedo. reclamando, choramingando nas orelhas da pobre Mary, que andou nestes dias todos fazendo musculação muito mais forçada do que nos dois dias semanais com a Débora, carregando discos e livros pra cima e pra baixo.
Mas aquilo ainda era só o começo da fase 2, corredor e sala.
A gente acabaria jogando muita, muita coisa fora. Quilos e mais quilos de papéis. Coleções inteiras de revistas – revistas de cinema, especificamsnte de vídeo, de música, especificamente de CDs. Diversos livros – muito mais do que a princípio imaginei. Muitos DVDs, muitos. Desfazer de alguns desses suportes físicos nem chegou a doer no coração. De outros foi bastante difícil, mas fazer o quê?
Não é desapego, que não aprendi ainda esta nobre arte no que se refere a livros, discos, filmes, papéis, fotos, e nem vou aprender jamais – acho que nem quando enfim ligarem o fogaréu na Vila Alpina.
Não é a calma, tranquila, douta modernidade de saber que está tudo na nuvem. Não sou moderno, nunca fui – faz décadas, e muitas, que adoro me definir como pré-antigo, e adoro o cheiro dos livros, a textura da capa, do papel, e não abro mão de segurar a capa do disco que está tocando, olhar pela milésima vez o encarte.
É apenas que não tem outro jeito.
Um dos carrinhos com suportes físicos postos para fora de casa. Um dos muitos.
29/11/2017
.Servaz, comi mosca e não tinha visto esta parte de sua performance de Indiana Jones. Você sabe que passei pelo drama do desapego quando sai da casa para o apartamento. De mais de setecentos livros, trouxe duas caixas de papelão. Nada comparável com sua situação, mas foram-se, entre os avulsos, coleções do Padre Vieira, Machado, José de Alencar.
.Então, espertamente, resolvi vender a Enciclopédia Britânica, preciosidade que tinha há muitos anos. Cotei pelo Google. Não vale nada, ninguém quer saber de papel. Doei tudo para as Casas André Luiz.
.Tenha mais um pouco de paciência. Quando estiver tudo pronto, vamos fazer a inspeção. De presente, pretendo levar quatro vigorosos volumes do Lello Universal, com grafia da época do ph. Mentira! Desses não abri mão.
Valdir, saborosíssimos comentários, aqui e no primeiro capítulo. Vamos combinar, sim, a inspecção, ainda que sem o Lello Universal. Você pode matar saudades da sua Britannica dando uma olhada na minha.
Aguarde que virão mais capítulos!
Abração.
Sérgio
Ainda bem que parei de comprar CD há uns anos; agora compro raramente, só quando gosto muito de um cantor (fico pensando nos hipsters que voltaram a comprar LP. Socorro!). O mesmo vale para DVDs e Blu-Rays. Em relação aos livros, há dois anos aderi ao kindle, depois de muito relutar e torcer o nariz. Pura bobagem! É uma delícia ler no dispositivo (verdade seja dita que leio livro até na telinha do celular, se precisar), sem falar na praticidade. Ainda compro livros físicos, mas cada vez menos, e quando pego um calhamaço pra ler, sinto falta quando não há a versão em e-book.
Maas, assim como você, tenho uma enorme dificuldade em me desapegar dessas coisas que cita, embora tente lutar bravamente contra isso. Por falar em fotos, como você faz para conservá-las? Há uma melhor forma?
Mais uma vez, vou me fiar no seu exemplo, e jogar umas revistas fora (da época em que eu ainda comprava revistas), mas de livros não tenho coragem de me livrar; porém não tenho livros muito antigos ainda (peguei alguns velhos da minha mãe meio que por dó, não tenho coragem de jogar livro fora, a não ser que esteja realmente imprestável).
E como brasileiro acumula papel, hein?! Ô, país burocrático, meu Deus! Eu tenho sacolas e sacolas nas quais preciso dar uma geral (é, deste mês não pode passar).
Sobre a nuvem: não acho que há tranquilidade alguma em passar as fotos e vídeos para lá; a tecnologia é maravilhosa, mas super falha. Eu passei umas fotos para um pen drive novinho, e a porcaria estragou do nada. Vê se dá pra confiar nessas coisas?
MelDels, e que coragem a do Valdir, de ter ficado com apenas duas caixas de livros, dentre mais de setecentos. Espero não ter que passar por essa difícil escolha um dia. Adorei o comentário dele, e a sua resposta também! Espirituosos, os dois.