Sítio arqueológico de difícil acesso

Oi, Filha! Hoje, na última etapa da escavação dos sítios arqueológicos do apartamento, chegamos ao Buraco 2, região de acesso dificílimo, quase impossível.

Só se chega a ele removendo a tábua-carrinho onde repousam minha CPU, o subwoofer do som do PC, os pentes de tomadas de energia e os meus pés.

Pois bem. Eis que lá no Buraco 2, juntamente com alguns ratos, escorpiões, lagartos e números bem antigos, mas bem antigos de Veja, Newsweek, Time, Arquitetura e Construção, e também do Telecom e do Informática Hoje (de 1994, quando trabalhamos lá na empresa do Wilson e da Lia), descobri três imensas pastas, bem grossas, com material seu do Direito da PUC. Seguirão fotos.

Já adianto que estou apenas contando para você sobre essa nova descoberta arqueológica. Não quer dizer que preciso saber se você me autoriza a jogar fora. O material poderá perfeitamente voltar a ocupar seu espaço no Buraco 2 assim que terminar o terremoto descupinização, tá?

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Minha filha gostou da descoberta que anunciei com a mensagem acima, na terça, 28/11. Na segunda, eu já havia mandado mensagem dizendo que tinha achado, na prateleira mais alta de uma das estantes do escritório, uma penca de livros de Direito da época da Faculdade e do cursinho para o concurso; mandei fotos, e Fernanda disse que sentiu até um pouquinho de nostalgia ao ver as capas dos livros, mas me liberou para botar tudo fora – definitivamente, jamais vai precisar deles de novo.

Desapego!

Na terça, com essa mensagem sobre a nova descoberta em sítio arqueológico de difícil acesso, a nostalgia da minha filha aumentou. Disse que gostaria de dar uma olhada no material – uns 40 centímetros de altura de apostilas, muitos trabalhos dela – antes de jogar fora. “Será que rola?”, perguntou. E poderia não rolar? Insisti: posso perfeitamente guardar de volta o tesouro, caso ela queira mantê-lo. O que são uns parcos 40 centímetros de altura de papéis tamanho A4, no meio deste vasto sítio arqueológico de papéis que é a minha casa?

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Foi bem feliz, na verdade (modéstia à parte, e modéstia não é mesmo, entre as qualidades que minha mãe me deixou, uma das minhas preferidas), a imagem que me veio à cabeça ao mandar a mensagem para a Fernanda: o que tivemos que fazer, nos últimos dias, nas últimas semanas, foi de fato uma escavação profunda em um imenso sítio arqueológico.

Já tinha havido ocasiões em que foi preciso mexer demais com as coisas – como quando, por exemplo, tiramos o carpete de pano da sala, que já estava quando vim para cá, há exatos 29 anos, para trocar por filete de madeira. Tive que tirar da sala todas as 127 caixas d’água de 50 litros da Eternit (é, aquelas que têm amianto) em que ficavam os LPs. Foi uma absoluta loucura – mas foi uns 25 anos atrás, eu era muito mais jovem e na verdade hoje nem me lembro bem da trabalheira que foi.

Desta vez a coisa foi ainda pior, muito, muito pior.

Com a exigência da empresa de descupinização de tirar tudo, mas tudo, mas tu-do de todos os armários grudados às paredes, o apartamento ficou uma zona de guerra, uma absoluta loucura. Todo o chão e toda a cama do quarto que foi da Fernanda e hoje é da Marina e de hóspedes foram soterrados por camadas e mais camadas de livros e discos e DVDs e papéis e revistas.

E isso mais de uma vez, já que dividimos a descupinização em três etapas, ou não haveria jeito de botar fora de seus lugares todos os suportes físicos que há na casa.

Poucos livros, poucos discos, poucos DVDs ficaram quietinhos onde estavam – a imensa maioria teve que ser carregado para fora da estante devida e depois devolvido ao lugar certo.

E é muito livro, é muito disco, é muito DVD, e é muito, mas muito, mas muito papel.

Suportes físicos, essa coisa condenada ao desaparecimento mas que velhinhos pré-antigos, jurássicos, continuam adorando, como a moçadinha aos pés do Monte Sinai adorava o Bezerro de Ouro enquanto Moisés subia a montanha para falar com Deus Pai e voltar com uma mecha de cabelo branco – lembram da cena com Charlton Heston de repente tornado velhinho?

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Suportes físicos.

Já escrevi aqui neste 50 Anos uma dezena de textos sobre suportes físicos. Está na hora de criar a tag.

Nos próximos capítulos, a descrição de alguns dos tesouros encontrados pelo Indiana Jones aqui.

5/12/2017

Para ler o capítulo 1.
Para ler o capítulo seguinte.

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