Já está melhorando

Ao longo de 2016, o risco-país do Brasil caiu 47%. Foi a segunda maior queda entre 42 países emergentes. Isso significa que os investidores estrangeiros melhoraram – imensamente – sua avaliação sobre a segurança de fazer negócios, de colocar dinheiro no país.

É bastante provável que o eventual leitor não tenha ainda tido conhecimento dessa informação. Não foi dada com destaque pelos principais jornais. Passou bastante despercebida, apesar de sua importância. Só vi o dado em uma pequena notinha na páginas 37 da Veja desta semana, a terceira do ano.

Outras boas e importantes notícias destes primeiros dias de 2017 foram, felizmente, dadas com o devido destaque pelos grandes jornais. Se considerarmos a queda do risco-país a notícia boa número aí, temos a seguir:

2) A inflação caiu de 10,67% em 2015 para 6,29% em 2016. A variação de 0,3% em dezembro fez o IPCA medido pelo IBGE, o índice oficial de inflação, fechar o ano logo abaixo do teto da meta, que é de 6,5%.

3) A taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, teve corte de 0,75 ponto percentual e caiu para 13% ao ano – uma taxa ainda altíssima, das mais altas do mundo, porém abaixo das que vigoraram desde maio de 2015.

Com a aceleração da redução dos juros decidida pelo Conselho de Política Monetária do Banco Central na quarta-feira, 11/1, criam-se condições melhores para a retomada do crescimento da economia, afundada na pior recessão da História devido aos seguidos erros de condução da política econômica durante o flagelo Dilma Rousseff.

4) Só a redução da taxa Selic permitirá uma economia de R$ 75 bilhões com o pagamento de juros da dívida pública ao longo de 2017. O cálculo foi feito pelo ex-diretor do BC e economista chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas.

Como escreveram Marcello Corrêa e Rennan Setti no Globo de sexta-feira, 13/1, o corte da taxa também ajudou a turbinar o mercado de capitais. Na quinta, a Bovespa subiu 2,41%, enquanto o dólar recuava 0,5%, fechando a R$ 3.176.

5) Após três meses de queda, a economia brasileira cresceu 0,2% em novembro, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central divulgado na sexta-feira, 13, que é considerado uma prévia do PIB, Produto Interno Bruto, calculado pelo IBGE.

Dados da Fundação Getúlio Vargas confirmam a expansão da atividade em novembro. O Monitor do PIB-FGV, também divulgado na sexta, mostrou avanço de 0,67% na comparação com outubro.

6) A Petrobrás conseguiu captar US$ 4 bilhões no exterior, a um custo mais baixo que o de suas últimas captações, numa demonstração de que a empresa está conseguindo se livrar do estigma de estatal que foi tomada de assalto pela incompetência gerencial, pela corrupção e pela instrumentalização política em 13 anos e 5 meses de lulo-petismo.

***

A partir de junho de 2016, ou seja, a partir do primeiro mês sem Dilma Rousseff ocupando a principal sala do Palácio do Planalto, e até meados de novembro, publiquei aqui 21 textos com o título de “Vai melhorar” – coletâneas de notícias e artigos demonstrando que, apesar de todas as imensas dificuldades, apesar do tamanho absurdo, jupiteriano, galáctico, do abismo em que o lulo-petismo havia enfiado a economia, as coisas iriam começar a melhorar.

Parei de fazer as coletâneas por cansaço, por exaustão, por me sentir dando muito murro fraco em ponta de facas especialmente afiadas.

Não pretendo voltar a fazer esse exercício de jogar água mole em pedra dura – mas não consegui me impedir de registrar aqui, neste texto, este conjunto de boas notícias.

Porque elas demonstram que não é que vai melhorar no futuro. Demonstram que já começou a melhorar.

Contra fato, não há argumento, diz a sabedoria popular. Verdade, mas há mentira, falsidade, mistificação – e nisso o lulo-petismo é bom demais, é ás, é craque, é expert. No governo, o lulo-petismo é como nuvem de gafanhoto – destrói tudo. Mas, na oposição, ele é competente: sabe como ninguém mentir, falsificar, mistificar.

Assim, é bom dar um murrinho em ponta de faca. É bom juntar  fatos que demonstram que a economia começa a reagir à paralisia a que o lulo-petismo condenou o país.

***

Transcrevo abaixo um artigo de Míriam Leitão no Globo e dois editoriais do Estadão – três textos que analisam os dados e indicadores mais recentes da economia. Não são textos chapa-branca, oba-oba. Bem ao contrário. Não esbanjam otimismo. Não há como esbanjar otimismo num país num atoleiro tão grave quanto o deixado pelo lulo-petismo.

São análises feitas por bons jornalistas. Só isso.

Apesar do mau humor

Editorial, Estadão, 14/1/2017

O fato de o País permanecer mergulhado numa grave crise econômica e a circunstância associada de a chamada classe política viver uma crise de confiança, por ter cedido ao pecado mortal do patrimonialismo que vem sendo exposto pela Operação Lava Jato, explicam o mau humor dos brasileiros em geral com o governo Temer. Esse estado de espírito não tem permitido uma avaliação serena e objetiva, a salvo do maniqueísmo do “nós contra eles”, dos muitos resultados até agora alcançados na criação das precondições indispensáveis aos objetivos de impor racionalidade na gestão da coisa pública e estimular a recuperação da economia para que toda a sociedade possa compartilhar dos benefícios da produção de riquezas.

Governos não operam milagres, embora muitos aspirantes ao poder os prometam. À exceção de uma inflação que chegara a ficar fora de controle e agora caminha em direção ao centro da meta e de alguns sinais ainda tímidos de que investidores nacionais e estrangeiros não desistiram do Brasil, o governo Temer, que assumiu de pleno direito há cerca de cinco meses, ainda não pode apresentar grandes resultados concretos de recuperação da economia. Mas tem trabalhado ativamente para cumprir o que dele se espera: acabar com a ilusão voluntarista de que recursos públicos são, por definição, ilimitados – “gasto público é vida”, proclamava Dilma Rousseff –, restabelecer o equilíbrio fiscal e criar condições para reverter a recessão que atinge os mais pobres de modo mais impiedoso. O grande exemplo é a aprovação da PEC do Teto de Gastos. Mas há dezenas de outras medidas oficiais, algumas delas de cunho marcadamente social, que já foram adotadas para minimizar os efeitos sociais perversos da crise.

É claro que sempre se pode discordar de iniciativas do governo. O que não é aceitável é que medidas sejam criticadas pelo simples fato de estarem sendo propostas pelo governo. Essa é uma tendência que se acentua – além do âmbito parlamentar – também nos círculos intelectuais e artísticos autoproclamados “progressistas”, nos quais celebridades, sempre as mesmas, preferem o aparente impacto “social” de palavras de ordem tipo “Fora Temer”, ao trabalho de debater soluções para o País.

Na verdade, o lulopetismo que hoje faz oposição a Temer e os “progressistas” que ainda reverenciam esses frustrados salvadores da Pátria ficam numa situação difícil de explicar quando se trata de medidas para combater a recessão da economia. Permitem-se, até porque foi sempre assim que se comportaram, desqualificar qualquer iniciativa que “eles”, os inimigos do povo, se atrevam a propor. Mas não podem pura e simplesmente defender aquilo em que acreditam, pois foi exatamente a fé no voluntarismo e na irresponsabilidade populista de Dilma Rousseff que jogou o Brasil na maior crise da História recente. A fórmula lulopetista para um País próspero e justo deu com os burros n’água e foi enterrada pelas urnas de outubro.

Soa patética, portando, a tentativa da oposição e de sua claque de fingir que ignoram que Temer herdou uma economia falida e se esforça para tirar o País do buraco, com a orientação de uma equipe que tem à frente o mesmo profissional, Henrique Meirelles, que durante os oito anos dos governos de Lula ocupou a presidência do Banco Central. Meirelles teve seu nome insistentemente sugerido, em vão, pelo ex-presidente a sua pupila e sucessora, para continuar ocupando lugar de destaque na gestão econômico-financeira do País. Dilma Rousseff preferiu assumir ela própria o comando da economia, para “corrigir” os excessos “liberais” da política vigente nos primeiros anos de Lula, por meio de uma “nova matriz econômica” voltada para o assistencialismo e o paternalismo que, por ironia, acabaram comprometendo a sustentabilidade dos programas sociais lulopetistas.

Os importantes progressos já conquistados por Michel Temer no saneamento das contas públicas e na modernização do aparato legal que regula a atividade econômica, como foi dito em editorial na última edição de 2016, “não são garantia de que o País esteja inexoravelmente no rumo da recuperação”, até porque o governo tem errado também, com frequência às vezes alarmante. Há sempre, certamente, mais de um caminho para seguir em frente com êxito. Mas o caminho do retrocesso, felizmente, foi interditado pela voz das urnas.

Cenários mistos

Por Míriam Leitão, O Globo, 14/1/2017.

A economia viverá os próximos meses em dois tons. O da crise que permanece, e o das melhoras pontuais. Alguns índices de inflação, como os IGPs, vão trazer ainda números altos, mas no IPCA haverá queda durante todo o primeiro semestre. Os juros vão cair mais de três pontos ao longo dos meses. A falta de dinheiro nos cofres públicos e nos orçamentos das famílias permanecerá aguda.

Um desafio imediato do governo é o de adaptar o Orçamento à lei que estabeleceu o teto de gastos. Já saiu da mesa do presidente Temer, aprovado, o novo decreto de programação orçamentária e financeira para limitar em 1/18 por mês as despesas com os ministérios até março. Será menor do que o gasto mensal previsto. Se em março, na primeira avaliação bimestral de receitas e despesas, ficar claro que é necessário o contingenciamento, ele será feito. Mas com outro nome.

Mesmo tendo que apertar seu próprio cinto, o governo terá que socorrer os estados insolventes como Rio, Minas e Rio Grande do Sul. Nesta negociação com os chamados “entes subnacionais”, o governo terá que encontrar um caminho para premiar os estados que têm administrado bem suas finanças. Está se chegando à irônica situação de que os estados cujos governantes destruíram as finanças públicas terão o direito de não pagar a dívida junto ao Tesouro por um bom tempo; os estados bem organizados continuarão pagando os juros. A virtude é punida, e o mau comportamento é premiado. Temer tem ouvido de governadores que não estão em crise que, de alguma forma, é preciso distribuir de forma mais justa os benefícios.

Os economistas estão todos recalculando suas previsões. Alexandre de Ázara, do Mauá Capital, acaba de rever para 9,5% sua projeção de Selic para o fim do ano. Ele acha que a queda da inflação será tal que em setembro o índice marcará 3,5%. Depois, sobe ligeiramente para 4,3%. Ele prevê que o crescimento do PIB ficará em 0,5%, mas o movimento dessa pequena alta é mais favorável do que parece.

— Na comparação trimestre contra trimestre anterior, o PIB deve crescer durante todo o ano. Apesar de na média o crescimento ficar em cerca de 0,5% para o ano todo, chegaremos no último trimestre de 2017 em um patamar de produção 2% maior do que no mesmo período de 2016 — disse Ázara.

Os economistas que analisam as contas da agricultura têm boas notícias. O setor deve colher 15% mais do que no ano passado e com aumentos de dois dígitos no valor do que será faturado pelas diversas culturas. A soja deve ter um aumento de nove milhões de toneladas e o milho pode chegar a 19 milhões de toneladas.

Não garante crescimento, porque o PIB agrícola é estatisticamente pequeno, mas ajuda bastante. Até porque a agropecuária mobiliza outros setores, como o de produção de máquinas e equipamentos e o de transportes. Somando tudo o que a agropecuária movimenta, o setor passa a ter um peso importante na economia brasileira.

Na raiz desse ano bom está, segundo a economista Ana Laura Menegatti, da MB Agro, a base de comparação, que é baixa, mas também um desempenho impressionante de algumas culturas:

— A grande diferença é o clima. No ano passado, a seca afetou muito a produção, e a quebra de safra foi de 10%. Este ano, a produção de soja vai subir de 95 milhões de toneladas para 104 milhões. A de milho, de 66,5 milhões para 84 a 85 milhões de toneladas. Só na segunda safra de milho a alta deve ser de 37%.

No setor de petróleo, o que se diz é que o país terá uma boa retomada com uma nova rodada de leilão de áreas para exploração. O setor estava completamente parado e agora há a volta de interesse dos investidores nacionais e estrangeiros por novos negócios.

Não há mudança forte em área alguma. Permanecem incertezas, principalmente as políticas. As investigações de corrupção trarão à tona fatos que manterão o governo sempre acuado, como no dia de ontem, com as novas denúncias contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima. O desemprego vai aumentar nos próximos meses. Empresas e famílias continuam endividadas. Mas ao fim da primeira quinzena de janeiro, pode-se dizer que este será um ano misto. Com a crise ainda presente nas empresas e nos lares, mas com alguns pontos de alívio.

(Com Alvaro Gribel, de São Paulo.)

Um suspiro da economia

Editorial, Estadão, 15/1/2017.

Sinais vitais da economia brasileira melhoraram em novembro. Com isso, junta-se mais uma notícia positiva aos bons sinais acumulados neste início de ano – perspectiva de uma boa safra de grãos, inflação em queda e um novo e mais vigoroso corte dos juros básicos pelo Banco Central (BC). No entanto, seria precipitado interpretar o aumento da atividade, naquele mês, como um começo de retomada. Não se pode esquecer o fraco movimento do comércio em dezembro, num cenário de severo desemprego e de consumo ainda muito retraído. Faltam dados para uma avaliação mais segura da tendência recente. Mas o alento, ou suspiro, percebido quase no fim do ano parece mostrar pelo menos uma preciosa reserva de energia. Não é algo desprezível, depois de dois anos de funda e penosa recessão.

A novidade mais importante sobre os negócios veio de fonte oficial. Em novembro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), também conhecido como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), foi 0,2% superior ao de outubro. Esse aumento compensou com minúscula folga o recuo de 0,15% na passagem de setembro para outubro.

Mesmo com essa reação, os números acumulados no ano continuaram muito ruins. O resultado de 11 meses foi 4,76% inferior ao de um ano antes. O acumulado em 12 meses ficou 4,96% abaixo do estimado para o período imediatamente anterior. Todos esses números são da série com desconto de efeitos sazonais. Nessa mesma série, o indicador de novembro foi 2,08% mais baixo que o de igual mês de 2015.

A média do trimestre encerrado em novembro foi 0,55% menor que a do período de julho a setembro. Será uma surpresa, segundo especialistas do mercado ouvidos na sexta-feira, se a taxa dos três meses finais do ano tiver sido positiva ou mesmo nula. Pela última estimativa do BC, o PIB deve ter diminuído 3,4% em 2016.

A segunda informação positiva apareceu no mesmo dia no Monitor do PIB, divulgado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e elaborado com base nos critérios do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Segundo o Monitor, o PIB aumentou 0,67% de setembro para outubro. Ainda ficou 1,5% abaixo do estimado para o mês correspondente de 2015, mas essa foi a menor diferença negativa registrada nesse tipo de comparação em 2016. Também este detalhe parece indicar um começo de reação, mas uma conclusão desse tipo, neste caso, também seria frágil.

A maior parte das comparações com os números do ano anterior continua negativa. Assim continuaram também as taxas acumuladas em 12 meses. Houve melhora durante o ano, mas nos 12 meses até novembro a variação acumulada ainda foi uma queda de 4%. Nesse mês, o investimento produtivo, medido pela formação bruta de capital fixo, foi 5,8% menor que o de um ano antes. No trimestre encerrado em novembro o valor investido foi 8,1% inferior ao dos três meses correspondentes de 2015. Também esse relatório confirma a perda de musculatura da economia brasileira, pelo enorme recuo das aplicações em máquinas, equipamentos, instalações empresariais, obras de infraestrutura e outros tipos de construções.

Pelo menos no setor privado o investimento produtivo só deverá recuperar-se muito lentamente, porque a ociosidade é enorme. Quando a economia voltar a crescer ainda haverá muita capacidade produtiva disponível. Em novembro as fábricas ocuparam apenas 76,6% da capacidade instalada, apenas 0,1% a mais que em outubro. Um ano antes o nível de ocupação era de 77,5%. Estes números aparecem no terceiro relatório panorâmico divulgado na sexta-feira passada, da série de indicadores publicada regularmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Pelo relatório, o faturamento real cresceu 4,5% em novembro e as horas de trabalho na produção aumentaram 0,7%. Mas o emprego diminuiu 0,3% e a massa real de salários encolheu 2,3%, mantendo-se um cenário desfavorável à retomada do consumo. A nova redução de juros é só um passo para o enfrentamento dos obstáculos. Mas foi uma novidade muito bem recebida nos mercados.

16/1/2017

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