Vai melhorar (21). Ano que vem vai melhorar

Nos últimos dias, houve novos sinais, indicações de que a economia do país vai melhorar, depois de ter sido levada ao fundo do fundo do poço pelos governos lulo-petistas. Novos sinais positivos – mais uma vez. Tem sido assim, ao longo dos últimos seis meses, depois do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Vou registrar aqui as notícias com esses sinais – a 21ª coletânea delas. Mas creio que esta será a última. Em parte porque cansei, em parte porque sinto que de alguma forma já cumpri meu propósito de registrar aqui um tom positivo após a passagem do tsunami Dilma. Em parte, também, porque vai ficando cada vez mais evidente – apesar dos pequenos sinais alvissareiros – que, como eu mesmo venho registrando aqui já faz 20 vezes, vai melhorar, sim, mas vai levar bastante tempo.

Às vezes me sinto meio Polyanna demais, clamando que vai melhorar no meio desta crise absurda, com o desemprego chegando perto de 12%.

Mas lá vão as notícias dos últimos dias.

* A produção industrial de São Paulo teve alta de 1,6% na passagem de agosto para setembro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física Regional, divulgada na terça, 8/11, pelo IBGE.

* A inflação medida pelo IGP-DI subiu menos que o esperado em outubro, segundo divulgou a Fundação Getúlio Vargas na terça, 8/11. Subiu 0,13%, depois de ter subido apenas 0,03% em setembro.

* “O governo Michel Temer produziu três números indicativos de que algo de bom está acontecendo na economia ou, pelo menos, de que as coisas pararam de piorar. O valor de mercado da Petrobrás passou de R$ 101 bilhões para R$ 240 bilhões. O da Eletrobrás de R$ 9 bilhões para R$ 31 bilhões, e o do Banco do Brasil, de R$ 41 bilhões, pulou para R$ 78 bilhões.” Essa nota foi publicada na coluna de Elio Gaspari no Globo e na Folha de S. Paulo de domingo, 6/11.

* E esta nota abaixo saiu na coluna de Ancelmo Gois no Globo, na terça, 8/11: “O holandês Ben van Beurdeu, 58 anos, virou garoto-propaganda do… Brasil. O chefão da Shell, gigante mundial que tem 15% por aqui de seus investimentos, esteve com Temer, em setembro, e saiu dizendo que, mesmo com a crise política, é seguro investir no Brasil. E para mostrar que não falava lorota, levará, quinta, para uma conversa com o presidente, um grupo de investidores estrangeiros.”

* O gasto com alimentos voltou a subir. “Nos 12 meses terminados em agosto, a cesta de consumo — de alimentos, bebidas, produtos de limpeza e higiene e beleza industrializados — cresceu 0,7% em valor, em relação ao mesmo período do ano anterior. Quando o recorte é apenas em alimentos, porém, o avanço é de 5,6%, já descontada a inflação, ou seja, esse é um crescimento real, segundo dados da consultoria Kantar Worldpanel.” A informação está em reportagem de Glauce Cavalcanti, no Globo de segunda, 14/11.

* O governo vai lançar ainda este mês de novembro edital de concessão de quatro aeroportos – Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e Florianópolis.

* A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou, por 19 votos a 7, a proposta de emenda constitucional que fixa um teto para os gastos públicos, e que já foi aprovada em duas votações pela Câmara dos Deputados. A expectativa é de que a PEC seja aprovada em duas votações no plenário do Senado ainda este ano.

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Abaixo vão as íntegras de um texto que bate no cravo e outro que bate na ferradura. Artigo de Rolf Kuntz mostra que a eleição do protecionista e xenófobo Donald Trump nos Estados Unidos pode ser um perigo, mas nem de longo comparável aos perigos made in Brazil. E editorial publicado no Estadão no mesmo dia, o domingo, 13/11, mostra que o Natal não será bom para o comércio este ano – mas, no ano que vem, as coisas vão melhorar: “O cenário já deverá ser mais animador bem antes do Natal de 2017.”

Tomara. Oxalá.

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Entre festas e vendas

Editorial, Estadão, 13/11/2016

Votos de boas-festas serão trocados, como sempre, no fim do ano, mas poucos poderão falar de boas vendas, segundo as projeções dos especialistas. Pela avaliação mais otimista, a economia brasileira chegou ao fundo do poço, mas ainda levará algum tempo para começar a subir de volta. As previsões de recuperação dos negócios estão focadas em 2017 – uma aposta vital para as empresas e para o governo. As vendas no período de Natal serão menores que as de 2015, de acordo com executivos de 53,4% das companhias consultadas em pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

A expectativa de vendas iguais às de um ano antes foi indicada por 28,6% dos consultados, enquanto 16,6% disseram prever um movimento maior. Mas esse levantamento, apesar dos números feios, pelo menos deixa entrever algum otimismo. Os mais pessimistas eram 62,1% em 2014 e 81% no ano seguinte, recordaram os condutores da sondagem.

As encomendas para o fim de ano estão mais fracas e, de acordo com 39,8% dos informantes, mais atrasadas que em 2015. As vendas devem ser em média 6,5% menores que as do ano passado, mas também essa previsão indica uma recuperação do otimismo.

Em 2015, a expectativa era de queda de 14,1%. Em 2014, de 7,8%. A mudança nas previsões, nesse período, acompanhou, claramente, o agravamento da recessão de 2014 para 2015 e a mudança da política econômica a partir do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff. Embora a atividade continue reduzida e o desemprego permaneça elevado, com risco até de aumentar, a mudança de orientação pelo menos parece apontar um caminho de superação da crise.

Essa percepção tem sido indicada por várias pesquisas, nos últimos meses, sobre o nível de confiança dos empresários. Os indicadores de confiança têm oscilado, e até caído por causa da demora da recuperação, mas continuam claramente mais altos que nas piores fases da crise.

Apesar da melhora de humor de empresários e até de consumidores, os negócios continuaram fracos no terceiro trimestre. O grande acontecimento político do período foi a conclusão do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff. A confirmação do presidente Michel Temer como titular do posto até o fim de 2018 deu mais segurança ao governo, até então provisório, para encaminhar medidas de ajuste das contas públicas e avançar em discussões mais complexas, como a da reforma da Previdência.

Mas o trimestre, segundo as informações setoriais divulgadas até agora, deve ter sido mais um período de contração do Produto Interno Bruto (PIB). O balanço trimestral deve ser publicado no fim do mês. Se o resultado for positivo, ou mesmo equilibrado, a maioria dos especialistas – talvez a totalidade – será com certeza surpreendida.

O mau desempenho da indústria no terceiro trimestre já é conhecido. Os dados mensais apontaram queda de 0,1% em julho e de 3,5% em agosto e um crescimento de 0,5% em setembro, insuficiente para compensar os números negativos dos dois meses anteriores.

Além disso, a retração do consumo continuou no período de julho a setembro. No mês final do período as vendas do varejo restrito diminuíram 1%. As do varejo ampliado (com inclusão de veículos e peças e também de material de construção) encolheram 0,1%.

Os primeiros dados de outubro também foram ruins. Mesmo com aumento de 2,3% na produção de veículos, as montadoras foram incapazes de retomar o nível de atividade perdido nos dois meses anteriores, quando houve quedas de 6,4% e de 3,9%.

Sinais de arrefecimento da inflação reforçam a expectativa de uma economia mais saudável no próximo ano, assim como o avanço, no Congresso, da proposta de criação de um limite para o aumento de gastos. A recuperação, tudo indica, deve ser lenta, especialmente por causa da provável demora na reabertura de postos de trabalho. Mas o cenário já deverá ser mais animador bem antes do Natal de 2017.

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Problemas internos são muito piores que Trump

Por Rolf Kuntz, Estadão, 13/11/2016.

A primeira disputa entre o governo brasileiro e a administração do recém-eleito Donald Trump já está armada. Brasília começou na semana passada uma ação contra a nova barreira erguida nos Estados Unidos contra o aço fabricado no Brasil. A iniciativa foi do presidente Barack Obama, em mais uma tentativa de socorrer a enfraquecida siderurgia americana. O assunto ficará para o republicano, um autoproclamado protecionista. Se ele for fiel às promessas de campanha, poderá ir muito além de seu antecessor na criação de entraves ao comércio. Como candidato, anunciou até a disposição de rever acordos e de confrontar o sistema internacional de regras comerciais. Todos têm motivos para preocupação, mas no caso brasileiro é necessária uma ressalva. Barreiras no exterior são sempre ruins, ninguém pode negar, mas os principais obstáculos ao sucesso comercial das empresas brasileiras estão mesmo dentro do País.

Embora inquietante, o populismo protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos é menos perigoso que as causas internas da baixa competitividade brasileira. Enfrentá-las deve ser prioridade do atual governo, com apenas mais dois anos de mandato, e de seu sucessor. Mesmo os setores e empresas mais competitivos do Brasil são prejudicados por um número enorme de problemas sistêmicos. A lista é fácil. Inclui pelo menos a infraestrutura deficiente, a tributação irracional, a burocracia excessiva, a insegurança jurídica, o peso de governo caro e improdutivo e, é claro, um dos piores sistemas educacionais do mundo emergente.

Não adianta confrontar as taxas nacionais de alfabetização de hoje com as de dez ou vinte anos atrás. As taxas podem ter melhorado, mas o analfabetismo funcional continua muito elevado. Pelos dados oficiais, deve estar pouco abaixo de 20% da população com idade a partir de 15 anos, mas os fatos observados no dia a dia parecem mostrar um quadro bem pior.

A formação oferecida até o curso médio é desastrosa, como comprovam, em primeiro lugar, as provas de redação zeradas no Enem. A mera perspectiva de provas com nota zero na redação é assustadora, mas esse é um dado rotineiro.

A catástrofe da educação fundamental é confirmada periodicamente nos testes internacionais. No mais famoso, o Pisa, mantido pela OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, os estudantes brasileiros têm ficado regularmente entre os dez últimos, num conjunto de 65. Quem ainda tiver dúvidas sobre o assunto poderá eliminá-las consultando as associações industriais, como a CNI e a Fiesp, acerca da qualidade média da mão de obra encontrada no mercado.

No item educação primária, o Brasil ficou em 120.º lugar, pela qualidade, numa lista de 138 países, no último relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial, publicado em setembro. No quesito formação superior, o País ficou na 84.ª posição, no mesmo conjunto. Sempre no terço inferior, portanto, embora ainda seja uma das dez maiores economias, pelo tamanho do produto interno bruto (PIB).

Na classificação geral, o País caiu seis posições em um ano, passando ao 81.º lugar. A melhor colocação foi alcançada em 2012, quando o Brasil ocupou o 48.º posto. O recuo ocorreu muito rapidamente no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff e ainda se acelerou na fase de recessão. As condições conjunturais pesaram na avaliação, mas os quesitos de longo prazo continuaram muito ruins. A educação é um exemplo importante, quando se trata de medir as desvantagens competitivas.

Mas a qualidade da administração, a inflação, o desarranjo fiscal, a segurança pública deficiente e as dificuldades para fazer negócios têm permanecido, ano após ano, como fatores de grande relevância. A lista de entraves aos negócios inclui tanto fatores institucionais, como a complicada regulação tributária, quanto – digamos – informais, como a corrupção. O combate à corrupção é elogiado, mas o problema permaneceu com destaque na lista dos entraves mencionados nas entrevistas da pesquisa.

A administração pública deficiente e o estado precário das finanças oficiais aparecem de forma recorrente nas pesquisas de competitividade, assim como os impostos pesados e de baixa qualidade e a complicada regulamentação tributária. O ajuste contábil das contas públicas é, portanto, apenas uma das tarefas necessárias, na área fiscal, para tornar a economia brasileira um pouco mais eficiente.

É preciso levar em conta, nesse tópico, uma agenda muito mais ambiciosa e politicamente complicada. Uma reforma tributária razoável deverá envolver o ICMS, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, cobrado pelos governos estaduais. Não bastará eliminar a guerra fiscal entre Estados. Será preciso, também, livrar totalmente as exportações e os investimentos produtivos do peso dos tributos. Será preciso negociar o assunto com 27 governadores.

No dia a dia, fala-se muito do câmbio quando se trata de competitividade, mas pouco se discutem os fatores estruturais, como sistema tributário, educação, pesquisa e tecnologia, eficiência do governo, inflação controlada e estabilidade fiscal. São fatores como esses as principais vantagens das economias mais competitivas e com maior potencial de geração de empregos.

Políticas industriais voluntaristas, baseadas no protecionismo e na distribuição de benefícios a grupos e setores, tendem a fracassar e – pior – produzir desastres. A Organização Mundial do Comércio (OMC) acaba de condenar políticas desse tipo, exploradas amplamente pelo governo anterior. A condenação nem é o pior detalhe dessa história. Pior foi o fracasso, acompanhado de custos fiscais e financeiros enormes e de uma recessão com 12 milhões de desempregados. Trump pode ser um perigo, mas nem de longe comparável com os problemas made in Brazil.

14/11/2016

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