O Diretório Nacional do PT fez um mea culpa, uma autocrítica. Não, não admitiu claramente que seus dirigentes enfiaram-se até o último fio de cabelo na mais escandalosa rede de corrupção já registrada na História. Isso não.
Sobre a roubalheira, o enriquecimento súbito e explosivo de vários dos heróis do povo brasileiro, o PT acusa os outros: “Fomos contaminados pelo financiamento empresarial de campanhas”. Tão puros, tadinhos, foram contaminados…
Não, não. Sobre a corrupção, a autocrítica do PT não passa disso: uma tímida admissão de que o partido foi contaminado.
O que a mais alta instância do partido admitiu claramente foi o fato de que se arrepende por não ter aproveitado que estava no poder durante esses 13 anos para tomar de conta, de uma vez por todas, das instituições da República – as Forças Armadas, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o Itamaraty, a imprensa.
Em suma, por não ter feito como Hugo Chávez fez na Venezuela.
Está escrito, com todas as letras, na Resolução do Diretório Nacional sobre a Conjuntura, distribuído após a reunião realizada na terça-feira, 17 de maio:
“Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.
Não foi a imprensa burguesa que atribuiu essas palavras ao PT. Isso está escrito – é bom repetir – na Resolução do Diretório Nacional sobre a Conjuntura.
Em português escorreito, o que aquele parágrafo diz é o seguinte: “Companheiros, deixamos escapar a oportunidade de instaurar o Governo Popular do PT.”
Ou então: “Estávamos lá, tínhamos tudo na mão – e não tivemos coragem de fazer como nossos camaradas venezuelanos fizeram”.
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Um dia depois de os jornais publicarem partes da Resolução do Diretório Nacional, na noite quinta-feira, dia 19, após ler uma análise de Eliane Cantanhêde mostrando a irritação de oficiais generais com as afirmações feitas no documento do PT, escrevi um texto, “O PT quer sangue”, e publiquei aqui.
O texto está correto, me parece. Chama a atenção para um aspecto do que é declarado na Resolução. Mas – e aqui faço um mea culpa – não percebi, naquele momento, toda a grandeza do que o PT estava dizendo no seu documento.
Quem percebeu rapidamente o escopo gigantesco da afirmação foi Ricardo Noblat, que, na madrugada da sexta-feira, dia 20, postou em seu blog o texto que vai abaixo.
Cabe aos mais de 140 milhões de eleitores brasileiros, daqui para a frente, decidir se vamos dar outra chance ao PT de instaurar a Venezuela de Chávez aqui dentro.
A democracia sonhada pelo PT
Por Ricardo Noblat, em seu blog, em 20/5/2016
O trecho que segue, extraído de uma das mais recentes resoluções aprovadas pelo comando nacional do PT, deixou perplexos chefes militares e políticos minimamente responsáveis (sim, eles existem, mas são poucos no Congresso):
“Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.
É a confissão de um projeto golpista. Ou não é? Vejamos.
Onde se leu: “impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal”, pode-se muito bem ler: controlar as ações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que não são órgãos do governo, mas do Estado, dotados de autonomia garantida pela Constituição.
Onde se leu: “modificar os currículos das academias militares” e “promover oficiais com compromisso democrático e nacional”, pode-se muito bem ler: adequar os currículos das academias militares à ideologia do PT, interferindo no sistema de promoção das Forças Armadas para beneficiar oficiais comprometidos com tal ideologia.
O mesmo tipo de interferência serviria no Itamaraty para “fortalecer” sua “ala mais avançada”. Avançada no quê? Avançada em qual direção? Só poderia ser na direção julgada mais acertada pelo PT.
Por fim, onde se leu: “redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”, pode-se muito bem ler: reduzir os gastos do governo com propaganda nos chamados grandes veículos de comunicação, priorizando aqueles alinhados com o projeto do PT de se eternizar no poder. De certa forma, isso já vinha sendo feito.
Diga-se a favor do PT que ele jamais escondeu sua pretensão de “regular os meios comunicação”, ou seja: de domesticá-los e de, com isso, limitar sua liberdade de informar e de criticar. Nada muito diferente do que acontece em outros países latino-americanos. A Venezuela “bolivariana” é um bom exemplo. Por sinal, uma vez Lula afirmou que preferia propaganda a notícias.
Mais uma vez a favor do PT, diga-se que o tratamento transparente conferido por ele a objetivos que se frustraram fará bem aos eleitores dispostos a conceder-lhe seu voto e àqueles igualmente dispostos a negar-lhe o seu. De resto, fará bem aos eleitores que votaram no PT apenas encantados com sua pregação por mais justiça social e mais democracia, sem se indagar sobre a natureza de tal democracia ao fim e ao cabo.
21/5/2016
Muita coisa escapa ao Sérgio.
Noblat mais arguto e mais escorreito identifica na análise petista o lamento de ter deixado escapar a oportunidade de golpe. Fica bem claro que MP, Polícia Federal e Mídia (PIG) proporcionaram outro golpe, a direita.
O PT errou, admitiram, deixaram de cuidar da academia, deixaram espaço no judiciário, no aparato policial, no pensamento, isolaram as forças armadas através da rotulagem dos anos de chumbo, transformaram militares em policiais repressores de manifestações e protetores da propriedade privada, os militares deixaram de proteger a constituição violada tantas vezes quanto necessário. Erraram admitiram, o fascismo ocupou os espaços fato não admitido por Sérgio e Noblat. Existe algo mais fascista que o ministério Temer e atitudes do trio Cunha/Renan/Moro?
Entretanto manifestações autenticas e populares contrárias ao golpe direitoso, o fora Temer, tomaram as ruas mas não possuem a direção petista, incompetente para liderar ou dirigir os protestos de amplo seguimento da sociedade, a exemplo da reviravolta imposta no caso Minc.
Preocupada a direita tenta de forma subliminar atrair os militares, incitando-os a combater as manifestações e ocupações populares.
O maniqueísmo esquerda x direita se apresenta claro nas ruas, sem mignon e pato da Fiesp, os coxinhas abandonaram as ruas, e cantam vitória.
Pena que o PT tenha deixado escapar a oportunidade de golpear, bobearam, a direita aventurou-se.
“Põe a coroa sobre a tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela”.
Eu não tenho a mínima condição de comentar a sua complexa linha de raciocínio, Miltinho. Pelo menos não sem antes conseguir uma consulta de esclarecimentos com aquele passarinho venezuelano que incorporou o espírito do Chaves. Infelizmente, fui informado pelo Sérgio Vaz que eu não tenho chance de ser atendido: o tal passarinho tem contrato de exclusividade com o Maduro. Com a vantagem que ele cobra em alpiste e a consultoria sai bem mais barata que a do Zé Dirceu. Soube também que ele se recusou a dar consultoria para a própria Dilma na semana passada. Alegou não conseguir entender nada do que ela fala, acredita? Sem contar que o bichinho anda muito ocupado neste momento em que a população venezuelana, muito contente, está colhendo os maravilhosos resultados da revolução bolivariana. Aquela que o PT foi incompetente até para copiar.
Confesso, porém, que tenho cá minhas dúvidas sobre esse tal contrato de exclusividade. A nota do PT me pareceu ter sido redigida pelo passarinho do Maduro em pessoa. Vai ver, Sérgio Vaz, você está na fila para falar com ele e inventou essa história para diminuir a concorrência. De qualquer forma, se um dia conseguir falar com o passarinho, diga que o Miltinho está sugerindo que ele pare de cobrar em alpiste. Para alcançar a fortuna do Zé Dirceu, somente cobrando em rolos de papel higiênico.
Não exiba talento
Nem cante antes da festa,
tem parceiro que enquanto
dança com os teus sapatos
está de olho no teu caminhar.
SERGIO VAZ
Luiz Carlos, agora estamos ferrados de vez. O poeta Miltinho fez aliança tático-estratégica com o poeta Sérgio Vaz, homônimo famoso e importante deste pobre prosador que nunca esteve prosa.
Não resistiremos a essa Santa Aliança, esse Pacto Molotov-Ribbentrop!
Um abraço!
Sérgio
Só agora consegui entender essas poesias assinadas por Sérgio Vaz. Mas não se preocupe, Sérgio, essa arma do Miltinho não me pega de surpresa. Só a título de curiosidade, tenho alguma familiaridade com o pacto Molotov-Ribbentrop. Sou leitor fanático de tudo que sai sobre a II Guerra. Tenho dezenas de livros a respeito. Atualmente estou lendo “As Duas Faces da Glória”, do William Waack. Mal sabe o Miltinho que o safado do Ribbebtrop estava enganando o pobre do Molotov o tempo todo. Apesar de todas as advertências de Churchill, o tosco Stalin não se preparou adequadamente para uma invasão nazista, confiando no pacto de não-agressão. Enquanto Ribbebtrop negociava, Hitler preparava em segredo a Operação Barbarossa, que depois quase destruiu a Rússia. Minha única preocupação é saber como o Miltinho consegue reproduzir tão fielmente as teses do passarinho que incorporou o Chaves, considerando que o bichinho atende exclusivamente o Maduro. Será que já está faltando alpiste em Caracas?
Tenho admiração especial por escritores e jornalistas. Por coincidência tenho duas admirações com mesmo nome, uma de direita e outra de esquerda, ambas com mesmo nome.
Luiz Carlos ama guerra e detesta poesia, por isso difícil, para ele, falar de passarinhos.
Ser livre te da o direito
a ficar preso a quem você quiser.
sergio vaz
Claro que eu não gosto de guerra, Miltinho. Quem gosta? Pouco me interesso sobre as carnificinas da I Guerra e das Guerras Napoleônicas. Viro o rosto para imagens violentas na TV da guerra da Síria ou de qualquer outra. Eu, como muita gente, leio exclusivamente sobre a II Guerra, que foi considerado o acontecimento mais importante, mais impactante da história da humanidade. É vista também como a única guerra incontestavelmente justa da história. Uma luta da democracia contra a ditadura. Quase todos os países do mundo em guerra ao mesmo tempo. Batalhas em praticamente todos os pontos do planeta, do Ártico ao Saara. Foi o ser humano no seu limite de sofrimento e de coragem. Mas o principal é que a II Guerra foi a responsável pela cara que o mundo tem hoje, do ponto de vista geográfico, geopolítico, sociológico e econômico. Em 1939, só eram democracias os EUA, Canadá, França, Grã-Bretanha, Holanda, Tcheco-eslováquia, Suíça e talvez mais um ou outro. O resto do mundo vivia em ditaduras. O século XX terminou com uma virada em favor da democracia, graças à derrota do fascismo. A queda do comunismo também se deveu à demonstração cabal da superioridade da democracia. O crescimento tecnológico, provocado pelo conflito, em todas as áreas possíveis e imagináveis, de computadores a remédios, foguetes espaciais, medicina, engenharia, foi gigantesco. Quanto à participação brasileira, li dezenas de livros sobre a nossa tropa mal treinada, sem roupas adequadas de frio, pouco consciente do que estava fazendo ali, mas muito corajosa. Os civis italianos os veneram como os soldados mais humanitários, solidários com o sofrimento alheio, alegres e sempre dispostos a dividir sua comida com os famintos. Os alemães se recordam dos brasileiros como os que melhor tratavam os prisioneiros e impediam o seu linchamento por parte de italianos raivosos. Um adepto famoso do tema é o João Barone, do Paralamas do sucesso, que tem coleções de objetos da época e muitos livros. Viajou para a Normandia, com seu jeep da II Guerra para comemorar, junto com pessoas do mundo inteiro, os 70 anos do desembarque aliado. A cidadezinha de Montese, na Itália, comemora todo ano sua libertação dos nazistas pelas tropas brasileiras, com a presença de pracinhas. A região tem vários museus e muitos estudiosos sobre a FEB, que é praticamente esquecida no Brasil. As grandes livrarias brasileiras têm seções inteiras sobre a II Guerra, constantemente renovadas, pois vendem muito e a produção de literatura sobre o assunto é ininterrupta.