Jovens que aplaudem o terror

Havia muita gente jovem na manifestação contra o impeachment, a favor do PT, na quinta-feira, 31 de março, na Praça da Sé. Quem disse isso, num post no Facebook, foi um bom jornalista, pessoa do bem, que esteve lá e viu.

Ele não me autorizou a dizer seu nome, usar o que ele postou no Face, e então não digo, mas sei que é bom jornalista e que é pessoa do bem porque convivi durante algum tempo com ele na redação do Estadão.

Escreveu no post, que afinal é público, e então posso citar: “Muita gente jovem. Ao lado de parte da velha militância petista – gente que era jovem quando o PT surgiu os anos 80 e permaneceu fiel a ele. Parece que, apesar dos erros homéricos do PT (que afastou considerável militância) e do enorme esforço que tem sido feito para satanizá-lo, varrê-lo da face da terra e salgar o chão por onde passou, o partido vai subsistir. E com alguma força eleitoral.”

Me assusta um tanto, esse testemunho que em tudo por tudo entendo que seja escorreito, retrato da realidade.

Eu não imaginava que havia jovens nas manifestações chapa-branca, as manifestações pró-PT. Imaginava que os manifestantes eram mesmo gente carregada pelas 60 ou mais organizações que vivem do dinheiro do governo lulo-petista, as CUT, as UNE, as Ubes, as Apeoesp, os MST, MSTS da vida. O povo da mortadela, dos R$ 30,00.

É novidade, para mim, que jovens tenham ido à Praça da Sé defender Lula, o PT, o governo Dilma. Sem ter recebido nada em troca. De livre e espontânea vontade.

E é uma novidade assustadora.

Então há muitos jovens que vão para a Praça da Sé – por idealismo, por crença – defender a indecência, a imoralidade, a falta de ética, a roubalheira, a usurpação da República por um partido, a tomada da República por um bando?

Há muitos jovens que vão para a rua – por idealismo, não por trinta dinheiros e um sanduíche de mortadela – bradar impropérios contra juízes, policiais federais, promotores públicos que lutam contra a corrupção? Repetir mentiras? Ora, qualquer pessoa que some 1 com 1 sabe que o processo de impeachment não é golpe, seja jovem ou velho.

Então este país está muito pior do que eu pensava.

***

Ao ler o post em que meu ex-colega de redação se mostra tão feliz com a presença de jovens na manifestação chapa-branca pró-PT, foi impossível não me lembrar do filme do cineasta chinês Zhang Yimou de 2014, que no Brasil teve o título de Amor para a Eternidade.

O filme se passa nos anos da Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, quando algumas centenas de milhares de chineses foram presos sob a acusação de serem “direitistas”, “contra-revolucionários”, “subversivos”, o escambau.

A melhor, mais talentosa estudante da Academia de Danças daquela cidade é convocada à sala do membro do Partido. Chama-se Dan Dan. Ao entrar na sala, a garota se assusta ao ver que ali já está sentada sua mãe, a professora Yu.

O oficial se dirige à aluna da academia: – “Dan Dan, eu chamei sua mãe hoje porque tenho algo a contar para as duas. Aconteceu algo com Lu.”

Yu pergunta, com o rosto fechado, preocupado: – “Ele aprontou alguma encrenca?”

E o oficial: – “Ele fugiu. (Faz uma careta meio de espanto, meio para espantar as duas mulheres.) Aquele direitista é muito teimoso. Fugiu durante a transferência de prisão, em uma estação de trem perto daqui. (Pausa.) Vocês têm algum contato com ele?”

Yu: – “Não. Não tenho notícias dele há dez anos.”

O oficial: – “Devo informá-las que, primeiro, se souberem do paradeiro dele, informem imediatamente e ajudem as autoridades a capturá-lo. Em segundo lugar, é proibido encontrar com ele. Ele é o inimigo. Não façam besteira. Fui claro?”

Dan Dan, moça aí de uns 16 anos, muito bela, rosto expressivo, balança a cabeça afirmativamente com muito vigor.

Durante todo o diálogo, a câmara de Zhang Yimou mostra sucessivamente os rostos do oficial, da mulher do prisioneiro fugitivo e de sua filha.

O oficial diz: – “Agora declarem sua posição.”

Dan Dan se apressa: – “Ficarei longe dele. Obedecerei ao Partido.”

***

Quando políticos populistas, poderosos, inescrupulosos, ambiciosos, sem qualquer tipo de vergonha na cara, se apresentam como salvadores da pátria e cegam os jovens, impedem os jovens de ver a realidade, cativam os jovens com repetições de promessas e mentiras mirabolantes, as coisas não vão bem. Não, não, não, não vão nada bem.

2 de abril de 2016

6 Comentários para “Jovens que aplaudem o terror”

  1. 20 anos após o golpe, talvez eu não esteja vivo, mas minha esperança vai estar na praça da Sé, empunhando um estandarte vermelho, escrito em letras brancas: “vamos caminhar vovô”.

  2. Impeachment é golpe sim, está em curso, falta só o cadáver, vestido de amarelo ou vermelho, tanto faz.
    As carpideiras farão as jorrar lágrimas da demagogia.
    Pedalada vai virar crime, vice vai virar presidente para alternância do poder ilegitimamente conduzido, já que ninguém votou no vice.
    O militante tardio defende o impeachment como forma de amenizar sua consciência de golpista histórico.
    Pois sabem que os oprimidos, injustiçados, os caluniados e humilhados, os perseguidos de todas as formas voltarão sempre, em multidão e organizados, para a sua revanche.

  3. Sua narrativa, Sérgio, citando o jornalista incógnito, me fez lembrar, de imediato, o fenômeno que hoje em dia ocorre na Europa, com jovens aderindo e efetivamente agindo em prol do Estado Islâmico, guardada as devidas proporções, obviamente. Já temos tido diversos casos de jovens que, movidos por um sentimento talvez de um suposto “poder revolucionário” ou, para ser mais apropriado, “poder transformador” de um status quo, aventuram-se (talvez eu tenha encontrado a palavra: “aventura”), aderem às FARC, cultuam a imagem do sanguinário homofóbico e covarde Che Guevara e vêem o regime cubano como um modelo a ser seguido! É um fenômeno a ser estudado.

  4. Realmente é um fenômeno a ser estudado. Já para a escola coxinhas!

  5. Alguns militantes retardados e direitosos e de ocasião não sabem a tabuada de 1, própria para os possessivos.
    Os coxinhas declinam 1 vez x 1 = meu; 1 vez 2 = meu; … 1 x 9 = meu.
    Os coxinhas possuem uma atração pela subtração e carinho pela multiplicação. Detestam a soma e a divisão. Dizem ser coisa de comunistas.

  6. A presença de jovens nas manifestação a favor do governo decorre da infiltração dos esquerdistas radicais nas escolas de ensino médio e universitário. Nelas, o PSTU, PSOL, et caterva, envenenam a mente dos jovens e os tornam fanáticos, cegos à realidade. Por isso acham que impeachment é golpe. Evidentemente que também há pessoas com mais idade que pensam assim. Mas, neste caso, pode não ser por contaminação ideológica, mas por ignorância mesmo.

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