Fizemos a nossa parte. Agora ajam, excelências

DNT_9033.JPG DNT 13-03-2016 SAO PAULO - SP / EMBARGADO / NACIONAL OE / PROTESTO / MANIFESTAÇÃO /ATO PELO IMPEACHMENT DE DILMA/CONTRA CORRUPÇÃO - Vista aerea da Av. Paulista com manifestantes em ato de apoio ao impeachment da Presidente Dilma Rousseff, a investigacao da Lava Jato e ao Ministerio Publico do Estado de Sao Paulo que pediu a prisao preventiva do ex-presidente Lula ( CRISE / POLITICA / ATO / PROTESTO / MANIFESTACAO / IMPEDIMENTO ) - FOTO DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

Eu nunca tinha visto uma coisa dessas, nem Mary, ali ao meu lado, nem tampouco – tenho a certeza – qualquer pessoa no meio daquele mar de gente.

Nem nas Diretas-Já vi tanta gente.

E já vi coisas. Estive nas manifestações pela Diretas-Já, em 1984, nas manifestações do Fora Collor, e nas três grandes pelo Fora Dilma, Fora PT, do ano passado – a de 15 de março, a de 16 de agosto e a de 13 de dezembro.

A de 13 de dezembro, menor que as anteriores, embora tivesse bastante gente, deixou um travo amargo. Ué, o povo cansou de pedir fora PT? Desistiu?

Então eu não estava tão otimista quanto a Mary sobre como seria a manifestação de hoje. Se fosse parecida com a de 15 de março já seria uma maravilha, pensava.

Foi ainda maior. Foi muito maior.

Sei que a do Rio foi maravilhosa: as fotos mostram, os organizadores falaram em um milhão de pessoas. Mesmo que tenham sido 500 mil já foi uma demonstração claríssima, forte, contundente a não mais poder. A de Brasília foi a maior que já houve. Em Vitória foram 200 mil, no Recife 150 mil. As fotos de Jundiaí são impressionantes: parece que a cidade inteira estava na manifestação, não ficou ninguém em casa.

Eu já sabia que tinha sido um grande sucesso pelo país, quando saímos de casa, pouco depois das 2 da tarde.

Mas fui ficando surpreso já no caminho do Metrô. A Avenida Sumaré estava cheia de gente de verde e amarelo nos pontos de ônibus. Quando chegamos à estação, do lado da Rua Oscar Freire, meu coração disparou: havia uma fila gigantesca nas bilheterias. Chegar até uma das catracas era difícil. A plataforma estava cheia, o trem já veio cheio – e a Estação Consolação estava absolutamente lotada.

Detalhe fantástico: na Estação Sumaré, encontramos Arnaldo Madeira, o ex-deputado tucano que foi líder do governo FHC na Câmara. Mesmo com um problema grave no pé, Madeira fez questão de ir, com um dos filhos, à manifestação.

A Paulista já estava dura de gente às 14h45 desde a quadra entre a Haddock Lobo e a Augusta!

Não é que estava com muita gente, não. Estava dura de gente. Mal dava para caminhar. Tão cheia, mas tão cheia, que sugeri para a Mary entrarmos na Augusta e seguir pela Alameda Santos, a primeira paralela da Paulista.

Ficamos na manifestação desde as 14h45 até depois de 17h30. Umas três horas – e a verdade é que, pela Paulista mesmo, não andamos muito.

E isso é que foi o mais impressionante: a Paulista, em toda a sua extensão, estava tão dura de gente, que a multidão se espalhava pelas transversais todas, e pelas paralelas. A Santos, de um lado, e a Cincinato Braga/São Carlos do Pinhal, do outro, ficaram cheias, cheias, cheias de gente.

Era uma multidão imensa em pelo menos duas quadras de cada uma das transversais – Augusta, Padre João Manuel, Ministro Rocha Azevedo, Peixoto Gomide, Casa Branca, Pamplona… Na Pamplona, descemos mais uma quadra, até a Itu – e a Itu estava cheia de gente!

Numa janela de um prédio da Itu, lá pelo décimo andar, o morador tinha posto pra fora uma bandeira do PT. A multidão berrava escandalosamente os “fora PT”, “fora Dilma”. Alguém teve a idéia e gritou “pula!” – pronto: a multidão passou a gritar “pula, pula, pula!”

Do outro lado da Paulista, na Cincinato Braga, a visão oposta: de uma janela do segundo andar de um prédio, um garotinho de uns 12 anos balançava a bandeira do Brasil e dava os gritos tradicionais de “fora PT”, “fora Dilma”, “Lula nunca mais” – e a multidão aplaudia em delírio.

***

O clima era o de sempre, o mesmo das três grandes manifestações de fora PT, fora Dilma, do ano passado: uma alegria danada. Gente alegre, gente contente. Grupos de amigos. Famílias inteiras. Muitas famílias inteiras, muitas crianças de colo, bebês, garotos e garotas de todas as idades. Velhinhos e velhinhas bem velhinhos e bem velhinhas.

Camisetas amarelas na maioria – mas também camisas verdes e camisas azuis. Camisetas com todo tipo de dizeres – muito, muito, muito apoio ao juiz Sérgio Moro.

Cartazes de todos os tipos. Desta vez havia muitos cartazes iguais, padronizados, impressos em gráfica, porque o Habib’s e um outro grupo de fast food resolveram tirar casquinha e distribuíram cartazes.

Mas a imensa maioria dos cartazes era coisa particular, pessoal e intransferível, feita em casa por cada pessoinha daquele mar de gente.

Pau no Lula, pau na Dilma, pau na corrupção, na roubalheira – e muita coisa engraçada, é claro, com piadas, gozações.

E todo mundo tirando fotos – dos outros, da multidão, e da família, e selfies de todos os jeitos.

O antipetismo é alegre, é bem humorado, é sorridente.

***

Mas então, voltando à coisa macro: a multidão desta vez não coube na Avenida Paulista, em toda a sua extensão! A multidão tomou a Paulista e ocupou também pelo menos duas quadras de todas as suas transversais, da Haddock Lobo até a Brigadeiro Luiz Antônio, e mais boa parte das duas ruas laterais de cada lado.

Nunca houve tanta gente junta em São Paulo. Nem mesmo nas Diretas-Já. Nem no réveillon. Nem na parada gay – o que fez minha amiga Márcia Pinheiro fazer um post absolutamente delicioso, que li marchando pela Alameda Santos: “gente, a bicha que mora em mim exclama: dois milhões na paulista. tá mais animado do que parada gay”.

Segundo os organizadores, foram 2,5 milhões de pessoas. Os organizadores, é claro, exageram. A Polícia Militar mediu 1,4 milhão. O Datafolha… Bem, o Datafolha contou um por um e chegou à conclusão de que havia ali 500 mil pessoas – o suficiente para a Folha de S. Paulo dizer o que depois seria dito pelas emissoras de TV e também pelo Estadão e pelo Globo: os protestos de hoje em todo o país foram as maiores manifestações políticas da História do Brasil.

No país, foram, segundo levantamento do site G1, 3,1 milhões em 239 cidades – nas contas das políciais militares. Isso exclui os cariocas que lotaram as seis pistas da Avenida Atlântica: a Secretaria de Segurança Pública do governo Pezão, do PMDB aliado de Dilma, fez, de novo, absoluta questão de não divulgar cálculo de número de pessoas.

Segundo os organizadores, somando os brasileiros das 239 cidades, de Macapá às margens do Amazonas à gauchada do Parcão, fomos 6,4 milhões de pessoas.

***

E então é isto que eu fui logo escrevendo no Facebook ao chegar de volta em casa:

Minhas considerações finais são simples.

Nunca houve na História do Brasil tamanha manifestação popular.

Nem mesmo nas Diretas-Já.

Então, senhores do Parlamento, obedeçam à vontade do povo. Acelerem esse processo de impeachment.

É preciso tirar o país do atoleiro em que o lulo-quadrilhismo o meteu.

Simples assim.

***

Agora que já botei o lead, a abertura, as frases mais importantes do texto (ainda que tenha botado no pé da matéria, que nem se fosse em jornalismo de TV), me permito esticar o papo. Pra contar dois detalhes.

Um é muito pessoal, mas fascinante.

Como é que, numa cidade de mais de dez milhões de habitantes, a gente encontra um conhecido (e uma pessoa que admiramos) na estação do metrô?

Pois é: foi de fato incrível encontrar o Arnaldo Madeira no bololô de gente na Estação Sumaré. Madeira tem cartão de idoso, poderia passar pela catraca, mas o filho dele não estava com o bilhete único, e assim entrou na fila imensa para comprar bilhete. Mary foi até lá e o resgatou: ele passaria com uma de nossas passagens.

O mais fantástico de tudo é que esta foi a segunda coincidência envolvendo a gente e os Madeiras na Estação Sumaré. Ano passado, Mary, Fê, Carlos, Marina e eu entramos na Estação Sumaré, rumo ao Aquário de São Paulo e, na plataforma, demos de cara com Ana, Gabriel e o filho deles, Tiago, com quem Marina já fez alguns programas em parquinhos. Ana é uma das mais antigas e adoradas amigas da minha filha. E o Gabriel, marido da Ana, pai do Tiago que brinca com Marina, é filho do Madeira.

É uma cidade muito pequena, pequena demais, então essas coincidências acontecem.

O outro detalhe é mais importante em termos macro: não conseguimos entrar na Estação Brigadeiro do metrô. Estava tão cheio, tão absolutamente cheio, que desistimos, subimos de novo as escadas, e caminhamos até a Estação Paraíso.

Não era só a Paulista que estava tomadas – também a Bernardino de Campos estava totalmente ocupada por coxinhas verde-amarelos.

E a Estação Paraíso estava mais cheia que a Brigadeiro!

Mary estava exausta. Queria parar.

Sugeri que fôssemos andando rumo à estação Ana Rosa – se tivesse um bar no caminho, pararíamos. Fizemos isso. Fomos parar num cu sujo da Rua Apeninos. Tentamos chamar táxi pelos aplicativos – não tinha.

Acabou a bateria do meu telefone. Acabou a bateria do telefone da Mary.

Aí passou um táxi!

O motorista, simpaticíssimo, veio no caminho todo falando mal do governo. E contou que a falta de táxis na cidade se devia basicamente ao fato de que centenas, milhares de seus colegas, haviam deixado os carros em casa e ido para a Paulista pedir fora Dilma.

13 de março de 2015

Mary e eu não estamos aí nessa foto de Daniel Teixeira/Estadão, que é uma beleza de um poema. Nessa hora, estávamos andando numa das transversais, ou então numa das paralelas… 

16 Comentários para “Fizemos a nossa parte. Agora ajam, excelências”

  1. O governo da presidente Dilma Rousseff está de joelhos à espera do golpe final, mostrando que a estratégia da troika deu certo no que se refere à luta pelo poder. O problema é que a simples troca de governantes não resolve o problema da corrupção institucionalizada. Se a operação Lava Jato se esgotar na punição de corruptos e corruptores o sistema que deu origem a escândalos tipo mensalão e petrolão permanecerá intacto e ressurgirá dentro de algum tempo.

    O esforço para criar uma consciência coletiva contrária à corrupção depende da conquista de corações e mentes para uma nova cultura político-social que só poderá ser desenvolvida com o uso de estratégias de informação. Mais do que leis e punições é necessária uma mudança global de atitudes diante da corrupção política e da impunidade. Se ficarmos apenas na troca de governantes, a operação Lava Jato ficará marcada como uma desforra eleitoral em vez de se transformar num marco na vida do país.

  2. Miltinho, isso aí que você perpetrou é uma sopa de letrinhas que não quer dizer nada, que não significa coisa alguma. Você parece gostar tanto do PT que está falando que nem a Dilma,.
    Um abraço fraterno.
    Sérgio

  3. Pela contagem do Datafolha, o triplex do Lula não tem nem dois andares, Sérgio.

  4. O MBL publicou um agradecimento à empresa israelense Smartlok pelo trabalho de contagem do número de pessoas na Paulista. Segundo o MBL, a empresa contabilizou a quantidade de IPs de celulares presentes. Resultado: 1,480 milhão. Quase igual ao número da PM. Se isso for verdade, é um tremendo avanço no método de contagem. Aposto que os petistas não vão contratar a Smartlok para contar o número de manifestantes que vão conseguir colocar nas ruas. Serão tão poucos que eu mesmo me ofereço para contar, por uns módicos pixulecos.

  5. Aqui em Brasília, se fosse contabilizado pela Smartlok, teríamos um número bem maior do que 100 mil. A Esplanada dos
    Ministérios é muito ampla e nunca parece estar cheia. Além disso, pelo menos um terço das pessoas sempre se protege do sol ficando embaixo das árvores. Uma multidão compacta e totalmente fora das vistas dos helicópteros. Ousei enfrentar o sol e fiquei parecendo um camarão torrado. Mas estou com os que acreditam no Record de 150 mil presentes.

  6. Sérgio, OK! Vocês ganharam mais uma! 8 milhões nas ruas gritando fora Dilma.
    Dilma posta fora, Lula na cadeia, quais as consequências reais? Novas eleições? Ou um golpe jurídico institucional? Uma união Temer +Aécio com FHC na fazenda? Nosso medo é o retrocesso? 31 DE MARÇO se aproxima. Vão festejar com deus, família e propriedade?
    O filme é antigo.Vale a pena ver de novo?

  7. Mas que direita, que esquerda, Miltinho! Pare de pensar nessa coisa maniqueista de esquerda x direita, do tempo da Revolução Francesa. Não estamos mais em 1789, nem em 1917, Miltinho. De lá para cá já houve 1990, o Muro caiu, a União Soviética ruiu feito castelo de cartas.

    Acorde, Miltinho!
    Faça um aggiornamento, como o Partido Comunista da Itália fez, como o PCB fez.

    Um abraço aqui do coxinha direitista elitista fã de branco de zôio azul.
    Sérgio

  8. “É dever da inteligência dessacralizar as vacas, mas não sem antes ordenhá-las dia a dia, e sem jamais tomá-las por mulas”.

    Airton Paschoa

  9. Vaz, isso aí que você perpetrou às 15:22 é uma “sopa de letrinhas que não quer dizer nada, que não significa coisa alguma”.

    Melhor não comentar nesta página. O Vaz e o Toledo estão muito festivos, mui fechados a alguma nova ideia ou análise. O Vaz decidiu que não existem direita nem esquerda.

    P.S. O comentário mais adulto foi o n.º 1.

  10. Os que creem que não há mais direita ou esquerda são os mesmos a negar a ideia de centro-esquerda ou outros formatos.

    Plenamente apartados da realidade.

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