Serão milhares ou milhões. E não é isso que importa. As manifestações deste domingo têm tudo para ir muito além dos pixulecos, do fora Dilma, fora PT, fora corrupção. Nelas estão as apostas de redenção do país, mergulhado em profunda recessão econômica, afogado política e moralmente.
Não por outro motivo, todos os acontecimentos da atribulada semana que passou se vincularam ao domingo 13. E também os futuros, como a conclusão, pelo Supremo, do rito do impeachment, marcado para a próxima quarta-feira.
Lula, que já havia incorporado o mártir na sexta-feira, 4, quando foi levado coercitivamente para depor no âmbito da Lava-Jato, se dedicou a aprofundar a vitimização. Levou sua dramatização às rodas de poder da República, em reuniões com a presidente Dilma Rousseff e com a cúpula do Senado – também enrolada nas investigações sobre a roubalheira na Petrobras. E continuou a incentivar a presença de suas tropas nas ruas.
O presidente do PT, Rui Falcão, chegou a ir ao Planalto explicar, oficialmente, que manifestações pró-Lula e contra o impeachment iriam ocupar os mesmos locais já reservados há mais de dois meses pelos anti-Dilma. Diante do temor de que a briga de torcidas virasse batalha de fato, recuou no mesmo dia.
Com ritmo esquizofrênico, os mesmos apoiadores convocados para guerra pela manhã tiveram de dar baixa oficial à tarde.
Ciente da direção do vento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que até então evitara qualquer vinculação com atos contrários ao governo federal, tirou a sua casquinha. Não só informou que proibiria a aproximação dos pró-Dilma e Lula, como anunciou presença na Avenida Paulista.
Na quinta-feira, o pedido de prisão preventiva de Lula acabou ofuscando a bem fundamentada denúncia do Ministério Público de São Paulo sobre o tríplex do Guarujá. Reabriu a discussão em torno dos riscos de embate neste domingo e fez com que oposição e governo se unissem no ataque à peça.
Até aí – ainda que por vezes leviano -, tudo se encaixou dentro do jogo de dar e esticar a corda, de saber ou não aproveitar o desgaste de um lado e do outro depois que o PT dividiu o país em “nós” e “eles”.
Mas Dilma, sempre ela, abusou do direito de confundir as bolas, algo que faz com frequência.
Primeiro, garantiu que não deixará o governo, com a hilária frase “é impossível que eu me renuncie”. Depois, ao criticar a cautelar contra Lula, destituiu-se de seu cargo: “é um ato que ultrapassa o bom senso. Um ato de injustiça. É um absurdo que um país como nosso assista calmamente um ato desses contra uma liderança política responsável por grandes transformações no país. Respeitado internacionalmente. O governo repudia em gênero, número e grau esse ato praticado contra o presidente Lula.”
Desrespeitou as instituições, ao atribuir mérito a algo que está nas mãos da Justiça, e o conceito republicano de igualdade diante às leis, colocando Lula acima dos comuns. Algo que até se admite em um militante errático, jamais em um presidente da República.
E mais: ao considerar absurdo que o país assista “calmamente” ao ato contra o ex, colocou lenha na fogueira. O que queria ela? Incendiar as ruas? A frase é pólvora pura. Só não é um perigo porque Dilma não lidera nada nem ninguém.
Não tem compromisso algum com o que disse um minuto antes. Talvez isso explique sua confusão mental, o desentendimento permanente que ela tem com as palavras.
Seus ditos têm-se como desditos.
Incita ódio logo depois de pedir paz e de revelar temor quanto às manifestações de hoje. Justifica a ausência na festa dos 36 anos do PT dizendo que não governa “só para o PT”, mas para “204 milhões de brasileiros” e usa fundos públicos para prestar solidariedade ao padrinho. Coloca o Estado à mercê de Lula, que dele pode fazer o que bem quiser. Se precisar virar ministro, vira. Se preferir uma embaixada, terá. Se quiser se safar…
É aqui, exatamente aqui, que entra o coro das ruas.
Serão milhares ou milhões. Não importa. Camisetas e bandeiras verde-amarelas, apitos, pixulecos. Contra Dilma, Lula, o PT. Contra a corrupção, a canalhice, a mentira. A favor do Brasil.
Li toda a delação premiada do Senador Delcídio Amaral. Se tudo o que ele diz for verdade, o que precisa ver investigado de forma imparcial e serena, não restará muito do atual quadro partidário brasileiro, estando selado o comboio rumo ao brejo das almas integrado por PT, PMDB, PSDB, DEM, PP. Todos saem muito enlameados desse processo.
Abstraída a responsabilização individual de cada um, o que deve ser feito de acordo com o devido processo legal, respeitadas todas as garantias constitucionais, sem uso político das investigações, vai ser preciso reinventar o modo de fazer política no Brasil.
E o risco que corremos nesse momentos são dois:
a) a apuração seletiva para subverter o resultado das eleições, entregando o poder de bandeja para os sucessores constitucionais da Presidente da República ou para alguém de “consenso” entre as forças oposicionistas, igualmente envolvidas em todas as denúncias; nesse cenário, a “turma de sempre” livra-se do PT para que tudo permaneça como sempre foi, mas sem as “concessões” ao social que tanto “desistimulam os investimentos”, como preconizado na agenda que o PMDB vem sugerindo nas últimas semanas;
b) limpeza geral no quadro partidário nacional, abrindo espaço para o surgimento de um salvador da pátria, “contra tudo o que aí está”, como ocorreu com a ascensão do megacorrupto Berlusconi, após a Operação Mãos Limpas na Itália.
Os dois cenários são muito preocupantes para a democracia.
Se há uma luz no fim desse túnel estreito e escuro, é a defesa intransigente da Constituição e do Estado Democrático de Direito, garantindo a travessia nesse momento difícil, e a mobilização das forças progressistas na construção de um modelo pós-petista que garanta e aprofunde as conquistas sociais a partir de uma nova forma de fazer política desvencilhada do domínio privado sobre os assuntos de interesse da sociedade, em que a política liberte-se do mercado. Afinal, é dessa promiscuidade que surgem todas as formas de corrupção.
Não é nada fácil, mas não vejo outro caminho.
Apoiado, Miltinho…
(Zaidan com discurso salvacionista)
Tabela de implicância:
devemos implicar com | sem implicar com
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a cúpula petista o PT
empreiteiras os estádios da Copa
Tabela de implicância n.º 2:
devemos implicar com ______ | ______ sem implicar com
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o sistema político ______________ mudanças orçamentárias menores
US Department of State ____________ A Lava-Jato