Em seu primeiro show em Sampa, Regina Dias, cantora veterana, mais de 30 anos de carreira, correu o risco de misturar Michel Legrand com Bia Mestriner. Stevie Wonder com João Pernambuco e Marco Araújo. Kurt Weill, o parceiro de Bertold Brech, com a dupla Clarisse Grava-Felipe Radicetti.
Correr o risco. Os artistas que, em vez de trilhar sempre as mesmas velhas estradas que todo mundo já trilhou, preferem correr o risco, ah, esses são os imprescindíveis.
Regina Dias poderia perfeitamente se ater ao já de há muito conhecido. Sua interpretação de “Fotografia”, letra e música de Tom, é uma maravilha. Sua releitura de “Influência do jazz”, de Carlinhos Lyra, é, em primeiro lugar, muito bem-vinda, já que a canção não tem sido lembrada como merece, e, em segundo, maravilhosa, alegre, expansiva, comunicativa.
Regina Dias demonstra influência de Elis. É visível, é audível de cara. Já fez shows cantando o repertório de Elis – em outros, cantou o repertório de Maysa.
Eu falava de correr riscos. Se quisesse não correr riscos, Regina Dias ficaria no repertório de Elis, nos clássicos da bossa nova, nos clássicos da MPB. Se optasse por essa estrada mais fácil, talvez já fosse muito mais reconhecida do que é.
Como fez no início da carreira a carioca Olivia Byington, uma das melhores, entre tantas centenas de cantoras brasileiras, a paulista de Ribeirão Preto Regina Dias optou por correr o risco. Fez um CD basicamente de músicas de jovens ainda pouco conhecidos ou simplesmente desconhecidos, gente que mandou fitas para ela com suas músicas por saber que ela participava de festivais no interior de São Paulo.
Ao gravar seu primeiro CD, correu todos os riscos: praticamente só escolheu canções novas, de autores desconhecidos. Fez um álbum de uma certa forma conceitual, ilustrado pelas pinturas de sua tia, a artista plástica Odilla Mestriner. O próprio título do disco, Fantástico Urbano, remete a uma obra da artista plástica – por sua vez elogiada em uma linda canção da irmã da cantora, Bia Mestriner.
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Regina Dias fez seu primeiro show em São Paulo em um bar da Vila Mariana, acompanhada por um trio jazz/bossa nova, piano, baixo, bateria, formado por Osmar Barutti, Frank Herzberg e uma absolutamente incrível Lilian Carmona. Meu, que baterista de mãos e baquetas cheias, essa senhora! Que extraordinário músico esse Osmar Barutti!
Foi uma beleza de show. Na abertura, o trio fez uma ótima versão do clássico “Caravan”, de Juan Tizol, gravada por Duke Ellington em 1936.
O mestre de cerimônias foi o Bira, o músico do conjunto que acompanha Jô Soares há muitos anos. Bira apresentou Regina Dias ao público, com todos os superlativos possíveis.
No repertório, como foi dito acima, ela mesclou canções do seu CD com outras bem conhecidas. Assim, cantou “Fantástico Urbano” (Bia Metriner), “Senhor Compositor (João Pernambuco-Marco Araújo) e “Marrento” (Clarisse Grava-Felipe Radicetti), e também, além das já citadas “Influência do Jazz” e “Fotografia”, “Le Récit de Cassard” (Michel Legrand-Jacques Demy, do filme Les Parapluies de Cherbourg) e “Speak Low” (Kurt Weill-Ogden Nash), entre outras.
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Mary e eu nos emocionamos profundamente com o show de Regina Dias.
Nos maravilhamos ao ver de perto como essa moça é simpática, de uma alegria absolutamente contagiante.
A impressão que Regina Dias dá é que, assim como Obelix, caiu no caldeirão quando era bebê. Ela, no caldeirão da simpatia e da alegria, bem entendido…
E ficamos nos perguntando como pode haver tantas cantoras famosas nacionalmente que não têm um décimo, um centésimo do talento dessa cantora maravilhosa.
26 de março de 2015
Quando e onde foi? primeiro show em São Paulo. Vai continuar?
Queremos Regina Dias no You Tube já! Vou procurar, pra ver se tem…