Bem ao contrário de mim, que sou esporrento, boquirroto, expansivo demais, elefante em loja de porcelana, a mãe de Marina é educada, polida, discreta, low profile. Fala baixo, e pouco, e sempre nos momentos certos. Jamais peca pelo excesso nos quesitos negativos – só nos bons.
A mãe dela e eu costumávamos brincar: onde foi que nós erramos?
Deve ser a natural rebeldia, os filhos sempre fazem questão de ser o contrário dos pais. No caso da minha filha, o contrário do pai.
Não em tudo. Em algumas coisas básicas ela bem que se parece comigo, sim. Mas num monte de coisas ela é bem o oposto.
Postar no Facebook, por exemplo. É cuidadosa, cautelosa, low profile. Posta pouco.
Não que seja paranóica. Não é.
Em tudo o que diz respeito a Marina, minha filha – assim como o Carlos – é cautelosa, cuidadosa, meticulosa, atenta, severa, firme – mas na medida certa, na medida exata, sem exagero, sem paranóia.
Ela e o Carlos dizem muito “não” para Marina, graças ao bom Deus. Criança educada é criança que ouve pai e mãe dizerem “não”.
Ela nunca reclama que eu exponho Marina demais no Face.
Deve seguramente achar que eu exagero, talvez até fique um pouquinho preocupada – mas não cobra de mim maior cuidado. (Quem sabe talvez no fundo, no fundo, até goste que eu exagere? Vai saber…)
Bem. Na segunda agora postei uma foto de Marina feita pela Cláudia na sexta passada. A foto é ótima, feliz, Marina está com uma expressão alegre, está de pé, de vestidinho, lindinha, encantadora, doce. Foi um absoluto sucesso. Um monte de gente curtiu, um monte de gente comentou.
Entre os comentários, teve um da minha amiga querida, minha irmã de coração Vera Siqueira. Ela falou do “olhar herdado da mãe”. (Vera cuidou da mãe de Marina, e também da avó de Marina.)
O comentário da Vera me desafiou a pesquisar nas minhas fotos da mãe da Marina quando era garotinha. Volta e meia faço isso – procuro no meu arquivo fotos da minha filha em que ela está parecida com a filha dela.
Achei uma foto clássica (como ela diria), ela de pé, diante da porta do prédio da João Moura em que ela morou até os 15 anos. É uma foto clássica e histórica: era o primeiro dia de escola dela. (Dá para ver, refletidos no vidro da porta, o pai ajoelhado, fazendo a foto, e a mãe de pé.)
Aí publiquei essa foto antiga como comentário ao post da foto de Marina feita sexta passada pela Cláudia.
Minha filha, a discreta, a low profile, a que posta pouco, a que fala pouco, a que jamais, ja-mais peca pela excesso nos quesitos negativos, não teve dúvida. Rapidissimamente, como um raio, em segundos, produziu um combo das duas fotos, a dela que o paiê fez lá atrás, no primeiro dia de escola dela, com a que a Cláudia fez agora de Marina.
Tomou o cuidado de transformar em P&B a foto recentíssima.
E postou no Face o combo com as duas fotos, com apenas uma palavra como título, como legenda, como texto explicativo, como tudo. Uma palavra e um irônico, sapeca sinal de interrogação: “Parecidas?”
***
O post me deixou bobão. Me emocionou.
Me emociona cada vez que olho para ele.
Fiquei pensando: vou inventar um texto qualquer para ter a desculpa de botar o combo da Fê aqui.
É como eu escrevi aqui outro dia, Fia: você é a pessoa que mais admiro na vida.
28 e 29/10/2014
Foto da esquerda: Sérgio Vaz.
Foto da direita: Cláudia Rodrigues.
Combo: Fê Bêla.
Parecidas? Quase iguais! Lindas, charmosas, simpáticas!
Uma beijoca em cada uma com o carinho da “tia-bisa” Maria Helena
Silva e Bela, belas e silvas.