Nunca houve governo tão incompetente (16)

É preciso acabar de uma vez por todas com a lenda segundo a qual a presidente Dilma Rousseff enfrenta imensas dificuldades políticas porque não é afeita ao varejo das negociações com o Congresso e porque ela tampouco se anima a se expor aos eleitores em busca de popularidade.

O desastre de sua presidência não resulta dessas características, e sim de sua incontestável incapacidade de diagnosticar os problemas do País e de ministrar-lhes os remédios adequados. A esta altura, a maioria absoluta dos brasileiros, de todas as classes sociais, já se deu conta de que o problema de Dilma não é sua reclusão ou sua ojeriza aos políticos, mas simplesmente sua incompetência. Prometeram-lhes uma “gerentona” e lhes entregaram uma estagiária.

Portanto, tende a ser inútil a mais nova ofensiva de comunicação planejada pela assessoria da presidente com o objetivo de reverter o mau humor do País em relação ao governo petista. Inútil porque, enquanto se tenta mostrar uma Dilma mais “humana”, que é o que pretendem os marqueteiros do Planalto, conforme revelado em recente reportagem do Estado, os problemas concretos que resultam de sua má gestão continuarão a assombrar os brasileiros na vida real, especialmente o desemprego, a queda da renda e a inflação.
A mudança na comunicação de Dilma é tratada como questão de urgência urgentíssima, pois a pressão sobre a presidente é intensa. Estão programadas para o dia 16 de agosto manifestações que, a julgar pela pronunciada queda de popularidade da presidente, devem ter grande afluência e visibilidade. Além disso, crescem as suspeitas de que as falcatruas constatadas pela Operação Lava Jato podem ter ajudado a irrigar as campanhas eleitorais petistas, inclusive a de Dilma. E há também a percepção de que a irresponsabilidade fiscal da presidente ao longo de seu primeiro mandato, maquiada por truques contábeis, pode resultar em um processo que comprometa de vez o seu mandato. Tudo isso se dá em meio à certeza de que sua base no Congresso é apenas nominal, não representando nenhuma garantia de sustentação, especialmente em meio ao azedume da opinião pública nacional com o espantoso escândalo de corrupção na Petrobrás e com o desastre na economia.
Anuncia-se que o novo arsenal de comunicação de Dilma incluirá a participação da presidente em programas populares de TV e também a criação de um site chamado Dialoga Brasil, em que ministros responderão a dúvidas, sugestões e críticas dos internautas sobre programas do governo. Além disso, Dilma pretende fazer um giro por cidades do Nordeste com a difícil missão de tentar demonstrar que ainda tem popularidade – ela teve expressiva votação na região na eleição de 2014, mas mesmo lá, segundo as últimas pesquisas, a desaprovação a seu governo disparou.
As recentes tentativas de Dilma para melhorar sua imagem foram feitas a partir de iniciativas pessoais, com resultados embaraçosos – ela chegou a saudar a mandioca e a elogiar a “mulher sapiens” em um discurso. Além disso, ao dizer que defenderia seu mandato “com unhas e dentes”, Dilma trouxe o tema do impeachment definitivamente para a pauta política. Até os áulicos da presidente consideraram essas manifestações desastrosas.
Agora, porém, a mobilização do Planalto parece se dar de acordo com as diretrizes de seu padrinho, o ex-presidente Lula, que várias vezes cobrou de Dilma que viajasse mais pelo País e encostasse “a cabeça no ombro do povo” para ouvir suas queixas. Lula também pretende viajar pelo Nordeste e convencer os movimentos sociais a se mobilizar na defesa de sua afilhada. A estratégia para “vender” um governo ativo, com uma “agenda positiva”, foi combinada por Lula com Dilma em um encontro no Alvorada na semana passada, segundo o jornal O Globo.
Dilma, Lula e os petistas agarram-se assim à crença de que basta melhorar a comunicação com os eleitores para que esse combalido governo comece a respirar e a dar a volta por cima. De fato, a atividade política é baseada em imagem, marketing e slogans, mas, como mostram as agruras de Dilma, só isso não é suficiente: se a embalagem do produto vendido estiver vazia, o consumidor se sentirá enganado e não tornará a comprá-lo.

Este editorial foi publicado pelo Estadão em 27/7/2015. 

Para ler o texto anterior desta série:

O governo Dilma é um poço de contradição, escreve Míriam Leitão. 

 

2 Comentários para “Nunca houve governo tão incompetente (16)”

  1. Eu a considero uma pessoa honrada.

    Em entrevista a revista alemã, Fernando Henrique Cardoso afirma que escândalos começaram no governo Lula, a quem ele atribui responsabilidade política pela atual crise no Brasil.

    Em entrevista à revista alemã de economia Capital, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a presidente Dilma Rousseff, afirmando que ela não está envolvida no escândalo de corrupção na Petrobras.

    “Não, não diretamente. Mas o partido dela, sim, claro. O tesoureiro está na cadeia”, afirma FHC em entrevista publicada – em alemão – na edição deste sábado (01/08) da revista. “Eu a considero uma pessoa honrada, e eu não tenho nenhuma consideração por ódio na política, também não pelo ódio dentro do meu partido, [ódio] que se volta agora contra o PT.”

    FHC atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a responsabilidade política pelo escândalo de corrupção na Petrobras. “Os escândalos começaram no governo dele”, argumenta. “Tudo começou bem antes, em 2004, com o Lula, com o escândalo do mensalão.”

    Questionado se Lula estaria envolvido, FHC responde: “Não sei em que medida. Politicamente responsável ele é com certeza. Os escândalos começaram no governo dele”.

    O ex-presidente, uma das principais lideranças do PSDB, afirma que era impossível que Lula não soubesse do mensalão. “Para colocá-lo atrás das grades, é necessário haver algo muito concreto. Talvez ele tenha que depor como testemunha. Isso já seria suficientemente desmoralizante”, comenta.

    Mas FHC afirma que seria ir longe demais colocar Lula na cadeia: “Isso dividiria o país. Lula é um líder popular. Não se deve quebrar esse símbolo, mesmo que isso fosse vantajoso para o meu próprio partido. É necessário sempre ter em mente o futuro do país.”

    Em outro ponto da entrevista, FHC elogia Lula. “Ele certamente tem muitos méritos e uma história pessoal emocionante. Um trabalhador humilde que conseguiu ser presidente da sétima maior economia do mundo.”

    Mais adiante, FHC afirma que Lula era como um Cristo. “Eles fizeram dele um deus, mas ele apenas levou adiante a minha política.”

    FHC diz ainda que há um lado bom na atual crise. “Os cidadãos veem: as instituições funcionam – Ministério Público, Polícia Federal, toda essa operação Lava Jato.

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