Nunca houve governo tão incompetente (28)

O ano de 2015 termina com o país afundado em uma crise econômica absolutamente sem precedentes, como resultado da insanidade do desgoverno Dilma Rousseff.

Os números são todos assustadores.

Foram fechados 945.363 postos de trabalho de janeiro a novembro. No trimestre encerrado em agosto, havia, segundo o IBGE, 8,8 milhões de pessoas desempregadas no país. São – como disse editorial do Estadão no dia 20/12 – “as vítimas diretas da aventura populista imposta ao País nos últimos 13 anos e que agora cobra seu preço, e o faz diretamente daqueles que o PT sempre disse proteger: os trabalhadores”.

Segundo as projeções de economistas, o PIB, Produto Interno Bruto, deve fechar o ano em queda entre 3,5% e 4%. Será, com toda certeza, um dos piores resultados de todo o mundo.

O IPCA – o índice oficial de inflação – já subiu 10,71%, bem mais que o dobro da meta de 4,5%. É o pior resultado desde a implantação do Plano Real – que, é sempre bom lembrar, o PT combateu.

As contas públicas, que o Brasil levou décadas para pôr em ordem, estão completamente desarranjadas. A dívida pública estava, em setembro, no número absurdo de R$ 2,734 trilhões. O endividamento do governo federal cresceu assustadoramente ao longo dos quatro primeiros anos de Dilma e não parou de crescer este ano, porque o ajuste fiscal que era para ter sido feito com Joaquim Levy na Fazenda não chegou a ser executado, por fraqueza do governo no Congresso, por falta de empenho da própria presidente e pela oposição firme de seu partido, o PT.

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Inflação em alta como não acontecia desde a implantação do Plano Real, recessão profunda, desemprego em alta, contas públicas em frangalhos. É o pior dos mundos.

Mas, com Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda, uma coisa é certa: vai piorar. Vai piorar muito.

Ainda vamos ter saudades de 2015.

Os sinais já começaram a surgir. Apesar das tentativas do novo ministro de acalmar o mercado, insistindo em que o governo cuidará da situação fiscal, o dólar fechou nesta segunda-feira, 21, a R$ 4,02. O real foi a moeda que mais se desvalorizou em todo o mundo, ao longo de 2015.

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É como escreveu a jornalista Magda David Hercheui: “Vai dar muito errado. Resolveram dobrar a aposta na direção errada. Logo virão o terceiro rebaixamento das agências de risco, a saída de capital do Brasil, o aumento da inflação. Dependendo da crise politica – se Dilma ficar até o final – pode aumentar risco de calote da dívida também. Sim, calote. Sem exagero.”.

Como escreveu o jornalista Carlos Marchi: “Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda? Anotem aí e depois me cobrem: vai dar errado. O Brasil vai entrar num buraco sem fundo. Vai desorganizar toda a economia. Inflação, juros e dólar subindo sem parar.”

Como sintetizou o leitor Mário Rubens Costa no Fórum dos Leitores do Estadão: “Dilma com Mantega foi um desastre. Dilma não deixou Levy consertar o caos. Dilma com Barbosa é o par perfeito para a derrocada final.”

Antes mesmo que fosse anunciado oficialmente, na sexta-feira, 18, Roberto Pompeu de Toledo escreveu para sua coluna da última página da revista Veja desta semana: “Um aperitivo do que será um governo Dilma rejuvenescido pela vitória contra o impeachment foi oferecido na semana passada com a decisão de afrouxar a política econômica. Não bastassem a recessão, a inflação de dois dígitos e o rebaixamento da nota pelas agências de risco, o governo ensaia retomar a conhecida trilha do desastre.”

“Que não restem dúvidas: Dilma e seu futuro ministro da Fazenda hão de tomar o que sobrou da casa”, escreveu a economista Monica de Bolle no Estadão no sábado, 19. “Não de forma sorrateira, mas do mesmo modo barulhento e desrespeitoso como o fizeram os intrusos invisíveis de Cortázar. O País haverá de passar por mais tormentas antes que a sobriedade prevaleça. A última cartada de Dilma, dure o tempo que durar, poderá até trazer-nos de volta o cenário mais cruento: aquele em que o Brasil vai ao FMI de chapéu mão.” A íntegra do artigo da economista vai aí abaixo.

Quem é o novo ministro da Fazenda e por que é possível garantir com tanta certeza que a economia vai piorar ainda mais daqui para a frente está explicado, tintim por tintim, na coluna de Miriam Leitão no Globo de sábado, dia 19, cuja íntegra está também abaixo.

E está explicado também nas palavras do próprio Nelson Barbosa, na entrevista exclusiva que deu ao Estadão, publicada no domingo. Ele prometeu “aperfeiçoar a política econômica” para promover a estabilização e a “retomada mais rápida do crescimento”. “Podem ficar tranquilos que, com o tempo necessário, vamos resolver todos os problemas.”

Um sujeito que promete “aperfeiçoar a política econômica” de um partido que já está há 13 anos no poder, e garante que vai “resolver todos os problemas” não pode ser levado a sério.

Pior que isso, só as promessas criminosamente mentirosas contadas na campanha eleitoral de 2014 pela chefe de Barbosa, a presidente da República mais incompetente da História. Como Ancelmo Gois sintetizou, com brilho, em sua coluna de domingo, 20, no Globo: “Dilma, na eleição, prometeu casa, comida e roupa lavada aos brasileiros. Entregou recessão, inflação e desemprego.”

As duas faces

Artigo de Míriam Leitão em O Globo de 19/12/2015

Quando Nelson Barbosa saiu do cargo de secretário executivo do Ministério da Fazenda, em 2013, seguia um plano para voltar como titular. Deixou consolidar a ideia de que entrara em conflito com o ministro Guido Mantega, mas não disse o que os separara. Na Fundação Getúlio Vargas (FGV), sustentou idéias mais ortodoxas e com elas circulou pelo mercado financeiro.

Enquanto trabalhou com o ministro Mantega, sempre defendeu as mesmas idéias que estavam sendo implantadas. Foi um dos ideólogos de coisas como “nova matriz” ou “novo tripé” e muitas vezes foi o porta-voz mais eloquente das idéias implantadas por aquela equipe. Em 2009, ele respondeu com rara violência a um documento oficial do Banco Central, o Relatório de Inflação, que alertava que os gastos públicos das ações anticíclicas poderiam pressionar a inflação e provocar a elevação dos juros.

“Há uma tentativa de terrorismo fiscal para provar uma expectativa de elevação dos juros. Há quem diga que se não voltarmos à política do Estado Mínimo, a situação será insustentável. Isso é o que eu chamo de terrorismo e com terrorista não se negocia”, disse Barbosa, que na época era secretário de Política Econômica de Mantega.

Nos anos em que passou na equipe, ele foi negociador de políticas que causaram enormes rombos às contas públicas, como o chamado Novo Regime Automotivo. Mas o erro que pode lhe custar mais caro foi ter assinado em 15 outubro de 2012 a portaria 357 que adiou por dois anos o pagamento do que o Tesouro devia ao BNDES. Essa portaria foi oficialmente considerada uma pedalada pelo TCU. Por isso o ministro está respondendo ao Tribunal de Contas. Se for considerado responsável ficará inabilitado para funções públicas.

Durante o tempo em que ficou no governo ele defendeu as políticas adotadas, de expansão do gasto, de isenções e subsídios. Disse que a redução das tarifas de energia garantiria a inflação abaixo de 5%. Ao sair do governo em 2013 ele, em uma entrevista em Washington, disse que a política econômica estava errada. Em quatro meses ele passou a ver o que não via e disse que a dívida estava crescendo muito e as tarifas, represadas. Nas conversas que passou a ter com o mercado financeiro, ele defendia ideias como o fim da dupla indexação do salário mínimo.

Durante a campanha eleitoral, fez constantes visitas ao mercado financeiro para defender a presidente Dilma, que foram entendidas como sinal de que ele seria o ministro da Fazenda. Acabou preterido e ficou no Planejamento. Teve com o ministro Joaquim Levy uma relação de dissonância constante. Dentro do governo, ele defendia pontos de vista diferentes, mas não explicitava a divergência. Em uma entrevista que fiz com ele, em 3 de setembro, perguntei se, quando o ministro Joaquim Levy saísse, ele assumiria o Ministério da Fazenda. Negar, ele não negou. Desconversou. Disse que estava focado nas tarefas do Ministério do Planejamento e disposto a ajudar a equipe.

A grande questão em relação a Nelson Barbosa é quem ele realmente é, e no que, de fato, acredita. Ontem (sexta-feira, 18/12) na entrevista ele defendeu o ajuste fiscal, a meta de 0,5% de superávit para o ano que vem, e disse que fará isso em negociação com o Congresso.

O novo ministro da Fazenda tem mostrado apetite para negociar com o Congresso, só não tem tido êxito. Ele listou ontem como sucesso ter aprovado a redução da pensão por morte e a adoção da fórmula 85/95 para a aposentadoria. A verdade é a seguinte: a proposta de pensão por morte, feita pela MP 664, foi o maior tiro no pé da história das propostas do governo. A medida era para economizar um pouco, numa questão lateral da Previdência, mas acabou sendo veículo para o fim do Fator Previdenciário. E, como resposta, o Congresso propôs a fórmula 85/95 que amplia o gasto previdenciário. Barbosa apresentou isso ontem como avanços, mas foi, como define Levy, uma contrarreforma.

Nelson Barbosa conseguiu o que queria. Ele sustentou este ano um discurso paralelo ao do ministro Levy e foi fácil conquistar ouvidos para as suas idéias porque ele e Dilma compartilham visões de mundo. Agora é com ele. Nelson Barbosa terá que dizer com que conjunto de convicções pretende exercer o cargo de ministro da Fazenda.

Casa tomada e arruinada

Artigo de Monica de Bolle no Estadão de 19/12/2015 (*)

O conto Casa Tomada, de Julio Cortázar, talvez seja um dos mais analisados de sua extensa obra de mais de 200 contos e novellas. Não é para menos. Afinal, as alegorias e os símbolos ali tratados se rendem facilmente às interpretações acerca dos rumos populistas e isolacionistas tomados pelo Cone Sul no pós-guerra. Na casa, os dois habitantes são pouco a pouco cercados por intrusos jamais descritos ou vistos – apenas se escutam seus barulhos, a batida da porta, o ruído dos passos, enquanto se enfurnam na casa e a tomam como se sua morada fosse, a despeito dos donos de direito que ali residem. A claustrofobia, a sensação de impotência, a resignação marcam as atitudes dos moradores, conformados com situação que são não capazes de evitar.

Como os personagens de Cortázar está a população brasileira, claustrofóbica, impotente, resignada com a tragédia do desgoverno de Dilma Rousseff. A presidente, que iniciou o seu segundo mandato prometendo a mudança, tentando arrancar a fórceps a esperança do povo para que voltasse a consumir, a confiança do empresário para que voltasse a investir, encerra 2015 deixando para trás um rastro de destruição. É claro que parte dos destroços se deve à dramática disfuncionalidade política do País, alimentada pela sujeira desvelada pela Operação Lava Jato. Porém a demolição de Dilma é também resultado de suas vacilações perversas entre a promoção do ajuste econômico inevitável e a tentação de ceder às suas convicções, amplamente evidenciadas ao longo de seu primeiro mandato.

Lembro-me bem de que, quando do resultado das eleições de outubro de 2014, julgava, como tantos outros economistas, que a presidente iria “redobrar as apostas” em suas políticas fracassadas. Surpresa fiquei quando Dilma chamou Joaquim Levy para chefiar a área econômica de sua equipe, gesto mal interpretado, reconheço. Mal interpretado não porque o ministro escolhido não fosse a pessoa certa para ocupar a casa desarrumada. Credenciais para arrumá-la ele as tinha de sobra. Convicções, também. Faltava, entretanto, o respaldo da governante vacilante. A ausência de apoio da chefe da Nação não tardou a mostrar que o ajuste era órfão de seu pilar mais fundamental. Afinal, que Congresso seria convencido de sua necessidade se a própria presidente jamais se mostrara convicta? Que dirá um Congresso estraçalhado como o que hoje vemos, atônitos.

Diante da notória titubeação presidencial, a casa aos poucos foi tomada. O falso debate desenvolvimentista brasileiro passou a acusar o ajuste que não ocorreu – o ajuste fiscal, que fique claro, não a remoção dos aberrantes congelamentos de preços que deram a tônica à política “dilmista” de 2012 a 2014 – pela queda brutal da atividade econômica. O ajuste que foi sem jamais ter ido virou a válvula de escape daqueles que não conseguem enxergar nas políticas artificiais de estímulo ao consumo e ao crédito o descalabro que hoje assola a economia brasileira. Para esse grupo de pensadores e formadores de opinião, deveríamos estar gastando mais, endividando-nos mais. Eis que, entretanto, a política que advogam é a principal causa da brutal perda de riqueza sofrida pelo País neste último ano.

Mas a economia não aceita abusos ou artificialismos. Ao menos, não por tanto tempo assim. O ano encerra-se com a pior recessão desde 1990, com a inflação beirando os 11% e um rombo escandaloso nas contas públicas, o que pelo segundo ano consecutivo demonstra a falta de respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Agências internacionais de risco têm lá suas vicissitudes, como a presidente da República. Contudo, perante a terra arrasada que é a economia brasileira, não é possível atacá-las. Retiraram o nosso cobiçado grau de investimento, aquele que o ex-presidente Lula chamou, em 2008, de “selo de país sério”. Já dizia o general De Gaulle que sério o Brasil não é. Os números estão aí para comprovar que a falta de diplomacia do líder francês jamais esteve equivocada.

Na esteira dos últimos acontecimentos, da instalação de um processo de impeachment contra a presidente que vacila sem constrangimentos, a constatação: Dilma vai redobrar a aposta. Aquela aposta que pensávamos que faria há um ano, aquela convicção que jamais perdeu acerca dos poderes mágicos da “nova matriz econômica”, de seus derivados, ainda que se tenham provado tóxicos como a lama derramada em Mariana. Para que sobreviva ao início do ano que vem, quando ao processo de impeachment se juntará a alta do desemprego e a extinção de benefícios aprovada pelo Congresso este ano, é preciso reanimar, ainda que por tempo limitado, a moribunda economia. O ensaio já pode ser visto na liberação de recursos do BNDES para a compra de máquinas e equipamentos, na promiscuidade dos empréstimos aos Estados, muitos quebrados, na mudança da meta fiscal. A meta que não virou banda, graças à sensatez de última hora da Comissão Mista do Orçamento.

Que não restem dúvidas: Dilma e seu futuro ministro da Fazenda hão de tomar o que sobrou da casa. Não de forma sorrateira, mas do mesmo modo barulhento e desrespeitoso como o fizeram os intrusos invisíveis de Cortázar. O País haverá de passar por mais tormentas antes que a sobriedade prevaleça. A última cartada de Dilma, dure o tempo que durar, poderá até trazer-nos de volta o cenário mais cruento: aquele em que o Brasil vai ao FMI de chapéu mão. Estaria então encerrado o ciclo dilmista – a presidente já não poderia dizer, como fez em campanha, que não quebrou o País como dissera ter feito o outro, o morador discreto em quem a culpa sempre recai.

Ao ministro Levy sobrou o destino dos personagens de Casa Tomada. Despachada sua equipe, apagará as luzes, nada consigo levará. As chaves, melhor deixá-las na sarjeta. Os demolidores, afinal, não precisam das chaves.

(*) Monica de Bolle é economista, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics

21/12/2015

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4 Comentários para “Nunca houve governo tão incompetente (28)”

  1. Depois de longo e merecido descanso o compilador voltou com a corda toda. Entende muito de música popular e é craque em filmes. Procura deitar cátedra em política mas deixa o tema a desejar, na alcova, em economia roxo de inveja os culhões do collor.
    A frase acima construída “Produto Interno Bruto, deve fechar o ano em queda entre 3,5% e 4%. Será, com toda certeza, um dos piores resultados de todo o mundo”, mostra a sua descontrolável aptidão de militante retardado. Serve bem aos interêsses golpistas de Estadão, Folha, Veja, Época.
    A saga de número 28 se agarra a textos e aceçoria(sic) de candidatos a corvo do ano, premio Lacerda de jornalismo desconstrutivo e de aleivosia de ocasião.
    Só gostaria de comentar que o PIB de 3 Trilhões é conta de aferição de produção de bens e serviços de uma nação e construída dólar a dólar pela produção, leia-se, TRABALHO, INTERNO e BRUTO do povo desta mesma nação. A grande parte deste PIB, diga-se a parte bruta, a maior parte é desigualmente destinada aos bancos, empreiteiras, mineradoras, concessionárias e permissionárias de serviços públicos, agronegócio, etc…ao governo cabem os impostos e estes impostos vão pagar os serviços que deveriam competentemente destinados á sociedade como um todo, verde, amarela ou vermelha, independente da cor da camisa.
    Para falar de economia primeiro deve-se levar em conta o conhecimento político, saber ao menos se situar, para defender corretamente os interesses e os grilhões de sua classe. Seja um coxinha ou um petralha, cada político é compreensível, puxa a sardinha para a sua brasa, levar vantagem exclusivamente em proveito próprio, … Assim falar de interesses populares, emprego é renda é demagogia do governo e da oposição, ambos interessados mais em manter o poder.
    Nelson ou Levy, ao povo tanto faz, continuará o povo a fazer sua obrigação com força, na crença de que o PIB é seu.
    Gostaria que o compilador fizesse o exercício de escrever, em números absolutos, o equivalente representativo de 4% do PIB nacional, vale a pena dar asas a indignação.

  2. OS MOVIMENTOS SOCIAIS versus COXINHAS o golpe se decidirá nas ruas.

    Há um golpe de Estado em curso, mas é difuso. Alastra-se como um câncer, alimentando-se da crise do Lulismo e da deriva neoliberal de Dilma. A chance de combatê-lo seria uma nova aliança

    Por Felipe Amin Filomeno

    A crise política por que passa o Brasil hoje é complexa demais para ser compreendida pelas formulações maniqueístas que predominam nos debates cotidianos. Tanto a tese da presidenta corrupta quanto a tese do golpe cuidadosamente orquestrado pela oposição são demasiado reducionistas. Há um golpe de Estado em curso, mas ele é difuso, paulatino e contingente. O golpismo atual é como um câncer para o governo Dilma: espalha-se de forma sorrateira de um setor para outro da sociedade, ora se retrai por causa de ações do governo e da mobilização de segmentos da sociedade civil, ora se fortalece pela ação dos partidos de oposição, do judiciário partidarizado, da mídia oligopolista e dos especuladores financeiros. É doença oportunista e difícil de tratar.

    A crise política atual não é uma crise do segundo mandato da presidenta Dilma, é um agravamento da crise do Lulismo como conjuntura da economia política brasileira. O primeiro sintoma do esgotamento do Lulismo foi a onda de manifestações de rua ocorrida em 2013, ainda que o conteúdo destas manifestações tenha sido ambíguo e não apenas direcionado contra o governo federal liderado pelo PT. Paradoxalmente, as manifestações de 2013 e a insatisfação corrente de parte da classe média com a administração da presidenta Dilma são, em parte, resultado do desenvolvimento econômico socialmente-inclusivo que ocorreu nos governos do PT. Com a barriga cheia e a carteira de trabalho assinada, os “emergentes” passaram esperar mais do Estado brasileiro. A crise se aprofundou com a persistência da recessão econômica mundial, especialmente com a desaceleração da economia na China e o fim do “boom” das commodities. Depois de uma vitória apertada nas eleições presidenciais e da eleição de um parlamento mais conservador em 2014, a adoção de uma política econômica neoliberal não foi suficiente para acalmar as elites do país, intensificou a recessão econômica e começou a alienar atores que historicamente compunham a base de sustentação social do PT (sindicatos, parte da classe média e movimentos sociais).

    Diante desta crise do Lulismo, táticas que a oposição vinha adotando desde que Lula assumiu a presidência da república passaram a surtir efeito. A primeira tática é a oposição midiática, em que grandes empresas de comunicação realizam uma cobertura jornalística que maximiza os problemas e minimiza os avanços do país e do governo. No mesmo sentido, casos de corrupção envolvendo políticos da oposição quase nunca chegam às manchetes e são logo esquecidos pelos jornalões. Aqui está em jogo a opinião pública. A presidência de Lula sobreviveu ao escândalo do mensalão, mas o mesmo não se pode dizer do segundo mandato de Dilma, diante dos atuais escândalos de corrupção num quadro de crise econômica. A segunda tática é a judicialização da oposição, em que certos atores no Ministério Público, na Polícia Federal, no Tribunal de Contas e no Poder Judiciário intensificam a severidade em processos contra membros do PT ao passo em que relaxam o rigor em processos contra membros dos partidos de oposição. No Congresso Nacional, que provavelmente é a instituição mais desmoralizada do país, a oposição partidária tira vantagem de ambas as táticas e adota as suas próprias. A política de chantagens do presidente da Câmara Eduardo Cunha é exemplo emblemático. Subjacente a tudo isto, está o histórico anti-petismo das elites e da porção conservadora da classe média. Trata-se de preconceito da “casa grande”, levemente contido durante o período de bonança econômica, mas que voltou com força, inclusive com tom macartista, impulsionado pela valorização do dólar (um dos principais “termômetros” da opinião pública da classe média brasileira). Estes vetores, embora contingentes, parecem estar se fortalecendo e convergindo.

    Por um lado, o noticiário extensivo sobre casos de corrupção e a punição de políticos corruptos (às vezes acompanhada de recuperação parcial de recursos públicos desviados) são sinais de fortalecimento das instituições políticas brasileiras. Quem conheceu bem o Brasil anterior ao ano 2000, sabe que hoje o combate à corrupção é muito mais intenso, que o Estado, com todos os seus problemas, é muito mais transparente. Pensar que as notícias de corrupção se proliferam apenas por causa da suposta improbidade do PT é ingenuidade ou viés de oposição. Entretanto, as duas táticas de oposição enfatizadas acima são sinal de que duas instituições fundamentais para o bom funcionamento de uma democracia – a mídia e o judiciário – são débeis no Brasil, pois não tem independência e são partidarizadas.

    TEXTO-MEIO
    Diante da progressão do câncer golpista, o governo precisa tentar novas terapias. Minha aposta é que, no final das contas, são as ruas que definirão o resultado. Se a mobilização das bases históricas de sustentação do PT for igual ou mais forte do que a mobilização da oposição, Dilma terá chances de concluir seu mandato. Lula, o PT, os sindicatos e os movimentos sociais progressistas precisam fazer, rapidamente, uma ameaça crível para a oposição, para o vice-presidente Michel Temer e para os membros vacilantes da “base governista” no Congresso. Precisam demonstrar, nas ruas, que, com um impeachment, o país ingressaria numa situação de caos persistente e que nenhum presidente que substituísse Dilma seria um presidente feliz.

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