Marina tem se mostrado, nestes primeiros dois anos e meio de vida, uma pessoa especialmente carinhosa e gregária. Adora ter amigos, e adora reuni-los. E é de uma fidelidade extraordinária a quem, como diz o poeta, se guarda no lado esquerdo do peito.
Tem a quem puxar, é bem verdade. O pai mantém firmíssimas as amizades da época do colégio, algumas da época do primário. A mãe tem amigas desde o tempo em que a fralda era molhada. Outro dia mesmo encontrou-se com cinco grandes amigas; a que conheceu mais recentemente foi quando tinha 15 anos.
A amizade de Marina com Nina, por exemplo, foi daquelas escritas nas estrelas, combinadas pelos pais antes que as duas nascessem.
Marina se dá muito bem com o Tiago da Ana e do Gabriel, com o Tomazo da Lu, com a Marcela sobrinha do Dani, filha da Juliana, com a Marinona da Bel, com a Isabelle do Gabi e a Ashley da Michelle, com o Gael do prédio e da classe, com um monte de amigas do prédio.
E adora, simplesmente a-do-ra seus amigos de pelúcia e de plástico.
São muitos. Já são quase umas duas dezenas, ou talvez até mais. Sabe, é claro, o nome de cada um deles – em geral, é ela mesma que escolhe os nomes. Sabe quem deu cada um. Adora reuni-los, juntar todos eles.
Essa coisa gregária, Marina demonstrou desde bem cedinho, e partiu tudo dela mesma. Fiquei impressionadíssimo, e escrevi, numa agenda do vô de dezembro do ano passado, quando a pequena estava com ridículos 1 ano e 8 meses:
Primeiro, fez questão de posar para uma foto junto com vários dos amiguinhos. Colocou-os na poltrona da sala, dizendo o nome de cada um, e aí falou: “Marina!” – e sentou-se no cantinho, junto com os amiguinhos, segurando o Elmo no colo.
Depois, resolveu botar todos eles dentro do berço. Não contei quantos eram, mas eram muitos. Deixe ver se me lembro: Elmo, Elza, João, Babu, Pluto, macaquinho Chico azul, a cobra, a Miúda, a Cachinhos Dourados, o piu-piu gigante, o sapo, a arara.
Quando estavam todos dentro do berço, pediu para que eu a colocasse lá, no meio deles. E, com ar de imensa satisfação, exclamou: “Todo mundo!”
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Foi bom reler agora o que escrevi em dezembro de 2014, porque a anotação não deixa margem de dúvida: foi ela que inventou essa coisa de levar os amigos para a sala, botá-los no sofá, e depois sentar-se lá sabendo que vai ser fotografada no meio dos amigos.
No dia 28 de agosto, poucas semanas atrás, anotei:
Logo depois do jantar, deu a voz de comando para pegarmos os amigos, levar os amigos para o sofá. E aí saía correndo em direção ao quarto, dando pulinhos e gritinhos de alegria. No quarto, escolhia dois amigos, eu escolhia outros dois, e ela corria na frente, bem rápida e dando pulinhos e gritinhos, a coisa absolutamente mais alegre e mais fofa do mundo.
Depois que tínhamos levado, digamos, uns 20 amigos, comecei a argumentar com ela que já estava bom, que agora ela bem que podia sentar no sofá com os amigos para eu tirar fotos, mas ela dizia: “Mais amigos, vovô!”
Esvaziamos o quarto. Nunca, em todas as vezes que tínhamos brincado disso, tínhamos levado tantos bonecos e bonecas e carrinhos e livrinhos pro sofá da sala.
Algumas horas atrás, na madrugada do dia 15, o dia em que Marina completa 2 anos e meio, consegui editar as melhores fotos dela com os amigos que eu vinha juntando, e botá-las num álbum no Facebook. Ficou, modéstia bem à parte, já que modéstia não é o meu forte, um álbum maravilhoso. Tem imagens de Marina junto com seus amigos ao longo de todos estes 2 anos e meio. As imagens dela sentadinha no sofá da sala, garanto: aquilo é invenção dela.
Eu apenas executei o álbum que Marina vinha fazendo.
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Marina leva um ou outro amigo para passear, quando vai passear (e ela está sempre passeando). Às vezes leva um ou outro amigo para a escolinha. Às vezes traz um amigo aqui para casa, quando vem visitar vô é vó. Eles caem no chão, ficam cheios de poeira, de areia – e vão todos tomar banho no tanque.
Gosta demais da Pat, uma bonecona de plástico imensa, da Tagarelinha, uma bonequinha de plástico que fala mais de 50 frases, da Cachinhos Dourados, que a gente diz que parece com ela, da Miúda, que também é magrelinha como ela (e a gente sempre lembra da canção de Luiz Melodia, “baby, é magrelinha”, de que a avó Suely gostava). Tem especial afeição pelo Buba, um ursão grandão, e pelo João, um garoto simpático. Sabe que o alce barbudo veio com a Nina o Dani e a Sarah da gelada Minnesota, sabe que o Leo, leãozinho pequeno, é presente do vovô.
Tem imensa afinidade com a Elza, a princesa do Frozen. Acho que trocam confidências, Marina do São Paulo Quenten e Elza do Frozen.
Mas não há amigo mais antigo do que o Elmo.
O papai da Marina fez uma foto histórica dela com o Elmo quando ela tinha meio mês de idade. Os dois estão deitados lado a lado, o Elmo de costas e a pequetitinha virada sobre seu lado esquerdo, e um dedinho dela pousava sobre a face, como se estivesse a pensar sobre a vida o amor a morte.
Quase dois anos e meio mais tarde, a Cláudia fez várias fotos de uma Marina muito mocinha junto do mesmíssimo Elmo. São fotos lindas, maravilhosas.
Marina, como o pai, como a mãe, é um ser que preserva as velhas amizades.
Que absoluta maravilha.
15/9/2015
A foto do alto, da esquerda, Marina bebê do tamanho do Elmo, é do pai, Carlos Bêla. A foto do alto à direita, Marina grandinha ao lado do Elmo, é da Cláudia.
A foto dela minúscula, pensativa, é um clássico! Já mais velha, abraçada ao Elmo, achei seu olhar triste… Será que ela já descobriu que o Elmo não existe?
Um beijo, linda Marina, gosto de ver você sorrindo…
Maria Helena, querida, ela não está tristinha na foto, não… Essa que escolhi é um de uma série de quatro, e nas outras o sorriso dela está bem aberto… Escolhi essa porque achei a expressão dela calma, carinhosa…
Um abraço!
Sérgio