Há uma diferença imensa, colossal, abissal, entre uma manifestação de rua pedindo “fora Dilma” e uma barreira de caminhões fechando uma estrada pedindo “fora Dilma”.
Qualquer manifestação de rua (pacífica, sem violência, é claro, é óbvio) pedindo “fora Dilma” é legítima, faz parte do jogo, da democracia – e, além disso, é mais do que necessária. Domingo, 15/11, vou estar na Avenida Paulista, como estive em 15/3, em 12/4, em 16/8.
Ocupar o gramadão sem fim que fica diante do Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, pedindo “fora Dilma”, não é apenas legítimo – é uma maravilha. É até obrigação de brasiliense bom cidadão.
Caminhoneiro fechar estrada não é legítimo. É ato de violência. Impede um dos direitos mais básicos e fundamentais, o de ir e vir.
Caminhoneiro, ou quem quer que seja – black block, MST, corintiano, palmeirense, flamenguista, fluminense –, fechar estrada não é legítimo. É ato de violência.
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A divisão do país entre nós x eles criada pelo lulo-petismo está fazendo muita gente boa, bem intencionada, deixar de pensar, de ver as coisas com lógica.
Não podemos chamar o MST de bando de criminosos quando eles fecham estrada e aplaudir caminhoneiros quando eles fecham estrada, só porque estão pedindo “fora Dilma”, estão do nosso lado.
Claro: o lulo-petismo sempre fez isso, direto e reto: quando é a turma deles que fecha estrada – e o MST está sempre fechando estrada -, eles não reclamam, de forma alguma. Dizem que é manifestação democrática, são heróis do povo brasileiro. Se é caminhoneiro pedindo “fora Dilma”, eles demonizam. Aos amigos, tudo, aos inimigos, todo o rigor da lei, da polícia, de nova medida provisória.
Mas não é porque eles são assim que devemos ser iguais.
Se formos defender que os fins justificam os meios, então seremos iguais a eles. E não somos. Ou será que somos?
Eu me recuso a ser igual a lulo-petista, ou sequer parecido. Eu não tenho balança e régua com dois pesos e duas medidas, uma para quem está do meu lado, outra para quem está contra mim.
Eu não defendo que os fins justificam os meios.
Eu me recuso a entrar no entendimento de que todo inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Essa é a lógica da barbárie.
Caminhoneiro que fecha estrada não é meu amigo, por mais que eu queira ver Dilma, Lula e tudo o que o lulo-petismo representa pelas costas.
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Postei o texto acima ainda na madrugada da quarta-feira, 11/11. Até então, não tinha ainda lido nada, na imprensa, defendendo esse tipo de posição. O que via eram apenas as declarações do governo contra o movimento dos caminhoneiros e muitos amigos e conhecidos antipetistas defendendo, com imensa alegria – e absoluta falta de lógica –, as barreiras nas estradas feitas pelos caminhoneiros.
Felizmente, nos jornais desta quarta-feira houve textos lúcidos, serenos, nesse mesmo diapasão que defendo.
O Estadão fez um belo editorial, com o título de “O PT prova do próprio veneno”.
Eis aí o trecho que fala especificamente do movimento dos caminhoneiros:
“(…) Há pouco mais de 20 anos, entre maio e junho de 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso enfrentou violenta e irresponsável greve dos petroleiros, comandados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do partido ao qual pertence o ministro. A paralisação foi julgada ilegal pela Justiça do Trabalho, porque em seu espírito ela nada reivindicava senão uma pauta puramente política, como a retirada de propostas que acabavam com o monopólio da Petrobrás e a revogação da lei que instituiu o programa de privatizações. Os petroleiros, secundados por outras categorias, ignoraram a decisão judicial e partiram para a desobediência civil, sofrendo, como consequência, os rigores da lei e uma firme resposta do governo.
“Aquela greve histórica mostrou até que ponto os petistas estavam dispostos a ir para desgastar um governo ao qual se opunham de forma tão renhida. Mais tarde, logo no início do segundo mandato de FHC, o PT e a CUT voltariam a atormentar o presidente, deflagrando pedidos de impeachment e de renúncia. Esse era o padrão petista quando estava na oposição.
“Agora no governo, o PT se queixa do radicalismo do qual o próprio partido se serviu à beça. Não que os caminhoneiros tenham razão em sua reivindicação. Muito ao contrário: ao exigirem a cabeça de Dilma, bloqueando estradas e prejudicando todo o País, esses manifestantes deixaram de ter qualquer legitimidade como representantes em negociações com o governo ou com quem quer que seja, pois sua reivindicação nada tem que ver com questões trabalhistas – e são apenas essas questões que garantem o direito dos trabalhadores à greve. Tudo o mais certamente é abusivo.
“Pode-se dizer que esse momento de crise profunda, do qual se aproveitam forças extremistas – como o próprio PT um dia foi –, está sendo muito didático para o partido que agora tem sob sua responsabilidade a condução do País. Espera-se do governo firmeza para lidar com os irresponsáveis que, aproveitando-se da democracia, nada pretendem a não ser causar tumulto para impor suas causas radicais.”
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Elio Gaspari começou seu artigo desta quarta-feira no Globo e na Folha de S. Paulo abordando o assunto. O título é “A bagunça é um perigo para todos”.
“Uma greve de caminhoneiros pedindo a saída da presidente da República não é uma greve, nem é de caminhoneiros, mas apenas de alguns donos ou motoristas de caminhões que resolvem obstruir estradas. Se fosse greve de caminhoneiros, os veículos ficariam nas garagens. É apenas bagunça. Na hora em que a Receita Federal põe no ar um sistema bichado e ameaça multar suas vítimas caso não cumprissem um prazo maluco, não houve problemas na montagem do sistema. O que houve foi onipotência, pois o programa foi ao ar bichado porque o Serpro, que trabalhava na sua montagem, teve uma greve por tempo indeterminado que durou 29 dias. (Com pagamento dos dias parados, negociando-se a reposição das horas perdidas.) Bagunça.
“Recessão, desemprego e inflação ameaçam a vida dos brasileiros, mas são fenômenos que não têm identidade física. A doutora Dilma, por exemplo, diz que não é responsável por nenhuma dessas ruínas. A bagunça, diferentemente das outras pragas, tem sempre nome e sobrenome. Falando em nome do Comando Nacional do Transporte, o cidadão Ivar Schmidt diz que só negocia “com o próximo governante”.
“Administradores ineptos, bem como provocadores, são riscos da vida. Pela lógica, uns deveriam ser demitidos e os outros, responsabilizados criminalmente. Se isso não acontece, é porque a bagunça vai além da inépcia e das provocações. (…)”
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Também o professor Hubert Alquéres, em seu artigo das quartas-feiras no Blog do Noblat, que é sempre reproduzido aqui neste 50 Anos de Textos, tratou a questão com a lucidez, a ponderação de que este país em crise absurda – econômica, política e social – está precisando tanto:
“Arma-se um cenário extremamente preocupante, de convulsão social, de descrença absoluta no Parlamento e no Poder Executivo, de namoro por segmentos da sociedade, por enquanto minoritários, com saídas antidemocráticas. É aí que mora o perigo.
“A bomba está sendo ativada. Só não a enxerga quem não quer. A greve dos caminhoneiros é mais lenha na fogueira. Brincam com fogo os que insuflam esse movimento paredista, na crença de que por aí vão colocar abaixo o governo Dilma Rousseff.”
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Sempre haverá quem diga, se chegar a ler ao menos as primeiras linhas deste texto, ou apenas o título, que eu sou petista enrustido, ou coisa parecida, apesar de meu irretorquível, inequívoco currículo de murro em ponta de faca contra o lulo-petismo aqui neste site, e também no Facebook e no Twitter.
Dane-se quem não conseguir rebater idéias com idéias.
Mas que a leitura do editorial do Estadão e dos artigos de Elio Gaspari e Hubert Alquéres me fizeram muito bem, não há como negar.
Me sinto menos solitário, bem mais reconfortado.
11/11/2015
Porque este não vai ser o país do ódio generalizado, mesmo que esse seja o sonho de tantos que não conseguiram vencer democraticamente.
BOA CONSTATACAO.
A divisão do país entre nós x eles criada pelo lulo-petismo está fazendo muita gente deixar de pensar, de ver as coisas com lógica.
Domingo, 15/11, vai estar na Avenida Paulista, tire uma SELF da militância tardia.
Um abraco do cavaleiro de la Mancha.
SERVAZ NA AVENIDA.
CANTANDO A FLORISBELA.
Encontrei o Servaz na avenida
De camisa amarela
Cantando a Florisbela, oi, a Florisbela
Convidei-o a voltar pra casa
para a boa companhia
Exibiu-me um sorriso de ironia
Desapareceu no turbilhão da galeria
Não estava nada bom
O meu amigo na verdade
Estava bem mamado
Bem chumbado, atravessado
Foi por aí cambaleando
Se acabando num cordão
reacionário.
Mais tarde o encontrei
Num café zurrapa
La no alto da Lapa
Um direção da reação
Tomando o quarto copo de cachaça
Cuidado política não é cerveja
Voltou às sete horas da manhã
Mas só na quarta feira
Cantando A Jardineira, oi, A Jardineira
pediu ainda zonzo
Um copo d’água com bicarbonato
O meu amigo estava ruim de fato
não caiu na real
E nem fez a auto critica.
Rosnou varias semanas
Despertou mal humorado em 2018
Quis brigar comigo
Que perigo, mas não ligo!
O meu amigo se domina
FHC o fascina, ele é o tal
Por isso não o levo a mal
Pegou a camisa, a camisa amarela
E botou fogo nela
Gosto dele assim
Passada a brincadeira
E ele é quem razão.
A camisa vermelha é o fim.