Ensaio de epitáfio

Estava escrevendo um texto do qual estava gostando muito, mas muito, me sentindo muitíssimo bem, quando, ao ir pegar a terceira pequena dose de um escocês caubói, imaginei o que poderia ser meu epitáfio.

É uma piada interna, uma dessas coisas que, contadas na festa da firma, a mulher do cara da firma não compreende, porque usa códigos, referências, que só quem trabalha ali conhece, entende.

Para entender meu epitáfio, seria preciso saber que no velho Jornal da Tarde havia uma figura folclórica que dizia, para se diferenciar dos demais mortais: “Tem Prêmio Esso aí, garoto? Já foi na Bratislávia?” (Ele havia ganhado um Esso, sim, não me lembro se sozinho ou em grupo, e visitado aquela cidade da então Checoslováquia por onde a Seleção Brasileira passou nos anos 60.)

E que, numa discussão via Twitter com um desses blogueiros que ganham uma grana preta do PT – sujeito que, aliás, foi meu colega de primeiro ano da ECA-USP –, fui chamado por ele de jornalista insignificante.

E que um veterano colega observou que era muito triste esse negócio de eu ter um blog sobre filmes, em que fico escrevendo sobre os filmes dos outros.

Então, agora que a piada não vai ter mais graça alguma, porque já contei todas as inside jokes, lá vai o epitáfio que compus agorinha há pouco, ao pegar a terceira dosícula do veneno que eleva os mortais à categoria Humphrey Bogart:

“Aqui jazz Sérgio Vaz, que não ganhou prêmio algum, sequer foi a Bratslava, era um jornalista insignificante e terminou a vida escrevendo sobre os filmes dos outros. E no entanto foi feliz. R.I.P.”

Os dois zz não são erro de digitação.

É. Não me parece mau o epitáfio.

Não que tenha chegado a hora. Epa! Nada disso. E, aliás, tenho que voltar para o textinho que estava escrevendo e do qual estava gostando muito.

9 de junho de 2015

3 Comentários para “Ensaio de epitáfio”

  1. Inda bem que não JAZZ! A bola quicou mas foi chutada textualmente, já que tudo vira texto segundo Fernanda, PRA FORA!
    Eu, Valdir e Luiz Carlos fiéis seguidores aguardamos a conclusão do tal textinho.

  2. Obrigado, Miltinho!
    O tal textinho está na seção de capricho – vou ler, reler, reler e boto no ar ainda hoje ou no máximo amanhã!
    Um abraço.
    Sérgio

  3. Até ensaio de epitáfio? É cada uma, Miltinho. Eu acho que opinião de blogueiro petista não merece ser citada em lugar nenhum, muito menos no longínquo epitáfio do nosso querido Sérgio Vaz. Vou aproveitar a deixa para contar uma: posso nunca ter ido lá, mas, maníaco que sou por geografia, sei onde fica Bratislava, e até outros lugares de nomes mais esquisitos. Uma vez perguntei para um grupo de turistas, na Alfândega, se eles eram de Bratislava. Fizeram uma festa pelo simples fato de eu saber a capital do país deles. Disseram que todo mundo conhecia Praga, hoje capital da República Tcheca, e antes capital da antiga Tchecoslováquia, mas depois que o país foi separado em dois, na revolução de veludo, poucos sabiam o nome da capital da Eslováquia. Ainda mais no Brasil. Na verdade, fui falar com eles por achar que seria minha única chance na vida de conversar com eslovacos. Quem sabe ainda falo também com Tchecos antes de morrer. Para finalizar, deixo uma sugestão de epitafio-padrão para blogueiros alugados pelo PT: Aqui jaz mais um idiota.

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