Bonjour, Madame Pluvier

A lenda da Sra. Pluvier, uma militante devotada inventada pela imaginação criadora do ator e cantor franco-italiano Yves Montand, ainda que criada na França em 1956 — há 58 anos, portanto — está mais atual do que nunca.

Provavelmente ela foi a inspiradora não confessada da velhinha de Taubaté, a boa senhora crédula que Luis Fernando Verissimo criou durante as patranhas da ditadura militar. Não questionava nada, acreditava em tudo.

Montand, como se sabe, era militante comunista, e a história da senhora Pluvier foi narrada pelo espanhol Jorge Semprún, intelectual e roteirista de cinema, que chegou a ser ministro da Cultura no governo do socialista Felipe González, no livro “A Vida Continua”, onde ele faz um relato dos últimos anos de vida de Montand e de sua última turnê artística pelo mundo, que incluiu uma apresentação no Maracanãzinho,em 1982. (Sobre o livro leia o texto de Sérgio Vaz)

zzyvesSegundo a narrativa de Semprún, a senhora Pluvier nasceu quando “começaram os desvios que afastaram (Montand) do ambiente glacial do comunismo”. ( Ele se refere às revelações dos crimes de Stálin, a repressão às revoltas na Hungria, na Polônia, na Alemanha Oriental, na Checoslováquia, etc.).

A Sra. Pluvier era uma militante devotada, e na imaginação de Montand era “uma mulher simples, fiel e generosa; corajosa e devotada”, e aparecia como secretária de uma célula rural do PCF em Hérault, departamento no interior da França.

“O morceau de bravoure” — relata Semprún no livro — “era, na maioria das vezes, o relato que ela fazia pela boca de Montand, de sua última viagem à Rússia, ao país radioso do socialismo. A Sra. Pluvier tinha respostas para tudo” (…) Alguém se queixava de que não havia áreas suficientes nas áreas rurais da Rússia? Mas vejamos o que dizia a Sra. Pluvier, isso é deliberado. É para preservar a beleza natural da natureza, para obrigar os colcozianos ao exercício salutar da caminhada a pé, para evitar a poluição de gases que o poder socialista fabrica poucos carros e constrói poucas estradas”.

Alguém ironizava o fato de não haver imprensa de opinião na URSS? “Mas que exigência tola!”, respondia a Sra. Pluvier. “Se existem, na França, jornais de todas as opiniões é porque a mentira lá é livre. Se não existisse nosso querido e valoroso L’ Humanité (jornal oficial do PCF), difundido pelos não menos queridos e valorosos companheiros, as massas trabalhadoras poderiam conhecer, ainda que parcialmente, a verdade? No dia em que o socialismo triunfar na França haverá apenas uma verdade: a verdade una e indivisível. Haverá, então, apenas um só jornal, L’Humanité. E depois, o jornal dos nossos camaradas soviéticos não se chama precisamente Pravda? A verdade, portanto, é bico calado!”

E por aí vai a fiel e dedicada Sra. Pluvier. Não se espante se você a encontrar por aí, viva, falando, militando e escrevendo em português, professando a verdade única.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 18/4/2014.

Um comentário para “Bonjour, Madame Pluvier”

  1. CAÇA AOS COMUNISTAS!

    Incansável a caça aos comunistas. Incrível como associam ideais socialistas aos regimes totalitários instalados na Rússia, na Coreia, na China, Cuba, etc… Os comunistas e seus partidos, na França de Montand, na Espanha de Semprun, no Brasil de Niemayer, usaram o socialismo sempre como retórica para justificar insensatos e reprováveis atos pela luta pelo poder e o exercício do totalitarismo de esquerda.
    Yves Montand se afastou do comunismo hereditário, mas sempre manifestou crença no socialismo, não se vendeu aos ianques, mas também nunca professou sua crença ao capitalismo e a direita também ,opressora e totalitária.

    O bom texto de Sérgio Vaz, tendencioso e equivocado, mostra que o socialismo permanece em Montand, Semprun, Niemayer, Chico, Resnais, Costa Gravas, Veríssimo, e outros menos conhecidos contra o mundo desigual em que vivemos e contra regimes dos autoritários que insistem em impor suas verdades a humanidade.

    É de Sérgio Vaz a frase: “Se vivessem mais cem anos, Verissimo e Chico, mais Niemeyer, seriam muito provavelmente os únicos brasileiros a acreditarem no lulo-petismo”.
    Incrível como Sergio Vaz associa o lulo-petismo aos comunistas, e, por consequência ao socialismo professado por Gabriel Garcia Marques”.

    Ainda…
    “García Márquez, grande escritor, fascinado pelos poderes dos caudilhos escritor de um grande livro, Cem Anos de Solidão, que obteve o Prêmio Nobel pouco depois da libertação de Valladares, mas curioso personagem fascinado pelos poderes dos caudilhos sul-americanos, como qualquer herói de seus próprios romances”.

    Os comunistas comem criancinhas, ainda existem e permanecem embaixo das camas de alguns.

    Pelo visto a morte do escritor inspirou as novas versões da Madame Pluvier.

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