Falou na TV, ganhou um Ministério

Por ter cumprido uma tarefa partidária, Marta Suplicy recebeu um Ministério.

Esse é um exemplo chocante, espantoso, apavorante, de como é profunda a confusão que o lulo-petismo faz entre partido e Estado.

À imagem e semelhança do pensamento de Luiz Inácio, o Rei Sol, para o lulo-petismo o Estado é Eles.

A estrutura do Estado brasileiro pertence a eles, por direito, já que gente deles foi eleita para a Presidência. É assim que eles raciocinam.

Não estão lá de passagem, para cumprir um mandato, dois mandatos, três mandatos, talvez quatro ou dez mandatos. O Estado brasileiro pertence a eles.

A Cultura não é o primeiro Ministério ou empresa estatal que é entregue a um companheiro por serviços prestados. Muito ao contrário. Diversos companheiros já foram aquinhoados com pedaços da máquina estatal – entre eles vários dos que perderam eleições, e tiveram como prêmio de consolação um naco do Estado.

Mas a nomeação de Marta Suplicy para o Ministério da Cultura uma semana depois de ela finalmente ter concordado em participar da campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, a menos de 30 dias do primeiro turno das eleições, é talvez o exemplo mais nojento da forma com que o lulo-petismo privatizou o Estado brasileiro para si próprio.

Com boa posição nas pesquisas, sentindo-se no direito de ser a candidata do PT à eleição em São Paulo, Marta foi atropelada em sua pretensão pelo macadame Lula. Aí, como é bem de seu estilo, fez beicinho, bateu o pezinho, botou a boca  deseducada e grosseira no trombone. Enfim, depois de muito aglicosado, gravou para Haddad e foi com ele até o Jardim Ângela (onde, aliás, confessou que só vai em tempos de eleição, porque é longe demais).

Ato contínuo (e bota contínuo nisso), virou ministra da Cultura.

Por ter cumprido uma tarefa partidária – gravar uma fala e botar os pés no Jardim Ângela –, Marta Suplicy recebeu um Ministério. Um pedaço do Estado brasileiro.

Onde certamente enfiará seus cupinchas. Boquinhas, bocarras lulo-petistas pagas com os nossos impostos.

Meu Deus do céu e também da terra: se isso não é para deixar o país chocado, o que é que pode chocar este país?

***

Há um segundo ponto chocante nessa nomeação, que foi muito bem levantado pelo jornalista Reinaldo Azevedo.

Marta está abrindo mão de seu mandato de senadora.

Ué: mas não crucificam José Serra por ter aberto mão de parte de seu mandato de prefeito de São Paulo para concorrer ao governo do Estado? Não transformaram isso na principal crítica a ele?

Mentes pouco afeitas ao raciocínio disseram no Twitter: mas um mandato de senador é a mesma coisa que um mandato de prefeito?

E disseram também: mas Marta não prometeu ficar no Senado.

Ora, façam-me o favor.

Ou bem um princípio vale para todos, ou bem não vale para nada.

Mas o lulo-petismo é assim mesmo. Além de ter se apoderado do Estado brasileiro, quer eliminar a lógica.

O único argumento dos lulo-petistas é este: nós fizemos, mas vocês também fizeram.

A questão é que ninguém mais – além deles – privatizou para si próprio o país.

11 de setembro de 2012

4 Comentários para “Falou na TV, ganhou um Ministério”

  1. Não chocou o país não,ainda não danou não,algo mais chocante vem aí!
    Por exemplo a absolvição do Dirceu e Genoíno pelo STF. Acho que vai dar empate, vai dar saia justa, vai dar o que falar, e depois… os embargos infringentes.
    O texto vale pela autoria e indignação de uma viúva do FHC que tem o apoio indignado de ex-amante traída do Lula.

  2. Será tão fundamental o apoio da nova ministra? Coitada de São Paulo. Sem opção entre Hadaad, Russomano e …Serra. Enquanto isto na “primavera carioca” o Marcelo Freixo tem apoios importantes de Caetano e Chico. Pelo menos os cariocas têm opção

  3. Sérgio,

    O ato de compensar o apoio político com dinheiro público ficou conhecido como “mensalão”.

    E o ato de compensar o apoio político com ministérios e outros cargos públicos, como se chama?

    O “mensalão” não acabou, foi aperfeiçoado, virou “governabilidade”. A moeda de troca era entregue na surdina. Agora é publicada em diário oficial.

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