Fotógrafos de jornal, ou repórteres fotográficos, ou foto-repórteres, são no geral ótimas companhias de viagem. Não só para a pauleira da cobertura, mas para os momentos amenos. Mas cuidado: são perigosos e estão armados.
Certa vez, paramos numa churrascaria simplória, para tomar um refrigerante. Meu companheiro era (nada menos que) Reginaldo Manente. Resolvi aliviar a bexiga, como se dizia antigamente, e caminhei para o banheiro. O dono do lugar disse que o banheiro dos homens estava com problemas. Melhor eu usar o das mulheres, que ficava ao lado. Não tinha mulher por ali, explicou.
Entrei, usei, sai… quando piso fora do banheiro dou com o Manente me apontando a câmara. Foto! Não me lembro se essa foi fixada no mural da redação, como era hábito. O fato é que se vê a ilustre pessoa deste profissional saindo por uma porta sobre a qual estava escrito, grande, na parede: Senhoras.
O grande Rolando de Freitas era um perigo em potencial. Estava sempre pronto para uma gozação. Numa viagem pelo interior do País, dormimos numa casa/hotel que não tinha chuveiro. O banho era no quintal, de canequinha. Vi o sacana pelado fingindo que ia tomar o tal banho, mas com a câmara na mão. Reclamei, xinguei e tomei muito cuidado, porque, afinal, eu estava no banho. Assim mesmo o meu posterior foi mostrado em uma grande foto, esta sim fixada na redação.
Heitor Hui, autor de capas na revista Manchete da época de ouro, é um cavalheiro. Mas com sense of humor. Um dia viajamos para Joaquim da Barra, perto da divisa com Minas, atrás de uma mulher que havia escapado de um terremoto no Japão. Achamos a sobrevivente, entrevistei, e ela disse que tinha rezado muito para uma santa cujo nome me escapa.
Fomos então à igreja, porque, uma vez a salvo em sua cidade, a mulher rezava com frequência à frente da imagem da santa, para agradecer. Impunha-se uma foto da fiel com a santa.
Na igreja, a situação se complica. A imagem, não lembro por que, estava guardada. Pedi a uma senhora permissão para levar a santa para seu lugar, perto do altar. Era uma imagem grande, de mais de metro. Carreguei-a como pude e, solícito, a deixei com Heitor e a mulher.
Mais tarde, Heitor me mostrou a foto que fizera: um ladrão de imagens roubando uma santa grande em plena igreja. Quase fui parar novamente no mural da redação.
Com Edward Costa, já tinha vivido certas boas aventuras, como a do peixe com abobrinha roubada de uma plantação que ele preparou para nós, numa viagem de barco. Agora estávamos em Boiçucanga, a velha praia do litoral norte paulista.
Às tantas, cansado, sento num velho banco de madeira, de uma praça, e ponho-me a garatujar anotações no meu bloco. Não ouvi o cléc do disparo da máquina (o obturador de cortina das velhas Nikon operadas com filme fazia esse barulho).
Depois, Edward me mostrou o resultado. Fui fotografado bem embaixo de uma placa, que não tinha notado, com o nome do lugar: Praça da Mentira.
Janeiro de 2011
Tive o privilégio e a honra de viajar com o Valdir. Não fui tão ferino quanto os demais colegas – mas tenho tenho alguns bons registros desse grande companheiro.
Abração Valdir!
Lendo seu texto deu muitas saudades de nossas aventuras por esse Brasil!
Imaginem se os bravos fotógrafos mostrassem as incursões de Valdir pela fronteira Brasil-Paraguai e Mato Grosso adentro. Teriam pelo menos mais meia dúzia de alegres flagrantes tais quais o que ele descreve nesse texto.
Valdir Sanches, ele tem o cheiro da noticia, fizemos uma reportagem da divisão do estado de Goias foram uns 20 dias, de Araguaina ate Porto Naciona de caronas vencendo barreiras sobre seu comando.
Um forte abraço