Hoje, assim que levantei da cama, recebi a noticia da morte do jornalista Reali Jr.
Pra ser sincera, eu não conheci muito o jornalista Reali Jr., conheci mais a pessoa Reali Jr. E é sobre isso que quero falar.Me senti impelida a escrever, mais como uma forma de desabafo.
Não pretendo escrever sobre as habilidades jornalísticas dele, sobre a competência, a honestidade e a integridade dele na hora de levantar e relatar os fatos aos seus ouvintes e leitores. Não. Não quero fazer isso por que acho que sua competência enquanto jornalista é indiscutível. E quem sou eu pra tocar nesse assunto?
Quero falar da pessoa, do ser humano, da criatura boníssima que ele era.
Reali trabalhou com meu pai, o jornalista Sandro Vaia e era amigo da família desde sempre. Vez ou outra nos reuníamos para almoços e jantares em família. Ora aqui em casa, ora na casa deles em São Paulo, ora em Paris. Ok, na verdade em Paris, eu estive com Reali e sua mulher Amélia, uma única vez, numa temporada de dez dias. Eles foram nossos guias pelos Champs Elysées, Louvre e Torre Eiffel. Almoçamos na casa deles e numa noite fria, jantamos num dos restaurantes da moda na época. Pato cru. Eu nojentinha, não consegui comer, e como nao falo um “Si’l vous plaît, asse esse pato” em francês, Amélia educadamente mandou devolver o pato umas 5 vezes até que ele estivesse cozido e aparentemente morto.
Sempre que me lembro dessa história, eu lembro sorrindo, e hoje não tem por que ser diferente.
Numa das vezes que eles vieram aqui em casa, eu estava trabalhando como designer de jóias pra uma loja, e Reali se encantou com as peças e acabou levando todas. Sabendo da proximidade de suas visitas, guardava umas peças pra ele, pois sabia que ele pediria. Sempre levava pulseiras, brincos e colares pras filhas Cris, Lulu, Má e Inha e para as netinhas também. Ele mesmo escolhia as peças, dava palpites, mandava aumentar ou diminuir, porque o braço da menorzinha era muito fininho… enfim escolhia tudo com muito carinho, pensando em cada uma delas. Reali era meu melhor cliente, e o melhor, pagava na hora. rs
Nós pudemos acompanhar de perto todo o sofrimento dele e da família depois do diagnóstico de câncer. Período tenso, claro, com muitos altos e baixos como toda doença. A dedicação da Amélia era impressionate. Dia e noite ao lado dele, às vezes suportando pacientemente suas rabujentices, às vezes, apenas suportando. Normal.
O sonho do Reali era voltar para Paris, mas suas condições físcas não permitiam. Teimoso, chegou a comprar passagem pra ele e pra esposa, por duas vezes, mas os médicos o impediram de ir. Deveriam ter ido.
Daí que ontem, sexta feira, meus pais decidiram que iriam a São Paulo fazer uma visita, já que estavam desde antes do Natal sem vê-lo.
Minha mãe preparou cuidadosamente uma torta diet, daquelas que ele gostava e podia comer (devido a restrição alimentar,não podia comer quase nada). Torta de amêndoas com damasco. Embalou carinhosamente e guardou na geladeira, aguardando a hora de ir.
Só que ontem, justo ontem, eu tinha médico em São Paulo e não tinha com quem deixar minha filha pequena. Pedi, então, para que meus pais ficassem com ela e sugeri a eles que fossem hoje, sábado, visitar o Reali. Eles concordaram.
E hoje, acordei com essa triste notícia, levantei e fui pra cozinha meio sem saber o que fazer, abri a geladeira e vi a torta. Embaladinha, inteira, intacta. Esperando amanhã…..
É… deveriam ter ido.
Este texto foi originalmente publicado no site Malvadezas, em 9/4/2011.
Giu, o Reali me ligou para elogiar o teu texto. Ele morreu de rir com a estória do pato.