meio que durmo, meio que devaneio… não sei se tenho febre, mas tremo por um nada. ando de cá para lá, quarto, sala, cozinha, banheiro, quero sair à rua mas trocar-se é tão demorado e eu acabo comendo uma fruta ou um pão com leite se sair à noite comerei algo, não, não sairei à noite.
meio que durmo, meio que devaneio… devo estar, sim, com febre, está escuro, então é noite, não tenho música mas elas ressoam como martelos dentro de mim, parece que todas juntas, queria que as músicas virassem uma música apenas e essa uma só música, a serenata para cordas de Tchaikovski seria um rio de água morna e eu entraria nessa água e teria um pouco de descanso, decerto um descanso triste, mas talvez eu parasse de tremer, vou tomar um banho.
a água quente me traz um pouco de lucidez. estou cansado! estou triste! estou com sono.
deito-me nu e me encolho como um feto. até hoje é a maneira como eu durmo. me estico, me viro, mas no momento final, quando sinto que mergulho no oco do sono, viro um feto, não se aproxime, senhor Freud!
o frio vai me acordando aos poucos. deixei a janela aberta. e também esqueci alguma luz acesa. abro os olhos. a janela está fechada. não há luz acesa mas o quarto está todo iluminado.
porque eu a tenho diante de mim.
A Espécie Humana, romance de Jorge Teles, está sendo publicado em capítulos.
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