A Espécie Humana. Capítulo 47

meio que durmo, meio que devaneio… não sei se tenho febre, mas tremo por um nada. ando de cá para lá, quarto, sala, cozinha, banheiro, quero sair à rua mas trocar-se é tão demorado e eu acabo comendo uma fruta ou um pão com leite se sair à noite comerei algo, não, não sairei à noite.

meio que durmo, meio que devaneio… devo estar, sim, com febre, está escuro, então é noite, não tenho música mas elas ressoam como martelos dentro de mim, parece que todas juntas, queria que as músicas virassem uma música apenas e essa uma só música, a serenata para cordas de Tchaikovski seria um rio de água morna e eu entraria nessa água e teria um pouco de descanso, decerto um descanso triste, mas talvez eu parasse de tremer, vou tomar um banho.

a água quente me traz um pouco de lucidez. estou cansado! estou triste! estou com sono.

deito-me nu e me encolho como um feto. até hoje é a maneira como eu durmo. me estico, me viro, mas no momento final, quando sinto que mergulho no oco do sono, viro um feto, não se aproxime, senhor Freud!

o frio vai me acordando aos poucos. deixei a janela aberta. e também esqueci alguma luz acesa. abro os olhos. a janela está fechada. não há luz acesa mas o quarto está todo iluminado.

porque eu a tenho diante de mim.

A Espécie Humana, romance de Jorge Teles, está sendo publicado em capítulos.

Para ler o capítulo anterior.

Para ler a partir do capítulo O.

Continua na semana que vem.

 

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