Aqui não tem terremoto – Volume 2

É sempre bom repetir: nunca estivemos tão bem. Vivemos no melhor dos mundos. Estamos melhor que a Finlândia, que a Noruega: chegamos ao paraíso, ao nirvana.

Como dizia o Premê: “aqui não tem terremoto, não tem revolução. Ilha de paz e prosperidade num mundo conturbado e sem razão”.

Duas semanas atrás, juntei aqui várias notícias boas. Entre 30 de julho e 11 de agosto de 2010 os jornais publicaram mais um bando delas. Vamos lá

 * O governo brasileiro manifestou-se oficialmente contra a censura aos regimes autoritários. Em carta aos Estados-membros das Nações Unidas, o Itamaraty lulo-petista propôs que sejam mudados os procedimentos da ONU no combate às violações aos direitos humanos. Em vez de denúncia pública dos violadores – a principal forma de pressionar os regimes autoritários –, o governo brasileiro sugere diálogo. Desde que Lula assumiu, o Brasil vem se abstendo nas votações no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, de forma a evitar que os países violadores – Cuba, Irã, Líbia, Sudão, Mianmar, os países-companheiros deles – sofram condenação.

 * O próximo presidente da República vai receber uma conta de R$ 90 bilhões deixada pelo governo Lula. Será um novo recorde, batendo os R$ 72 bilhões que passaram de 2009 para 2010. O total de 2010, só até o mês de junho, é de R$ 53,7 bilhões. Essas despesas são os restos a pagar, que ocorrem porque os ministérios contratam um serviço que não são concluídos até dezembro.

 * Os gastos secretos do gabinete presidencial com cartões corporativos representam neste ano eleitoral 98,3% do total de R$ 3,259 milhões. Apenas 1,8% das despesas com cartão corporativo para atender Lula e sua família são detalhados e ficam à disposição do distinto público que paga os impostos e os custeia. 

 * Na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2011, sancionada por Lula no dia 10 de agosto, foram introduzidas brechas para o governo gastar com mais facilidade e, ao mesmo tempo, fugir da fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU). Um artifício isenta a Petrobrás e a Eletrobrás da aplicação de tabelas oficiais de preços, que são usadas pelo TCU para investigar irregularidades.

 * A Infraero, a estatal que administra os principais aeroportos do país, usou, de janeiro a junho deste ano, apenas 11% do que dispõe para reformar os aeroportos – vários deles localizados nas cidades-sedes da Copa de 2014. Eficiência administrativa, capacidade gerencial é isso aí.

 * Eficiência administrativa, capacidade gerencial é isso aí: dados de cerca de 12 milhões de inscritos nas três últimas edições do Enem vazam; o Inep do Ministério da Educação admite que o sistema tem “fragilidades”. E nem tinha feito um ano do escândalo do vazamento das próprias provas do Enem.

 * Entre 2001 e 2009, o governo federal repassou pelo menos R$ 162 milhões às seis maiores centrais sindicais do país – e ninguém sabe se esses recursos foram gastos corretamente. As contas referentes a R$ 54 milhões sequer foram analisadas, e nos demais casos a prestação de contas não foi apresentada ou contém irregularidades. Os dados são do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira) e foram divulgados pelo jornal O Globo.

 * No mesmo período, entre 2001 e 2009, a proporção de dinheiro dos cofres federais (ou seja, do dinheiro que pagamos em impostos) nos grandes negócios fechados pelo BNDES aumentou de 6% para 40%. O aumento foi de 566%. O BNDES, como se sabe, empresta dinheiro às empresas que o governo lulo-petista escolhe a taxas de juros bem inferiores às do mercado. Ou seja: nosso dinheiro, em vez de ser usado em infra-estrutura, saúde, educação, financia as empresas que o lulo-petismo escolhe a seu bel prazer.

 * A disparada dos gastos do governo federal e dos Estados no ano eleitoral derrubou o superávit primário (economia para pagar juros da dívida) acumulado em 12 meses até julho de 2010 para R$ 67,368 bilhões, ou 2,07% do PIB. Muitíssimo abaixo da meta de 3,3%. No mês de julho, o superávit foi de R$ 2,059 bilhões, quase 40% menos do que um ano antes – e o pior resultado das contas públicas desde 2003. Os dados são do Banco Central.

 Vivemos no melhor dos mundos. Nunca estivemos tão bem.

 14 de agosto de 2010

3 Comentários para “Aqui não tem terremoto – Volume 2”

  1. “Nunca vivemos tão bem”. De principio
    levei um susto! Realmente, estou muito velha , pois não consigo ver isto. Mas, se o Sérgio falou, tá falado, deve ser verdade. E aí fui ler o texto. Há,há,há… Estou novinha, estou sabendo de tudo!

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