Quando Nara Leão estava ouvindo diversas músicas inéditas, gravadas em fitas, para a escolha deste que seria o 15º disco só seu, rejeitou várias delas por conterem “muita lamentação”. Essas músicas rejeitadas, diz ela, “tinham um clima pra baixo que era exatamente o oposto do que eu queria”.
Ela conseguiu o que queria: Romance Popular é um disco sem lamentação. Prá cima. Alegre, jovial, forte, cheio de energia e vitalidade. Dançante, até. Esta é, sem dúvida, a principal característica de Romance Popular: a alegria, o bom astral.
O primeiro lado, especialmente, que Fausto Nilo disse ser “mais ritmo, mais dança”, pode perfeitamente, por exemplo, ser ouvido numa festa de gente que gosta de dançar, entre uma Rita Lee, um Moraes Moreira e um Gilberto Gil última fase. Assim como pode muito bem ser ouvido com toda a atenção (e prazer) num fone de ouvido.
Nesse primeiro lado, entre belas melodias e excelentes arranjos, destaca-se a presença impressionante de Robertinho de Recife, tocando guitarras – e basta ouvi-las para se compreender por que Nara Leão está apaixonada pela música de Robertinho de Recife.
No segundo lado o clima muda um pouco: ele é “mais canção”, como diz Fausto Nilo, o autor das letras de sete das 12 músicas do LP. Há uma presença maior de cordas, com arranjos justos, corretos, feitos por Eduardo Souto Netto e Roberto Menescal. O acompanhamento é também mais acústico, com violões, viola portuguesa e cavaquinho, tocados por Fagner e os excelentes Manassés e Nonato Luiz.
Tudo, em Romance Popular – o repertório, os arranjos, os instrumentistas, a voz de Nara –, parece tão maravilhosamente integrado que é difícil separar um momento do restante do trabalho, destacar essa ou aquela faixa. E, de fato, é um disco que se ouve sem vontade de pular faixas, sem querer passar logo para a seguinte – e que dá vontade de ouvir de novo, ao final do segundo lado.
Quanto à estrela do disco, a cantora Nara Leão, não há muito o que discutir – ou talvez haja tanto que nem vale a pena. Muita gente, como ela mesma diz, não gosta de sua voz. Criticam o que dizem ser uma voz pequena, ou talvez o timbre agudo demais. Questão de opinião, cada um tem direito à sua. Há quem goste de Lindomar Castilho.
O que fica mais uma vez nítido, em Romance Popular – seguramente um dos melhores discos de Nara -, é que ela é uma cantora de impressionante sensibilidade. Tanto na escolha do que vai cantar quanto à expressividade que sabe imprimir a cada palavra que pronuncia. Uma expressividade sutil, e não tipo rasga coração – como ela mesma define.
A questão não é de extensão de voz. É de estilo. Nara Leão é uma cantora da linha de Mário Reis, João Gilberto, Roberto Carlos. Sutil, e não rasga coração. Ainda bem.
A historinha por trás do texto
Em geral, quando o Jornal da Tarde publicava uma reportagem sobre um lançamento de disco e mais uma “crítica”, os textos eram de dois autores diferentes. No caso de Romance Popular houve uma exceção; depois que fiz a reportagem, me encomendaram também a “crítica”.
Transformar déficit-vocal em qualidade não vale.