“O ano do Titanic.” Com essas palavras impressas diariamente nos jornais, preparou-se a estréia mundial, ontem (1º de agosto de 1980), em Nova York, do filme Levantem o Titanic. É uma ficção-científica, passada em 1987, quando o governo norte-americano manda erguer à superfície o navio que afundou em 1912. A trama é atraente e bem montada, envolvendo espiões, disputas entre Estados Unidos e União Soviética – e, sobretudo, envolvendo toda a força quase mágica do nome Titanic.
Hoje, 68 anos depois da grande tragédia, o nome Titanic continua fascinando multidões. O livro de aventuras de Clive Cussler, no qual o filme se baseou, por exemplo, foi escrito em 1976 – e, durante 36 semanas, esteve nas listas dos best-sellers dos Estados Unidos.
E, há menos de duas semanas, partiu da Flórida um navio de pesquisas, equipado com uma aparelhagem sofisticadíssima, para a região onde o Titanic afundou, a sudeste da Terra Nova, no Atlântico Norte. A expedição pretende localizar o ponto exato onde está o Titanic, a 3.600 metros de profundidade – para depois retornar, munida de equipamento para descer a uma profundidade tão grande, e resgatar parte do tesouro em jóias e objetos de valiosos que os passageiros do Titanic ali deixaram. A aventura, liderada por um milionário texano do petróleo, Jack Grimm, e que conta com a participação de oceanógrafos, geólogos, cinegrafistas e um escritor, deverá custar dois milhões de dólares.
Nesta e na página seguinte, a história desse navio que o mundo não consegue esquecer.
A historinha por trás do texto
Esse pequeno texto acima foi a introdução de uma longa matéria de duas páginas publicada no Caderno de Sábado do Jornal da Tarde, em 2 de agosto de 1980 – uma espécie de suplemento cultural que o JT teve, durante alguns anos. Era o que no jargão jornalístico se chama de “gancho” – o pretexto, o fato quente, recente, que justificava o imenso texto recontando a tragédia do Titanic.
A idéia de usar o lançamento do filme O Resgate do Titanic/Raise the Titanic para poder rememorar a tragédia foi minha. Como milhões de pessoas no mundo, sempre fui fascinado com a história do navio, desde que, adolescente, li (vou confessar, ainda que com uma certa vergonha) num livro publicado pelas Seleções do Reader’s Digest, da biblioteca do meu irmão Arnaldo, a versão compacta da obra Noite Inesquecível, A Night to Remember, escrita por Walter Lord, um publicitário e editor de Nova York.
Em 1980, li o livro de Clive Cussler, Raise the Titanic!, no qual se baseou o filme citado aí no texto de abertura da matéria; a edição que li, um pocket book da editora inglesa Sphere Books, tinha na capa esta chamada: “The Mighty All-Action Superseller! Soon to be a Major Film!”
Vendi a idéia numa reunião de pauta, toparam – e me enfurnei durante várias semanas, fora do meu horário normal de trabalho como sub-editor de Reportagem Geral, no belo, gigantesco arquivo do Estadão à procura de tudo o que poderia encontrar sobre o Titanic. Claro: não havia internet, não havia Google. Fiz uma pesquisa danada de séria.
A grande ironia é que, embora o livro de Clive Cussler tenha sido um best-seller nos Estados Unidos e na Inglaterra, o filme baseado nele, dirigido por um obscuro Jerry Jameson, com Jason Robards, Alec Guinness e Anne Archer, simplesmente não aconteceu – foi um fiasco. (Quando publiquei a matéria, o filme ainda não havia estreado no Brasil, e usei como título em português a tradução literal de Raise the Titanic; o filme foi mais tarde distribuído aqui como O Resgate do Titanic.) E ainda se passariam 17 anos até que James Cameron fizesse seu Titanic, que até agora há pouco era o filme de maior bilheteria de toda a história. (Como se sabe, Avatar, do próprio Cameron, ultrapassou o filme de 1997.)
Bom – embora o gancho fosse ruim, ainda bem que escrevi o texto em 1980. Em 1997, quando todo o mundo voltou a falar do Titanic por causa do filme, acho que já não teria o mesmo gás para produzir um texto assim.
Março de 2010
Achei o documentário fenomenal.
A única restrição que faço, é com relação a profundidade exata que o titanic estacionou.