Calote contratado

Cuba vive a sua maior crise econômica desde o “período especial” dos anos 1990. À época, o país entrou em colapso com o fim da União Soviética, de quem recebia – entre outros benefícios – petróleo bem abaixo dos preços internacionais. Sobreviveu graças ao petróleo venezuelano, fornecido por Hugo Chávez também com generosos subsídios. Essa torneira fechou com a interminável crise na Venezuela e com a queda brutal do turismo, principal fonte de divisas do país caribenho. Continue lendo “Calote contratado”

As lições do 11 de setembro chileno

Cinquenta anos depois do golpe de Pinochet, o Chile volta a ser um país dividido verticalmente. Como se a roda da História tivesse girado para trás, a extrema-direita faz uma releitura do trágico 11 de setembro de 1973, enaltecendo a figura d e Augusto Pinochet. Segundo sua versão, o ditador salvou o Chile de “uma ditadura marxista”. Na outra ponta a esquerda se nega a atender ao apelo do presidente Gabriel Boric de uma revisão crítica do governo da Unidade Popular liderado por Salvador Allende. Continue lendo “As lições do 11 de setembro chileno”

O risco de virar coadjuvante

A ampliação do Brics não foi um bom negócio para o Brasil. O país saiu da última reunião do grupo menor do que entrou. Ao lado da Índia, nos enquadramos entre os perdedores com o ingresso de mais seis países no bloco. A China tem muito a comemorar. Deu um passo importante para transformar o Brics em uma plataforma antiocidental, sobretudo porque bancou o ingresso do Irã, país teocrático e profundamente antiamericano. Os chineses preparam o bote para aumentar sua influência, sobretudo na África. Continue lendo “O risco de virar coadjuvante”

O telhado de vidro do PT

A questão dos direitos humanos sempre foi um tema sensível ao Partido dos Trabalhadores. Diversas vezes o PT denunciou violência policial cometida por governos aos quais fazia oposição. Assim procedeu no recente episódio do Guarujá, onde 16 pessoas foram mortas em ação policial. O ministro da Justiça, Flávio Dino, qualificou o episódio como “execução sumária”. Continue lendo “O telhado de vidro do PT”

Hecatombe peronista

A Argentina já foi a sexta economia do mundo. Tinha um PIB per capita superior ao da França ou da Alemanha. Nos anos 20 sua frota de automóveis era a segunda do mundo, perdia apenas para os Estados Unidos. Mas tudo isso é passado: há pelo menos 50 anos vive uma decadência sem fim. Continue lendo “Hecatombe peronista”

Um só povo, uma só nação

“Abracemo-nos para marcharmos, não peito a peito, mas ombro a ombro, em defesa da Pátria, que é a nossa mãe comum.” A frase é de Caxias, o pacificador, quando brasileiros guerreavam entre si na Revolução Farroupilha. A idéia da mãe comum de todos nós – brancos, pretos, indígenas, mestiços, nordestinos, sulistas – deve ser resgatada diante das palavras do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Continue lendo “Um só povo, uma só nação”

Simone engoliu o sapo

Para consumo externo, Simone Tebet só poderia dar declarações acatando a nomeação de Márcio Pochmann para presidir o IBGE. Qualquer manifestação pública de desconforto com a escolha teria de vir acompanhada de sua carta de demissão do Ministério do Planejamento. Aí correria riscos de viver longo período no ostracismo político. Continue lendo “Simone engoliu o sapo”

Não passarão!

A eleição espanhola encerra várias dúvidas e uma certeza. A começar pela leitura dos seus resultados. O conservador Partido Popular de Alberto Feijó pode se julgar vitorioso por ter sido o mais votado, embora abaixo das projeções das pesquisas. Mas o atual primeiro-ministro Pedro Sánchez\, de centro-esquerda e dado como carta fora do baralho, ganhou sobrevida. Continue lendo “Não passarão!”

Escolas cívico-militares e polarização ideológica

Durante quatro anos, a educação foi palco de uma guerra ideológica, promovida pelo então presidente Jair Bolsonaro e seus ministros da área. Professores foram estigmatizados e as escolas tratadas como se fossem centros de manipulação ideológica de esquerda. Continue lendo “Escolas cívico-militares e polarização ideológica”

Sem as cotas raciais, retrocesso à vista

A Suprema Corte dos Estados Unidos reabriu o debate sobre as cotas raciais ao contrariar sua jurisprudência anterior e considerá-las inconstitucional. A guinada veio na esteira da onda de retrocessos civilizatórios patrocinada pela Corte. As cotas raciais como política afirmativa foram instituídas nos Estados Unidos nos meados dos anos 60, como uma conquista de uma árdua luta pelos direitos civis, nas quais se projetaram a obstinação do Rosa Parks e a determinação de Martin Luther King. Continue lendo “Sem as cotas raciais, retrocesso à vista”

O antigo versus o moderno no Brasil

A História do Brasil tem sido marcada por um constante conflito entre o arcaico e o moderno. Esse embate atravessou séculos e influenciou muitos aspectos da sociedade brasileira. O país só conseguiu avançar quando o novo foi capaz de sobrepujar o antigo, deslocando os interesses arraigados nos aparelhos do Estado. Exemplos notáveis dessa transformação foram a derrocada da oligarquia cafeeira e o fim da República Velha, que impulsionaram o Brasil em direção à industrialização e à modernidade durante os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Continue lendo “O antigo versus o moderno no Brasil”

O PSDB e a identidade perdida

Trinta e cinco anos após a sua fundação, o Partido da Social-Democracia Brasileira pouco, ou quase nada, tem a ver com o partido fundado por Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, José Serra, José Richa e uma legião de grandes homens públicos do Brasil. Continue lendo “O PSDB e a identidade perdida”

O legado de Fernando Henrique Cardoso

O tempo, quanto mais passa, mais nos permite análises desapaixonadas. Com esse espírito, o economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do primeiro governo de Lula, fez um robusto balanço da era FHC, no artigo “Fernando Henrique, um estadista entre nós”. O ex-presidente chegou aos 92 anos no último domingo e ao longo de sua vida construiu uma densa trajetória como intelectual e homem público. Continue lendo “O legado de Fernando Henrique Cardoso”

O esgotamento presidencialismo de coalizão

Em 1988 o sociólogo e escritor Sérgio Abranches cunhou o termo “presidencialismo de coalizão”, em alentado artigo publicado na revista Dados. Chamava a atenção para a diferença entre nosso modelo e o presidencialismo dos Estados Unidos. Lá funciona o bipartidarismo e é possível o presidente do país governar mesmo sem maioria no Parlamento. Nosso modelo político advindo da Constituição-Cidadã gerou um quadro de multipartidarismo no Congresso Nacional e tornou impossível o presidente governar sem construir uma coalizão majoritária. Sem ela, não há como aprovar emendas constitucionais dada a exigência de ter 60% dos votos dos parlamentares.

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