Meu baú de esperança parece não ter fundo. Por mais que os fatos insistam em jogar baldes e baldes de água fria em minhas crenças eu, teimoso, costumo agir como diz a minha letra de “Coração Civil”: “se o poeta é o que sonha o que vai ser real, bom sonhar coisas boas que o homem faz e esperar pelos frutos no quintal”.
Mas o que vemos acontecer e o que se fala no Brasil de hoje, e certamente também de outros tempos, é de desanimar. Os eleitos para administrar a nação, está cada vez mais evidente, não estão preparados para enfrentar os desafios que o Brasil precisa superar para alcançar a grandeza que nosso povo merece. Ou enxergam com as viseiras da ideologia ou da busca de se enriquecer na atividade pública, ou falta-lhes noção e ciência para planejar e gerir o nosso presente, caminho necessário para a construção do futuro que teima em não chegar. Ele está logo ali, dizem, mas a vitória não vem nunca. Todas as oportunidades são jogadas no lixo pela procura de conquistar e manter o poder político, objetivo único dos que deveriam conduzir a trajetória.
Meu amigo Paulo Rogério não cansa de se indignar. Uma hora contra as mineradoras, que saqueiam Minas Gerais, levam nossas riquezas, deixando crateras enormes, ferindo nossa natureza e matando brasileiros a toda hora pelo estrago que fazem em nossas rodovias. Ele é um dos responsáveis pela luta por royalties justos para a terra mineira e a paraense.
Agora ele esteve em Portugal , percorrendo o trajeto que vai de Lisboa a Évora, patrimônio cultural da humanidade. De uma ponta a outra, cento e cinco quilômetros de estrada de rodagem moderna, segura, pistas duplas. Um passeio deslumbrante. Mas de que reclama o meu amigo?
É que no dia da viagem por cima do Atlântico, ele ficou sabendo da intenção presidencial de construir um aeroporto a trinta quilômetros de Ouro Preto, para desenvolver o turismo na Vila Rica, também patrimônio cultural da humanidade.
Para que gastar milhões de reais para se construir um aeroporto se, com muito menos dinheiro público, poder-se-ia, agora que parece que vão duplicar a estrada que liga Belo Horizonte a Juiz de Fora, modernizar e tornar segura a Rodovia dos Inconfidentes? Com rodovia decente, e levando-se em conta a paisagem monumental que envolve o caminho, teríamos uma viagem de cem quilômetros desde Belo Horizonte até o berço da Conjuração e da Cultura mineiras.
Sem falar nas vidas que deixaríamos de perder nos acidentes rodoviários. Pois, com ou sem aeroporto local, quase todos os brasileiros continuariam a utilizar os carros e os ônibus. Até quando abusarão de nossa paciência?
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em janeiro de 2013.
Abusarão sempre Fernando. Restam nossa ifinita paciëncia e inesgotável esperança como nos frutos do quintal.