“The days, like flowers, bloom and fade and they do not come again.
We’ve only got these times we’re living in.”
Faz uns seis anos que tive a imensa sorte de conhecer a música de Kate Wolf, e já tinha ouvido diversas vezes essa canção extraordinária, “These times we’re living in”, belíssima como diversas outras que ela escreveu, mas jamais tinha parado para tentar entender exatamente o que dizia a letra.
Kate Wolf é poeta de imensa sutileza. Se você não atentar bem para as palavras – e as melodias maravilhosas podem fazer não prestar grande atenção às palavras –, é bem possível que você não perceba a riqueza do texto.
Por exemplo, este verso:
“In China, or a woman’s heart, there are places no one knows”.
Mandei uma vez esse verso de Kate Wolf para uma grande amiga que já vive nos Estados Unidos há mais tempo do que viveu no Brasil. É uma mulher de grande sensibilidade. Pela resposta que me mandou, vi que não tinha percebido muito bem a beleza do verso.
Na verdade, essa minha amiga que, de tão americanizada, sequer voltou, não entendeu nem mesmo o tipo de música que Kate Wolf fazia. Me disse alguma coisa tipo: ah, country music! Minha filha loves country music!
Kate Wolf não faz country music. É folk – coisa bastante diferente do country.
***
“In China, or a woman’s heart, there are places no one knows”.
É sutil. É poesia.
É preciso estar atento (mas não necessariamente forte) para perceber a poesia de Kate Wolf.
Ela é sutil.
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Há importância, e grande, no que é dito – e isso é muito óbvio. Se os Beatles houvessem cantado “All you need is hatred”, eles seriam certamente a banda preferida da Al-Qaeda, ou dos petistas que comemoraram a morte de centenas de pessoas inocentes no ataque terrorista às Torres Gêmeas, porque sentiam que era uma vitória contra os imperialistas filhos da puta.
Dizer coisas claras, óbvias, tipo “All you need is love”, é bom, é uma maravilha.
Dizer o óbvio de forma não tão óbvia é poesia.
É óbvio que cada momento passa. É óbvio que vamos morrer. É óbvio que a cada dia estamos mais perto da morte. Somos todos como os discos de antigamente, os 78 rpm ou os long-playings de 33 rpm: a cada vez que agulha toca o disco, o disco fica mais velho, mais riscado, mais próximo do fim. A cada vez que respiramos, estamos mais perto da última respiração.
Portanto, é óbvio que tudo que nos faça prestar atenção a esses fatos é positivo.
“Carpem diem! Seize the day!”, dizia o professor de língua e vida de A Sociedade dos Poetas Mortos.
***
O que Kate Wolf diz nesses versos de “These times we’re living in” é exatamente a mesma coisa.
Só que ela diz do jeito dela.
Kate Wolf optou por ser ligada à terra, ao campo – não às cidades.
As imagens que Kate Wolf cria em sua poesia que faz de tudo para não parecer poesia não têm nada, nada a ver com metrópoles. Têm a ver com o interior, com a terra, com os lugares em que se sente cheiro de pó da terra.
E é por isso que ela expressa a verdade grande, dita por tantos outros poetas, com um jeito de campo, um jeito de cheiro de pó de terra:
“The days, like flowers, bloom, and fade and they do not come again.”
Os dias, sabemos todos, não voltam. Que os dias, como as flores, se abrem, e desaparecem, e não voltam jamais, isso só podia ser expressado por uma poeta que preferiu viver perto da natureza, longe das metrópoles.
Um verso como esse só poderia ter sido escrito por Kate Wolf.
Janeiro de 2013
Outros textos que falam de Kate Wolf neste site:
Canções de amor demais: Kate e Eric
Canções doces, violoões suaves
Um dia eu ainda escrevo um bom texto sobre Kate Wolf.
These times we’re living in
Kate Wolf
Down by the river the water’s runnin’ low
as I wander underneath the trees
in the park outside of town the leaves, turned brown and yellow now,
are falling on the ground.
Remembering the way you felt beside me here when love was new
that feeling’s just grown stronger since I fell in love with you.
now we’ve only got these times we’re living in
we’ve only got these times we’re living in.
Winter wood piled on the porch; walnuts scattered on the ground,
wood smoke risin’ to the sky; an old man comes home from work
and hugs his wife in a sweat-stained shirt,
steps through that door to where it’s warm inside
and I’m walking as the wind rustles in the fallen leaves
my footsteps picking out a tune my heart sings silently.
Now we’ve only got these times we’re living in,
we’ve only got these times we’re living in.
See the roses dried and faded, the tall trees carved and painted
with long forgotten lovers’ names
The old cars standing empty and dogs barking at me
as I walk through the quiet streets the same.
If I could I’d tell you now: there are no roads that do not bend.
The days, like flowers, bloom and fade and they do not come again.
Now we’ve only got these times we’re living in
we’ve only got these times we’re living in.
CONTRA O ÓDIO E O VENENO!
“Os dias, como as flores florescem, e desaparecem, e eles não vêm novamente.
Agora só temos esses tempos em que estamos vivendo.
Só temos esses tempos que estamos vivendo!”
Kate Wolf
“Tudo o que você precisa é amor”
Lennon