A visão é emocionante, estonteante. No topo de uma montanha, diante de bela, imponente edificação, 12 esculturas que falam de um universo de milênios atrás encaram o vale e o mundo à frente delas. Tudo, absolutamente tudo acaba, mas as 12 esculturas são perenes.
A beleza é tanta que apavora, fascina – estonteia.
Me perguntei como foi possível que eu, mineiro de criação e de direito, embora emigrante há tantas muitas décadas, tivesse vivido mais de 60 anos sem ter visto os profetas de Aleijadinho em Congonhas.
Doze profetas, esculpidos em pedra sabão, dispostos diante de uma bela igreja, a do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, ou simplesmente a Basílica, construída ao longo de cerca de 20 anos, a partir de 1757. As esculturas foram criadas entre 1800 e 1805.
As 66 figuras esculpidas por Aleijadinho em madeira – cedro – vieram antes dos profetas: o artista trabalhou nelas entre 1796 e 1799. Formam sete conjuntos – sete passos da Via Sacra de Cristo –, colocados dentro de seis pequenas capelas, construídas na colina que leva até os profetas e a Basílica.
Doze profetas de pedra, 66 figuras de madeira, no topo de uma das milhares de montanhas de Minas. Esse tesouro, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, é chamado de o maior conjunto de arte barroca da América Latina.
Eu sei lá. Não entendo coisa nenhuma de artes plásticas, sou nessa área analfabeto de pai e mãe, mais analfabeto ainda do que em outras, e além disso não tenho idéia de que tipo de régua se usa para definir se aquilo ali é ou não o maior conjunto de arte barroca da América Latina.
Sei que é uma maravilha absurda, impressionante, emocionante. Pra dizer bem a verdade, é um troço bonito pra caralho, das coisas mais belas que já vi.
Ainda bem que vi, ainda bem que Mary sugeriu que víssemos. Antes tarde do que nunca. O que me peguei pensando é que todo brasileiro deveria ver as obras de Aleijadinho em Congonhas.
Uma maravilha dentro de uma cidade feia, horrorosa, improvável
Congonhas é hoje uma cidade horrorosa. Cresceu desordenadamente, como todas as cidades do país. Muitos trechos parecem um favelão, um amontoado disforme de casas pobres penduradas nos morros que não fica a dever nada, no quesito feiúra, a cidades sem qualquer importância histórica, geográfica, artística ou qualquer outra, como por exemplo Itapevi, na região Oeste da Grande São Paulo, onde minha filha trabalhou (duro, e muito) ao longo de quatro anos.
É, antes de tudo, uma cidade improvável. Ocupa um fundo de vale, por onde passa um rio, o Maranhão, e partes das montanhas que o cercam. O fundo do vale é estreito, muito estreito, e é nele que fica o centro da cidade – um ajuntamento de ruas também estreitas, com calçadas onde não dá para duas pessoas caminharem lado a lado. Ali, no pequeno trecho plano, ficam todo o comércio e os serviços, e os pedestres disputam quase a tapa os pequenos espaços com os ônibus e carros.
Os morros são, é claro, absolutamente íngremes, e as ruas construídas neles são caóticas. É a improbabilidade absoluta. Não houve proteção ao casario antigo, e então ainda há velhas casas caindo aos pedaços, no meio de construções recentes, e feias, muito feias, sem qualquer padrão.
Congonhas abriga hoje grandes empresas, em especial ligadas à mineração. Gera empregos, atrai gente – é uma cidade horrorosa mas de vida econômica ativa.
A área em torno do sítio histórico – a colina onde ficam as seis capelas, o alto da montanha com os 12 profetas e a bela Basílica –, esta, no entanto, salvou-se incólume da modernização e deterioração da cidade. Está preservada, igualzinha hoje a como devia estar mais de 200 anos atrás, quando Aleijadinho e seus auxiliares concluíram o trabalho.
A Basílica, os profetas e as capelas diante deles são um oásis dentro da cidade caótica, improvável.
São de uma beleza descomunal.
Uma obra feita sob o impacto da Inconfidência
Os profetas de pedra e as figuras bíblicas em cedro esculpidos em Congonhas pelo maior artista brasileiro do barroco têm diversas referências à Inconfidência Mineira. Jesus Cristo enfrenta a subida ao Calvário com sangue no pescoço, como se tivesse sido enforcado – menção óbvia a Tiradentes. Um anão aparece numa das etapas da Via Sacra com as cores da Coroa Portuguesa. (Aleijadinho não cuidou da pintura das 66 esculturas, que ficou a cargo de outros artistas.) Soldados romanos às vezes aparecem com botas semelhantes às dos soldados da Coroa Portuguesa. Uma das figuras da Via Sacra usa uma boina idêntica à dos franceses da Revolução.
Muitos dos profetas têm as feições dos principais inconfidentes – o próprio Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa. Um deles é um auto-retrato de Aleijadinho.
As datas mostram com clareza as conexões. Os inconfidentes mineiros foram influenciados pelos ideais a princípio libertários da Revolução Francesa de 1789. A Inconfidência Mineira veio logo após a Revolução. Tiradentes foi enforcado em 1792. Aleijadinho fez seu trabalho, como já foi dito, entre 1796 e 1805.
Eu não sabia de nada disso, da proximidade das datas, e da influência da Inconfidência sobre as obras de Aleijadinho.
Claro: pode ser que já tivesse sabido um tanto, e depois esquecido. Pode ser. Mas acho que não. Acho que nunca soube de nada disso. O que é um absurdo. Tive uma educação muito boa, freqüentei boas escolas em Minas – e não sabia disso.
Mary se lembrava – vagamente – de referências à Inconfidência nas obras de Aleijadinho. Eu, não.
Não consigo deixar de pensar: quantos brasileiros sabem hoje que Aleijadinho foi um artista – além de brilhante, o melhor de seu tempo – ousado, corajoso, iconoclasta, avançadíssimo, muito à frente da época, que subverteu as regras, que mexeu no que era para ser um retrato fiel do que contam as Escrituras, para expor uma visão pessoal e política, ao mesmo tempo contrária à Igreja que pagava por seus serviços e à Coroa Portuguesa que governava o país?
O Brasil não conhece o Brasil.
Quem dispensar a ajuda dos guias deixará de aprender muita coisa
Quem me ensinou sobre a ligação entre os trabalhos de Aleijadinho em Congonhas e Inconfidência foi um rapaz chamado Luciano.
Olinda tem, ou pelo menos tinha, aqueles garotinhos que pegavam no pé dos turistas se oferecendo como guias, e papagueavam um monte de frases decoradas a respeito da história da cidade. Eram de fato papagaios: recitavam frases feitas, sem ter a menor idéia do significado das palavras que repetiam diante de cada novo grupo de turistas. Não adiantava fazer perguntas a eles. Se a gente fizesse uma pergunta, eles voltavam atrás no texto decorado, para retomar a marcha, e engatavam tudo de novo.
Congonhas 2011 tem uma versão evoluída dos garotinhos papagaios da Olinda que conheci em 1971. O rapaz Luciano se aproximou de nós educadamente, e ofereceu seus préstimos de guia autorizado – ele é um dos vários que trabalham ali. Dissemos que gostaríamos, sim, de ouvi-lo, só que mais tarde – primeiro queríamos olhar tudo aquilo por nossos próprios olhos.
Quando, algum tempo depois, pedimos a ajuda dele, Luciano se revelou utilíssimo, cheio de informações para dar.
Os guias adultos de Congonhas falam frases decoradas – quase como os pentelhos dos garotinhos de Olinda. Mas despejam sobre os turistas uma montanha de informações – uma montanha quase tão alta quanto aquela em cima de que primeiro se construiu a bela Basílica, e depois a arte de Aleijadinho criou as figuras dos passos da Via Sacra e os profetas.
O turista que, emproado, rempli de soi-même, se recusar a ouvir um guia como Luciano ou seus colegas, certamente vai perder muito. Por exemplo: correrá o sério risco de não perceber as simetrias.
Tudo, nos profetas de Aleijadinho em Congonhas, é simétrico. Estudadamente, rigorosamente simétrico. O profeta da extrema esquerda está inclinado para o centro, assim como o da extrema direita. O dedo apontado para o alto do profeta da direita se casa à perfeição com o dedo apontado para o alto do profeta da esquerda.
Os seis profetas de um lado falam de temas mais otimistas. Os seis do outro lado alertam para flagelos, horrores. Estes são retratados com fisionomias sérias, graves. Aqueles têm expressões alegres.
Há dezenas de ângulos retos, nas esculturas dos 12 profetas. Pés colocados em ângulos retos – vários.
Se se pegar um conjunto de três dos profetas, quaisquer deles, cria-se um triângulo, todos eles eqüiláteros.
Essa insistência nos triângulos, no ângulo reto, são indícios claros – declamou o guia Luciano – de que Aleijadinho era maçon.
Epa!
Aí, nesse momento, é preciso gritar truco!
Uma coisa são os dados da realidade, as evidências, o que se comprova por si próprio. O Cristo de Aleijadinho nas esculturas na Via Sacra tem marcas de enforcamento – e isso mostra obviamente que o artista aproveitou para se referir a Tiradentes, que acabava de ser enforcado.
Outra coisa, muito diferente, são as interpretações que um historiador sério ou qualquer doido – ou entusiasta de uma causa, o que talvez seja perfeito sinônimo de doido – possa vir posteriormente a fazer.
Alguém ensinou ao guia Luciano que os profetas de Aleijadinho têm relação com a maçonaria. A arte está aberta a todo tipo de explicação. Não tenho o menor interesse em saber quais são os signos que indicam a simpatia de Aleijadinho pela maçonaria, como de resto não tenho o menor interesse em tentar compreender o que é a maçonaria – a maçonaria me dá sono. Mas os muitos signos que mostram que Aleijadinho transformou a tarefa paga de esculpir os profetas e os passos de Cristo no Calvário em uma revolta contra o opressor português são absolutamente fascinantes.
A insistência no triângulo, por exemplo, pode simplesmente ser uma referência à Santíssima Trindade – ou pode ser apenas uma questão estética, do gosto barroco pela simetria.
O Código Aleijadinho
O guia Luciano ofereceu uma tese, uma teoria: ao escolher quais profetas retratar em pedra sabão no alto daquele morro, entre os 16 citados nas Escrituras, Aleijadinho compôs seu próprio nome.
Epa! Truco!
Vamos lá:
A – Amós
L –
E – Ezequiel
I – Isaías
J – Jeremias
A – Abdias
D – Daniel
I – Jonas
N – Naum
H – Habacuc
O – Oséias
Legal. Aceita-se até que o segundo I seja Jonas, já que em Latim o J e o I eram iguais. Mas e o L? Ah, o L é pelo primeiro nome do profeta Baruc, responde, de bate-pronto, o guia Luciano.
Bobagem? Loucura?
Pode ser. Mas Dan Brown pegou algumas teorias, lendas, a respeito da Cristandade e as transformou em imensos best-sellers. Por que raios ninguém quis fazer O Código Aleijadinho?
Talvez porque pouquíssima gente saiba da imensa quantidade de teses que existem a respeito dos profetas de Aleijadinho.
O Brasil não conhece o Brasil – e, a rigor, o Brasil não se leva a sério. Nem a graça. O Brasil tem uma doentia tendência de adorar tudo que é estrangeiro, e a menosprezar tudo o que é dele.
Se não é assim, como explicar que tão pouca gente conheça e curta os livros de Jô Soares, Nelson Motta, João de Minas?
Nessa viagem a Minas Gerais, que, ao contrário do que disse o poeta, há, sim – e há maravilhosamente –, me lembrei de Dona Beatriz, minha extraordinária professora de História no Colégio de Aplicação, a pessoa a quem devo minha paixão pela matéria. Dona Beatriz falava um dia do fato de que, para os gregos antigos, quem não era grego era bárbaro. Nunca fui aluno de fazer gaiatices, mas nesse dia cometi uma. Levantei o braço e, quando ela me autorizou a falar, disse algo do tipo: “Uai, fessora, mas é igualzinho no Brasil hoje”. E, após alguns segundos em que Dona Beatriz esteve certa de que seu dedicado aluno tinha enlouquecido, completei: “Aqui também tudo o que é estrangeiro é bár-ba-ro!”
Uma sintaxe estranha que consubstancializa o ato e identifica o Mal Em Si
O guia Luciano, em sua quase decoreba, nos fascinou com o jeito de falar. Ao recitar um punhado de informações sobre cada um dos 12 profetas – o leão de Daniel, esculpido por um Aleijadinho que jamais havia visto um leão ou uma figura de leão, naqueles 1801, 1802, tem orelha humana, e a baleia de Jonas não se parece absolutamente com uma baleia –, ele saiu-se com uma frase mais ou menos assim:
– “O vândalo destruiu um dos dedos.”
Várias vezes, depois, Luciano iria se referir ao vândalo. No singular.
Singular maneira de enxergar a realidade. O vândalo.
Estávamos só começando a viagem. Aquilo viraria um bordão: o vândalo fez isso, o vândalo fez aquilo – brincaríamos com isso duzentas vezes.
É uma forma de ver a vida – ou seria apenas uma falha de conhecimento do bom guia Luciano?
O vândalo. No singular.
É a transformação do adjetivo em substantivo. A consubstanciação do ato. Não é o vandalismo, praticado por diversos entes – é o vândalo, coisa única. Não são os criminosos – é o crime. Não pessoas, mas uma entidade. Não são os maus, mas o mal, o mal em si.
De uma certa forma, em sua sintaxe estranha, o guia Luciano conseguiu identificar o Mal Em Si.
Hoje, felizmente, está muito mais difícil para o vândalo atacar. Há guardas municipais no sítio histórico 24 horas por dia.
Uma luz quase parisiense na noite mineira
À noite, depois de termos descido o morro em que fica essa espantosa beleza dos profetas e dos passos da Via Crucis esculpidos por Aleijadinho, e portanto de termos visto a feiúra braba de Congonhas, jantamos no restaurante que dá vista para o santuário. O santuário, à noite, tem bela iluminação – é algo quase parisiense. Jantar diante de um dos mais belos sítios históricos do Brasil é uma experiência maravilhosa.
Naturalmente, veio mais comida para nós dois do que quatro pessoas poderiam comer. Quando dissemos ao garçom que estava tudo muito bom, que só havia muita coisa a recolher porque a quantidade era espantosamente grande, ele disse, mineiramente:
– “Vai comeno devagarinho.”
Aleijadinho, Tiradentes, Tancredo – Minas Gerais há sempre
De volta a Belo Horizonte, escala antes do retorno a São Paulo, descobri, no escritório de Dona Lúcia, minha sogra, um fascinante livro de que nem ela se lembrava: Passos da Paixão – O Aleijadinho. É uma obra de 1984, lançada pela Editora Alumbramento e patrocinada pelo governo do Estado de Minas Gerais – em 1984, o governador era Tancredo Neves. O livro tem fotos de quase todas as 66 figuras em cedro e dos 12 profetas, feitas por Claus Meyer, e textos de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira. Reproduz a primeira biografia de Aleijadinho, escrita em 1858, apenas 44 anos após a morte do artista, por Rodrigo José Ferreira Bretas, na época diretor-geral da Instrução Pública da Província de Minas Gerais – o equivalente, imagino, ao cargo hoje chamado de secretário de Educação. O texto de Bretas foi publicado – sem assinatura – no Correio Official de Minas, versão imperial do atual Diário Oficial, na época em que Vila Rica, hoje Ouro Preto, ainda era a capital. (A nova capital, a cidade em que me criei, só seria inaugurada em 1897, 12 anos antes de nascer ali a Maria da Conceição minha mãe.)
A biografia de Antônio Francisco Lisboa escrita por Rodrigo José Ferreira Bretas é bela – e apavorante, nos momentos em que trata da terrível doença degenerativa que privaria o artista dos dedos dos pés e das mãos, e lhe daria o apelido com que passou para a História. O livro mostra que a doença de Aleijadinho estava avançada na época em que fez as esculturas em cedro e em pedra sabão que hoje iluminam Congonhas. É muito impressionante saber como era grave seu estado de saúde quando criou tamanha beleza.
O prefácio do livro – uma beleza de texto, assinado por Tancredo, provavelmente da lavra de Mauro Santayana, seu mais fiel ghost writer, mas talvez revisado pelo próprio futuro presidente da República, que acabou com o ciclo dos presidentes generais embora não tenha podido assumir, e que morreria num 21 de abril, dia de Tiradentes – começa assim:
“Quando se fala em Minas, dois nomes emergem da memória, como símbolos do singular espírito de nossa gente: o Aleijadinho e Tiradentes. É natural que tenham ficado na História com a identidade atribuída pelas circunstâncias de seu Destino atribulado, e não com a recebida na pia do batismo. Eles eram, cada um deles em sua própria presença, o que havia de mais povo em nosso povo. Exatamente por isso, são hoje as duas personalidades maiores da única nobreza que conta: aquela titulada pelo Eterno.”
E mais adiante:
“Somos, os mineiros, religiosos e políticos. (…) “Se o Aleijadinho feriu a pedra-sabão e o cedro com suas mãos também feridas, para, na matéria disponível, registrar as manifestações de Deus, o outro, Tiradentes, assumiu a liderança do movimento político que pretendia dar-nos uma Nação em forma de Liberdade.”
Não é por nada, não, mas os mineiros – pelo menos alguns deles – escrevem bem pra cacete.
“As coincidências são a forma de Deus se manter anônimo”
Depois de Congonhas, fomos a Tiradentes. E, de Tiradentes, demos um pulinho a São João del-Rey, a cidade de Tancredo, de Gilberto Mansur, a quem devo o fato de por acaso ter virado jornalista, de Myriam Lúcia, amiga hoje distante, e onde estudou Vivina, outra das minhas professoras no Aplicação, que depois viraria amiga para sempre. Em São João vimos o Solar dos Neves e a Igreja de São Francisco, junto à qual Tancredo está enterrado.
Junto da Igreja de São Francisco, Mary me mostrou o lugar de onde transmitiu, para a Rádio Inconfidência de Minas Gerais, o enterro de Tancredo. Chamada por Tancredo – assim como por Mario Covas, por coincidência nascido num 21 de abril, dia de Tiradentes – de “a menina”, Mary foi a única jornalista que cobriu toda a Via Crucis do presidente eleito, desde a internação no Hospital de Base em Brasília, na véspera do dia da posse, até o último adeus, na terra natal dele.
“Il faut – absolument – aller à Congonhá”
Quando falei com Fernanda sobre Congonhas, ela fez um comentário do tipo: “É uma maravilha, né?”
Não me lembrava, de forma alguma, que minha filha tivesse visto os profetas de Aleijadinho em Congonhas. Foi no dia do show de Eric Clapton no Morumbi que ela me esclareceu: no segundo ano do colegial, no Equipe, foi a Congonhas, Mariana e Ouro Preto.
Fernanda é uma pessoa de sorte. Está embarcando no domingo para mais uma visita a Paris. Mas já viu os profetas de Aleijadinho em Congonhas.
Da próxima vez em que algum amigo vier me falar da beleza de Florença, do Vale do Loire, ou coisa parecida, pergunto se ele já foi a Congonhas. Se não tiver ido, mando tomar.
Tiradentes e São Paulo, outubro de 2011.
Mais Minas: Tiradentes mostra que Minas há, sim, e maravilhosa
Cheguei. Só pra dizer estive aqui e estive lá. Tinha jovens olhos de 15 anos. Foi meu presente: as cidades históricas. Eu sabia tudo sobre Aleijadinho e Tiradentes, não tinha internet mas eu perguntei bastante ao meu professor de História antes de viajar. Não sabia nada (e continuei desconhecendo até esse minutinho) sobre a simetria e os ângulos retos e as teorias dignas de Dan Brown. Lembro que gostei muito dos profetas e tenho várias fotos comprobatórias (que não podem vir a público porque meu óculos era horroroso). Mas a cidade que mais gostei foi Mariana. Na minha memória ela era azul e é essa lembrança que faz dela a preferida (embora goste mesmo é de vermelho).
A Mary é muito sábia ;-)
Querido Tio-avô,
Me impressiona muito como a arte mineira é tão esquecida, realmente são poucos que conhecem a arte barroca de Minas…
Quanto a ccongonhas,nossa! dê uma passada em Sabará, Ouro Branco, Mariana…..
A história sendo deglutida por governos porcos, tradição esquecida em terra que até o queijo é patrimônio histórico….
Se até mesmo o Milton anda esquecido quem dirá nosso querido Aleijadinho….
é preciso pensar em memória e turismo sustentável, pra ontem. A tradição viva!
PS Próxima vez, lembra de ligar para a sobrinha neta!
Grande saudade!
Beijos
Sarah Vaz
Sabe que agora fiquei meio na dúvida…… Fiz duas viagens a Ouro Preto e Mariana, uma na sexta série, com a Novo Horizonte, e outra no segundo ano colegial, com o Equipe. Talvez a ida a Congonhas tenha acontecido na primeira, e não na segunda. O que tornaria ainda mais incrível o fato de as imagens dos profetas e da basílica serem tão fortes na minha memória, já que eu os teria vistos com apenas doze anos…… Mas isso importa pouco, né? O que realmente importa é que estive lá!
Lindo texto!
UM, maravilhoso texto. V.daria um excepcional escritor viajante, se é que me entende. Sabe por que mineiro é bom de texto, pelo menos os, diganos assim, com mais de 60 anos? Porque tomaram o gosto da leitura graças aos professores que tiveram nas escolas públicas de seu tempo. Nas aulas de português, por exemplo, copiavam os ditados feitos pelo-a professor-a, liam trechos de obras notáveis da literatura e também faziam redações sobre temas os mais diversos, tudo com uma regularidade notável que marcaria para sempre seu contato com o universo artístico. E, importante, esse histórico escolar influenciaria não apenas os que gostavam mais da área de Humanas, mas também os das áreas de Exatas e de Biológicas.
Servaz, fui com Haydée a Tiradentes, gostei muito, mas devia ter incluído Congonhas no roteiro. Fiquei impressionado com o que você nos mostra. O textim mineirim está perfeito. Me dá um arrepio de pensar como é a segurança das obras. Existe, é eficiênte (não que esse lado “policial” devesse estar em seu texto) não há risco de o vândalo voltar a atacar? Bem, acho que os responsáveis não seriam bestas…
Servaz,
O vândalo… a feiura da cidade certamente é obra dele também.
Também fiquei chocado com a vista pavorosa de algumas áreas fora da área preservada em Ouro Preto.
Obrigado por lembrar que ainda tenho que conhecer essa maravilha do Aleijadinho.
Abração
Óia, Sérgio.
Dou conta de que ainda me devo uma visita a Congonhas. Quando meus filhos moravam em Belo Horizonte, com a mãe, em minhas visitas quinzenais eu os pegava sábado de manhã e íamos para uma das cidades históricas. Em Sabará dormimos numa pensão que foi casa de um bandeirante, Manuel de Borba Gato. Em Caetés um velhinho nos abriu o museu de uma igreja, fora do horário, e eu me horrorizei em pensar que alguém (o vândalo? quem sabe, um huno…) poderia aproveitar uma situação semelhante para atacá-lo e roubar os imensos diamantes das coroas dos santos, sem nenhuma segurança exibidos bem à nossa frente. Em Tiradentes foi a vez de uma velhinha trazer de dentro de casa uma chave de uns trinta centímetros, para nos mostrar uma capelinha esquecida de todos. Em São João del Rei, era uma sexta-feira santa e eu fotografei o Tancredo Neves segurando uma das hastes do pálio que cobria o corpo de Cristo, imaginem, a menos de um metro de distância. E por algum motivo nunca fomos a Congonhas. Conheço de muitas fotos os Passos da Paixão e os Profetas. Ao vivo, em cores e com vento forte, deve ser, certamente, mais bonito.
E o Luciano não falou da característica que o Aleijadinho imprimiu nas mãos de suas esculturas? Ele não fazia o polegar em oposição aos outros dedos, mas como se fosse um quinto dedo.
Quanto aos triângulos e à simetria, deve ser dito que isto só existe por fora. O período barroco na Arte quebrou simetrias e equilíbrios. Os altares e interiores das igrejas coloniais são barrocos mas não as fachadas. Algo semelhante ocorre com a música, erroneamente chamada de barroco mineiro. É música colonial, derivada muito mais do neoclacissismo de Haydn e Mozart do que de Bach, por exemplo. Mas, como a “matriz” que ditava os modelos estava muito longe, os artistas iam aos poucos alterando seus padrões e misturando memória com criatividade.
Alguém que saiba mais me socorra e me corrija, que mais quero aprender.
Sérgio, Sérgio,
devo ser muito vaidosa, porque acho ótimo quando você me cita, aqui e ali, lembrando que fui sua professora, que fomos juntos a sei lá quantas milhares de sessões de cinema, que ouvimos, na república de estudantes onde eu morava, em Bh, os primeiros compactos da Nara e do resto do bando surgido a partir dos anos sessenta.
Pois é, fui adolescente em São João del-Rei.
Vivi dias sofridos no internato das freiras vicentinas, em frente à Santa Casa, ao lado de um dos muitos cemitérios da cidade, o de São Gonçalo. À noite, silêncio absoluto no dormitório coletivo, ouvia-se, no alto falante da cidade, a voz de Dircinha Batista: “Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada”. Até hoje Lupicínio me faz chorar.
Beijo, carinho
Vivina
Olá Sergio!!
Não conheço Congonhas,e nenhuma cidade histórica apesar de ser mineira,e amar demais esta terra maravilhosa,falta de oportunidade financeira mesmo;mas vamos ao que interessa,acabei de ler um livro ditado pelo espírito de Thomas Antônio Gonzaga,que Aleijadinho conta como escolheu seus profetas.
Se você tiver oportunidade e interesse,leia este livro “Confidências de um Inconfidente”,vc verá que eles eram massons o que vc diz que não interessa,mas é importante saber para entender a disposição dos profetas e os porquês,o meu maior sonho é conhecer onde meus amados viveram,se Deus quiser em breve terei esta oportunidade.
Obrigada pelas suas explicações.Um grande abraço.
Francisca Souza.
Passei a Semana Santa em O)uro Preto, Mariana e Congonhas.Realmente um Patrimônio Cultural acrescido dos tapetes florais. Parabéns pelo seu texto esclarecedor. Ficou devendo o L do aLeijadinho. Gratíssima.
Sérgio!
Lindo seu texto.
A Francisca Izabel corrigiu corretamente sua dúvida. Ele era “grão mestre” masson. Este livro “Confidências de um Inconfidente” conta esta e outras histórias. Uma linda, tão linda que meus olhos enchem de lágrimas toda vez que lembro-me dela é sobre um “encapuzado” que saiu à noite avisando aos inconfidentes sobre a delação e perseguição, para que fugissem. Quem era? Bárbara Heliodora.