Trocar casa por apartamento… Brrrr!

Mulheres têm a mania de, na velhice, querer sair de sua confortável casa, com árvores e passarinhos ciscando migalhas do café da manhã, e mudar para um apartamento. A queixa, todos conhecem: a casa é muito grande, dá trabalho.

É verdade que dá trabalho, mas para a empregada, aquela abnegada que chega de manhã e só vai embora à tarde, com o serviço feito. Bem, mas também há a escada, íngreme, para o quarto. Tem umas goteiras, e o piso do quintal está gasto…

Fomos ver um conjunto de prédios em fim de construção.

Magnífico, deduz-se da maquete. Todas aquelas atrações batizadas em inglês (tem até car wash). Mais sala de cinema com 40 cadeiras, cantinho de leitura. Aconchegante. Quem desfrutará destes mimos?

Trata-se de seis torres, cada uma com 23 andares. Pelos meus cálculos, serão algo como 2.500 moradores. Vizinhança animada…

Longe de mim ser desmancha-prazeres, mas em casa me permiti um pequeno comentário:

– Se eu não me adaptar, sempre posso me jogar lá de cima.

De manhã, acordei e comparei meu quarto, com janelão de madeira que abre em duas folhas, e o banheiro confortável. Se estivesse no apartamento (e o de maior metragem) me veria ilhado na cama, entre a janela insípida e o armário embutido. Dali, o corredorzinho com a porta do banheiro. Igualzinho quarto de hotel.

Ao almoço, ponderei. Para mudar, teríamos que deixar para trás coisas que até ontem amávamos. O maleiro, daqueles que as pessoas usavam quando a travessia dos oceanos era de navio (adorna a sala). O bar de mogno, com mesinha e cadeiras, que eu mesmo fiz. A grade do bar, amarrada com grampos, numa época em que não existia solda. A cômoda de gavetões, onde guardamos nossa roupa, que tem pelo menos 80 anos.

Sem falar dos móveis em estilo provençal, pesados, herdados do sogro. E, afinal, dos meus livros.

Para que me serve a coleção completa do Tesouro da Juventude, impresso antes da reforma ortográfica que trocou o ph por f? E a Enciclopédia Britânica? Tempos de e-book, jogo na fogueira?

Foi assim que produzi mais uma frase:

– Quem muda são os nossos corpos, a nossa alma fica.

O júri feminino (mulher, filha, cunhada) não se deu por achado. Quer o prático, o moderno. Um mundo diminuto, clean. Ah, estou sendo crítico demais. Teremos a deslumbrante varanda gourmet, com churrasqueira. Lotação: quatro sentados e cinco em pé.

Agosto de 2011

 

4 Comentários para “Trocar casa por apartamento… Brrrr!”

  1. Pôxa, você me convidou para ir lá e eu já prometi a mim mesmo: na próxima ida a São Paulo, Guarulhos é prioritária. Será que perderei essa chance? Repetinto Sérgio Vaz: Resista, Valdir !

  2. Hêhê… Ninguém que já foi ao Costelo vai se esquecer dele…
    Mas, Montezuma, a coisa do “resista” é brincadeira.
    Até porque… quem sou eu para dizer isso a sério? Desde os 18 anos moro em apartamento. E acho que tem lá suas vantagens.
    Uma coisa é certa: se o Valdir e Dona Haydée forem mesmo se mudar, tem que ter festa de despedida no Castelo.
    Sérgio

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