Era um sábado à tarde e o Toninho Boa Morte, sempre com seu terno cinza, sorriso de quem está bem com a vida, passava pelo estádio do Pacaembu. Viu a grande movimentação e perguntou quem estava jogando:
– Corinthians e Portuguesa, informou o pipoqueiro.
Torcedor quatrocentão do São Paulo, Toninho nunca havia visto o Corinthians jogar. Achou que seria uma boa oportunidade. Comprou ingresso e entrou.
Caiu no meio da torcida corintiana, a torcida que ficava nas arquibancadas, a mais fanática.
Com poucos minutos de jogo começou a chover. Toninho imediatamente se ergueu pra ir embora. Sentiu a mão pesada de um forte negão o obrigando a sentar.
– Tá pensando que vai onde? Vai ficá aqui e torcê com nós!
Assustado, mas educado e acreditando, como sempre, na boa educação e nos bons propósitos de todos, Toninho tentou argumentar:
– Mas está chovendo…
– Vai tomá chuva com nós. Sentaí!
Pobre Toninho ficou ali. E quando o Corinthians atacou e a torcida toda se levantou, o negão se indignou ao vê-lo sentado:
– Tá torcendo pouco por quê? Tem que vibrá com nós.
Foram 45 minutos de sofrimento. Toninho só se viu livre do incrível seqüestro quando veio o intervalo do jogo e o negão resolveu ir ao bar tomar um mé.
Toninho contava a história e ria de seu próprio alívio:
– Ainda bem que o moço não me obrigou a ir tomar cachaça com ele.