A Prefeitura mente e me agride

Minha caixa de correios não é lixo. Mas não posso impedir que alguém, da rua, jogue nela suas impropriedades. Foi o que alguém, não sei quem é, porque não assinou seu nome e apenas rubricou com um garrancho, fazendo crer que é funcionário da Prefeitura de minha cidade, jogasse um “papelixo”, um auto de suposta infração cometida por mim. Haja paciência para quem cumpre todos os seus deveres de cidadão, paga seus impostos municipais, estaduais e federais (estarei esquecido de outras gargantas burocráticas famélicas?).

Em julho de 2007 denunciei, neste espaço, um tal ponto limpo de lixo, criação da municipalidade, placa colocada em uma praça perto de onde moro. Eis o que escrevi, então: “É logo ali, a uns quarenta metros de minha casa. Houve um dia, não sei exatamente quando, em que a calçada em frente virou depósito de toda espécie de detrito. Não foi sempre assim. Aconteceu um momento inicial em que alguém resolveu fazer daquele local uma lixeira. O primeiro que o fez atraiu vontades semelhantes. Assim como, na multidão, um berra e todos os demais desandam a gritar, o inventor original da sujeira foi seguido por uma séria de adeptos. Não sei quantos, pois muitos desovam seus detritos no silêncio da noite, às escondidas. Outros não se preocupam com os olhares de admoestação dos vizinhos e descarregam seus produtos à vista de quem os estiver observando”.

Semana passada, lembrando que o perigo pode morar ao nosso lado, contei o caso do homem que queima um pouco daquele lixo todas as noites. E falei, também, de minha relação cidadã com o funcionário que, todos os meses, vem à minha casa verificar se existem focos da dengue e que me revelou sua preocupação (mais minha, que tenho baixa de plaquetas e não posso adquirir novamente essa doença) com o desrespeito de uma vizinha que não tampa a sua caixa d´água.

Já falei aqui de meu relacionamento cordial com os profissionais que recolhem o lixo na minha rua. E de como me preocupo em deixar, diante do portão, nos três dias da semana em que eles passam, bem embalados, fortes e protegidos, os sacos que eles manusearão. Eles me conhecem e podem testemunhar que sou um cidadão que respeita as pessoas e seu trabalho e não suja a rua nem a cidade.

Vou ignorar o auto de infração mentiroso. Não descarto lixo domiciliar em local proibido. E não permito que os meus o façam. Que provem o contrário. Não pagarei os reais da multa em quinze dias e nem recorrerei em cinco. Tenho mais o que fazer. Se a Prefeitura me processar, eu a processarei.

P.S.: desculpem-me, leitores, pela indignação.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em 2/2011.

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