Nos tempos em que a NÃO fraudável urna eletrônica nem era cogitada, os eleitores escreviam em cédulas de papel o nome dos seus candidatos. Era uma farra para os descontentes. Os eleitores escreviam nas cédulas desde palavrões cabeludos, especialmente os que mencionavam as mães de certos políticos, até nomes de bichos.
Cacareco, por exemplo, uma rinoceronta que foi emprestada do zoológico do Rio de Janeiro para o de São Paulo, foi eleita vereadora com cerca de 100 mil votos nas eleições municipais de outubro de 1965.
Cacareco é o nome que se dá a um objeto velho, sem valor, inútil. (Como se vê, nada mudou. Já naquela época os políticos eram vistos dessa forma.)
Outro bicho que ficou famoso, dessa vez nas eleições cariocas, foi o chimpanzé de nome Tião, que morava no zoo do Rio. Tião é apelido que vem de Sebastião, ou de São Sebastião, padroeiro da Cidade Maravilhosa. O sujeitinho era conhecido pelo seu mau humor e pela falta de educação. Além de mostrar seu pingolim pras moças, tinha o hábito de atirar bosta e lama nos visitantes, especialmente nos políticos. Marcello Alencar foi um dos seus alvos, assim como o prefeito Júlio Coutinho.
Por ser esse casca grossa já manjado pela população foi que, em 1988, a revista humorística Casseta Popular, com o apoio do então deputado Fernando Gabeira, resolveu lançar a candidatura do chimpanzé à prefeitura do Rio de Janeiro, como forma de protesto ou por pura gozação. Macaco Tião recebeu 400 mil votos e ficou em terceiro lugar na disputa.
Hoje, como não existe mais aquela cédula onde se podia escrever esquisitices, alguns candidatos resolveram participar da corrida eleitoral registrando eles próprios seus nomes esdrúxulos na tentativa de chamar a atenção e de conseguir uma votação expressiva, quem sabe, como a de um Macaco Tião ou de um Cacareco.
Apesar da resolução de número 23.373 do TSE de proibir nomes “ridículos ou irreverentes”, alguns escapam aos olhos da lei e se registram com seus apelidos preferidos.
Thor, o Pagodeiro do Amor, lá do Espírito Santo, candidato a deputado pelo União Brasil, escolheu esse nome porque passou a cantar pagodes românticos na cadeia onde esteve preso em regime fechado, depois de condenado por homicídio. Antes ele usava Thor, o Trovão da Avenida ou Thor do Império. Porém o romântico pagodeiro não vai poder usar esse nome. Foi impugnado, não pela esdruxulice, mas porque extrapolou o número de carácteres permitido.
Fora os fulanos da farmácia, do açougue, da banca, da ração, da sopa, da sorveteria e até do acarajé, muitos chamam a atenção pelo mau gosto na escolha dos pseudônimos e pela falta de seriedade.
Vi nomes como Bin Laden Gari, João Poucas e Boas, Baixinho do Pano, Arlequina Cosplay, Melhorzinho, Sifu Marcelo Ramos, Velho Barreiro, Danielzinho Kaceteiro. E vi também alguns “políticos internacionais” que resolveram tentar uma vaga por aqui. É o caso de Barack Obama e do Luizão Dona Trumpi.
O vereador de Paranavai (PR) pelo União Brasil, que já teve seu mandato cassado (depois revogado), provavelmente pensando em crescer como político, adotou o nome de Pó Royal. (Será esse o tipo de deputado que dá bolo nas votações de projetos?)
Mas nem todos são grotescos em suas escolhas. Tem também os gentis, que procuram ganhar o eleitor com educação e com promessas de ouvir o clamor do povo com atenção. Pelo menos deve ser essa a intenção do candidato a deputado do Rio Alceu Dispor.
Ainda tem uma lista enorme de deputáveis com nomes esquisitos, só não tenho espaço para publicá- los.
Xapralá! Afinal, qual é a importância de um mero candidato de nome irreverente perto de um presidente que tem seus humilhantes apelidos de Imbroxável e Tchutchuca projetados na fachada de um edifício de grife como o Empire State Building?
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 23/9/2022.