No tempo em que o astro rei brilhava no firmamento era mais fácil escrever uma pequena crônica. As frases de efeito falavam por si – tempos em que até mesmo os gestos tinham voz. O leitor, inefável cúmplice de retóricas soberbas, não se assombraria diante da descoberta de algum amor abismal.
Ainda hoje um cultor do vernáculo poderia conquistar idílica paixão com a preciosa fala de outros tempos… Só que não! Me inclua fora dessa, diria ela. O sujeito insiste, diz que seu coração está sangrando. Ela é capaz de bater o telefone na cara dele. Não! Simplesmente desligar com um toque no celular. E antes disso, dizer: “Não sou pronto-socorro, vai procurar seu médico.”.
Nos antigamentes, uma paixão podia nascer de um flerte, hã… troca de olhares furtivos, isto é, paquera, em uma festinha de aniversário. Um bilhete seria passado discretamente de um rapaz para uma moça. Ela pediria à dona da casa licença para ir ao banheiro, leria a amável mensagem. De volta à sala, um sorriso bastaria para que ele tomasse coragem e discretamente lhe dirigisse a palavra. “Como é seu nome?” “Nancy,”
O uso do bilhete pode ocorrer ainda hoje, em emergências. Digamos, o garotão está com a namorada no bar. Subitamente nota, às costas dela, que uma despudorada o está comendo o com os olhos. “Bem, pega um refri pra mim”, ele pede à acompanhante. Enquanto ela vai, rabisca às pressas uma mensagem em um guardanapo de papel, faz uma bolinha e atira na mesa da outra. A mensagem: “To gamadão. Meu celu” (Vinha o número.)
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
Olavo Bilac
Quem?
Novembro de 2020