Eta juiz porreta

O que faz um confinado para evitar o canto da sereia – a Melô do Bolsô – quando se dispõe a escrever um texto? Abre o baú de antigas reportagens.

Bateu na redação a informação de que um juiz havia redigido sua sentença em versos, para libertar um ladrão de galinha. Este de texto e Newton Aguiar, das lentes, saíram rápido para Varginha, Minas Gerais, às margens da Rodovia Fernão Dias.

Alceu Costa, o Rolinha, 22 anos, treze irmãos, órfão de pai e mãe, havia subtraído duas galinhas do galinheiro de um vizinho e fora preso em flagrante. O juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, deu sua sentença. “Solta-lo é decisão que a nossa lei refuta/ Pois todos sabem que a lei/ É pra pobre, preto e p…/ Por isso peço a Deus/ Que norteie minha conduta”.

E adiante: “É muito justa a lição/ do Pai destas Alterosas/ Não deve ficar na prisão/ Quem furtou duas penosas”.

Entrevistado o juiz, fomos atrás do beneficiado. Vivia em um barraco, em pequena cidade vizinha. O que diria sobre o magistrado? Imaginei que pudesse ser algo como “Homi bão sô”. Foi difícil encontra-lo. Por fim, lá estava ele. Fiz a entrevista, e lasquei a pergunta: “O que você acha do juiz?”. Resposta: “Legal pra caramba”.

Tirou a graça da história.

Pouco depois disse que era um homem bom, tinha gostado dele.

Agosto de 2020

Este é o volume 8 das anotações de um confinado. 

No volume 7, uma questão: se não dá para comemorar gol, que tal um futebol sem bola? 

No volume 6, o confinado adentra a cozinha e aventura-se diante do fogão. 

2 Comentários para “Eta juiz porreta”

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *