A calamidade pública número um

“A calamidade pública número um não é o coronavírus”, diz o título do artigo de Rolf Kuntz publicado em O Estado de S. Paulo no domingo, 22/3. “A número um, a maior e mais perigosa, assola o País há mais de um ano, pondo em risco a economia, a cultura, a gramática, as instituições, a natureza, o decoro e a saúde pública.”

A calamidade pública número um, diz Rolf Kuntz, um dos melhores e mais respeitados jornalistas do país, é Jair Bolsonaro.

Bolsonaro é “exatamente o oposto do que se espera de um governante”, escreveu Ascânio Seleme em sua coluna em O Globo de sábado, 21:

“No caso da Covid-19, ele cometeu e segue cometendo todos os erros que estariam incluídos em qualquer lista do que não fazer em caso de epidemia. Estão enganados os que enxergam nisso um método. É burrice mesmo. Bolsonaro parece ter sido inoculado por um cognitusvírus, o mesmo contraído por seu filho Eduardo Bananinha, que o impede de pensar com tranquilidade, analisando todas as alternativas, dando chance ao contraditório, abrindo espaço para o debate. Até mesmo o governador do Rio, Wilson Witzel, que muito recentemente não sabia o que fazer com a água contaminada da Cedae, parece um estadista diante de um abobado presidente. Witzel mostra serviço, toma medidas, assim como o ministro da Saúde, Luiz Mandetta. Enquanto isso, o presidente atabalhoado tumultua o trabalho dos outros e confunde a população.”

É exatamente isso. Bolsonaro, atabalhoado, abobado, tumultua o trabalho dos outros e confunde a população.

Demonstrou isso com uma clareza mediana na sexta-feira, 20. No mesmo dia em que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, previa um disparada de casos da doença em abril, levando a um colapso do sistema de saúde do Brasil, o atabalhoado, abobado Jair Bolsonaro saía-se com a frase chocantemente idiota:

– “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar.”

Nunca antes neste Planeta se ouviu tanta besteira saindo de uma única boca.

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O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira fala desse besteirol em artigo na página 2 do Estadão desta segunda-feira, 23:

“Uma simples retrospectiva das falas oficiais, e já foram inúmeras, nos mostraram que elas não contêm nenhuma mensagem relacionada às reais necessidades do povo. Raramente o chefe do Executivo se manifesta sobre pobreza, desigualdade social, distribuição de renda, integração das camadas menos favorecidas, educação. As ideias que propaga são sempre fixas, imutáveis, obsessivas, ligadas ao imaginário “perigo do comunismo”, à repressão policial, aos elogios ao regime militar, até à tortura, com desprezo pela cultura, pelo meio ambiente, pelas minorias.

“Quando o discurso não é rancoroso e ofensivo, é uma fala quase pueril, que demonstra total alienação e falta de um pensamento culto e elevado. Discorre sobre radares nas estradas, cadeiras para crianças, tomada trifásica, cobrança ou não de taxas para turismo, terra plana e tantas outras preciosidades que tais.”

Mariz de Oliveira conclui seu artigo conclamando a sociedade a se mobilizar contra Jair Bolsonaro:

“Não vejo conciliação possível e a sociedade deve ser alertada para os riscos reais de uma ruptura social, caso não haja uma reação. Reação expressa e objetiva, manifestada pelos meios possíveis, que possam atingir toda a sociedade brasileira. (…) O campo para a reação é fértil. Assim, um trabalho eficiente de persuasão, que conte com os Poderes Legislativo e Judiciário, com entidades como a OAB, a ABI a CNBB, provocará uma mobilização social, que hoje constitui um dever cívico indeclinável e impostergável, e poderá até mesmo nos trazer uma esperança: a de que o primeiro mandatário tenha a lucidez de reconhecer que não pode mais nos governar, ou melhor, nos desgovernar.”

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Uma mobilização é sem dúvida alguma necessária. A questão é que Bolsonaro jamais teve e jamais terá lucidez alguma. Não vai renunciar  nunca.

O que fazer, então?

Dorrit Harazim sugere que a sociedade deixe Jair Bolsonaro falando sozinho.

Em artigo em O Globo do domingo, 22, a jornalista escreveu:

“Qualquer cidadão de sensatez mediana já percebeu que a nau presidencial está à deriva, perdida em suas próprias simulações de comando e controle. Seja na condução da nação em tempos de pandemia, seja no manuseio disléxico de uma simples máscara protetiva ou na inconfiabilidade das informações referentes à sua própria saúde, Jair Bolsonaro e sua prole mereceriam ser confinados ao papel de coadjuvantes do drama nacional. Se possível, deixá-lo falando sozinho em ‘Eu, como estadista…’ (designação que no cenário do mundo hoje só combina com a chanceler alemã Angela Merkel), e seguir em frente. Seguir, sobretudo, orientações que soem racionais e confiáveis vindas de nossas autoridades de Saúde, de alguns governadores, e seletas prefeituras.”

É mais ou menos o que sugere também a jornalista Dora Kramer, em artigo na Veja desta semana. Ela diz – com toda lógica – que não dá, neste momento da crise aguda do novo coronavírus, começar um processo de impeachment. Quando a crise passar, aí o país terá que encarar o tema:

“O que fazer? Antes da eclosão da urgência de saúde pública a questão do impedimento entrava na pauta ainda que como hipótese remota. Agora isso não cabe até em atenção ao sentido da emergência outra, mas a questão permanece no radar, pronta para amadurecer assim que o atual vendaval passar. Pode ser mais rápida ou lentamente. O ritmo vai depender do próprio presidente, a quem cabe sopesar alcan­ce e consequências de sua atuação, que, ao pesar cada vez menos, correm o risco de acabar não valendo nada.”

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Seguem abaixo as íntegras dos artigos de Dora Kramer e de Rolf Kuntz. E, depois, a íntegra do excelente editorial “O País que se lixe”, do Estadão de sábado, 21, que faz lembrar a verdade que não pode ser esquecida de forma alguma: o lulo-petismo e o bolsonarismo são males da mesma cepa.

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Café com Leite

Por Dora Kramer, Veja, edição nº 2679, data de capa 25/3/2020.

O Brasil é cheio de situações inusitadas quando se trata de Presidência da República: são presidentes (dois) que morrem antes de tomar posse, é presidente que renuncia com plano frustrado de voltar nos braços do povo, são outros dois que sofrem impedimento em menos de 25 anos, é presidente que se suicida, é presidente derrubado por golpe militar, enfim, já tivemos de quase tudo, mas nunca tivemos o que temos agora: um presidente no cargo, mas fora do exercício precípuo da Presidência.

Tantas Jair Bolsonaro fez no primeiro ano de mandato que os Poderes da República cansaram e, na hora da crise dramática de saúde pública com repercussões seriíssimas na economia e na política, o deixam de lado e vão ao trabalho. Ainda bem.

Enquanto no mundo os chefes de Estado são os porta-vozes da dimensão da gravidade, aqui o mandatário minimiza, mantém o travo de desafio político e faz cenas canhestras. As movimentações, tomadas de providências e reuniões de autoridades federais para tratar do andamento da pandemia da Covid-19, ocorrem sem a presença do presidente, que em palco paralelo contraria a realidade (planetária, diga-se) numa demonstração de completo descaso em relação ao conjunto dos governados.

Em contrapartida, Bolsonaro contribui para a deterioração de sua imagem/credibilidade/popularidade até junto aos simpatizantes e por isso tem recolhido malefícios. No seu afã diuturno de testar limites, desta vez ultrapassou uma fronteira perigosa, transitando do terreno das relevâncias fáticas para o ambiente das irrelevâncias práticas do qual se tornou cidadão honorário nesta crise. A figura dele remete à qualificação de “café com leite”, para alguém que não entende as regras do jogo e passa a ser visto pelos demais como a pessoa que joga sem valer.

Jair Bolsonaro assemelha-se hoje a um chefe café com leite. Ele fala e o país toca o baile ao ritmo das necessidades objetivas. O noticiário mais sério já começa a reduzir o espaço dele. A ponto de dia desses o Jornal Nacional simplesmente ignorar mais uma declaração do presidente sobre histerias e festinhas de aniversário, ocupado que estava em informar à população sobre o estado de calamidade pública e as precauções necessárias.

De fato, o Brasil e o mundo têm coisas mais importantes a fazer do que dar atenção a bobagens, ainda que presidenciais. Isso não quer dizer que não tenhamos um problema adicional por aqui, dado que ignorar o mandatário talvez seja o melhor remédio nesta hora aguda, mas obviamente não é uma opção de caráter duradouro.

A pandemia e seus desdobramentos não criaram a figura do Bolsonaro desprovido de senso político, social e, sobretudo, humanitário. Antes, permitiram que essa característica emergisse em público de maneira exacerbada e descontrolada que foi reprovada por todos. Nem a turma da linha de frente embarcou na canoa da negação. Descontados um ou outro ato de submissão, mesmo dentro do governo as reações foram da crítica à condenação, marcadas todas pela perplexidade.

Ficamos, e ficaram autoridades e especialistas de todos os setores, perplexos porque ao senso comum faltam parâmetros para compreender a razão de alguém, notadamente no exercício da Presidência da República, desafiar a racionalidade de atitudes que visam a preservar vidas.

O impulso é dizer que tal pessoa é portadora de personalidade sociopata. Isso pode até satisfazer de imediato a revolta, mas não explica as coisas, muito menos indica um caminho para a administração do problema. Ocorre coisa semelhante quando se diz que o presidente é fascista, e encerra-se assim a discussão de conceitos não necessariamente comprovados em face da história e da ciência.

A definição mais simples talvez seja a mais correta: trata-se de um homem reacionário, desprovido do mínimo preparo para qualquer ofício público de destaque. Nisso, Jair Bolsonaro encontra-se em igualdade de condições com milhares, provavelmente milhões de cidadãos e cidadãs que, no entanto, não estão onde ele está.

Surge, então, a pergunta: o que fazer? Antes da eclosão da urgência de saúde pública a questão do impedimento entrava na pauta ainda que como hipótese remota. Agora isso não cabe até em atenção ao sentido da emergência outra, mas a questão permanece no radar, pronta para amadurecer assim que o atual vendaval passar.

Pode ser mais rápida ou lentamente. O ritmo vai depender do próprio presidente, a quem cabe sopesar alcan­ce e consequências de sua atuação, que, ao pesar cada vez menos, correm o risco de acabar não valendo nada.

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A calamidade pública número um não é o coronavírus

Por Rolf Kuntz, O Estado de S.Paulo, 22/3/2020

Conseguiram humilhar o coronavírus. Depois de matar milhares de pessoas em mais de cem países, forçar milhões ao isolamento, arrasar mercados e levar o mundo à beira de uma recessão brutal, o serial killer foi rebaixado no Brasil à condição de segunda maior calamidade. A número um, a maior e mais perigosa, assola o País há mais de um ano, pondo em risco a economia, a cultura, a gramática, as instituições, a natureza, o decoro e a saúde pública. O Congresso cuidou só do problema número dois, portanto, ao aprovar uma declaração de calamidade pública. Levam-se em conta nessa decisão os danos causados pela pandemia do vírus causador da doença conhecida como covid-19. Ao reconhecer uma situação excepcionalmente grave, o Legislativo abriu caminho para ações também extraordinárias. Com isso o governo poderá incorrer num déficit primário superior a R$ 124,1 bilhões, limite previsto no Orçamento. Haverá condições, enfim, para toda a ação necessária contra os males associados à pandemia?

Isso dependerá, em boa parte, de como se comporte a calamidade pública número um. As ações preventivas e compensatórias anunciadas pelo Executivo federal, até agora, foram tomadas contra as convicções demonstradas por sua excelência, a calamidade número um. Mesmo a reação da equipe econômica foi muito lenta. Há pouco mais de uma semana o ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda cobrava do Congresso a aprovação de reformas como resposta aos novos desafios.

Uma boa reforma tributária será, sem dúvida, importante para a retomada de um crescimento seguro e duradouro, mas os novos problemas da economia requerem respostas imediatas. Além disso, o Executivo nem sequer havia apresentado ao Legislativo suas ideias para a reconstrução dos impostos e contribuições. O projeto de reforma administrativa, prometido para logo depois do carnaval, continua em alguma gaveta.

A equipe econômica só apresentou uma coleção razoavelmente ampla de medidas na última segunda-feira, depois de desafiada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A grande novidade do pacote foi a atenção, inédita ou quase inédita no atual governo, aos desempregados e aos mais pobres. O anúncio das iniciativas teve como contraponto comentários de sua excelência, a calamidade maior. Os comentários mais uma vez puseram em dúvida a gravidade da crise e atribuíram exageros aos meios de comunicação.

Segundo sua excelência, tem havido histeria na reação à crise. O Brasil, afirmou, já enfrentou desafios mais graves. Não os mencionou, no entanto. A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, compararam a emergência de hoje com a 2.ª Guerra Mundial. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, definiu-se como “um presidente de tempos de guerra”. Recordando o conflito da Coreia, ele indicou a intenção de invocar a Lei de Produção de Defesa, de 1950, para ampliar a fabricação de máscaras, luvas e equipamentos hospitalares. No Reino Unido, a Ford se prontificou a produzir respiradores para hospitais. Na França, indústrias de perfumes participam do esforço para aumentar a oferta de álcool gel. Pelos critérios de sua excelência, a calamidade número um, devem ser um bando de histéricos.

Se esse for o caso, a mesma histeria tem dominado, no Brasil, governadores e prefeitos, dispostos a restringir as aglomerações para conter – ou pelo menos tornar mais lenta – a difusão do novo coronavírus. As limitações afetam o funcionamento do comércio e dos serviços. Dirigentes de empresas privadas já haviam avançado nessa direção, mandando para casa os trabalhadores mais velhos, organizando sistemas de home office e alterando os horários de trabalho. Aparentemente sem perceber ou entender esse amplo movimento, sua excelência mais de uma vez acusou governadores de impedir o bom funcionamento da economia.

Se sua excelência tiver razão, esses governadores, assim como os prefeitos, devem estar dispostos, por mera incompetência ou por demagogia autodestrutiva, a perder receita de impostos num ano já difícil desde o começo. À sombra da calamidade maior, a economia já foi mal no ano passado. Quanto aos dirigentes de empresas, só podem ser, por esse critério, um bando de cretinos. A prova disso é a disposição de complicar o funcionamento de suas companhias – atitude agravada pela aceitação pacífica das medidas de prevenção sanitária ditadas pelo poder público.

Sua excelência tem alternado o discurso contrário à prevenção com declarações bem comportadas a favor dessa mesma política. De vez em quando, no entanto, suas convicções e preocupações mais fortes irrompem de forma descontrolada. Isso ocorreu, por exemplo, quando a ilustre figura se declarou disposta a entrar em barcas e metrôs para se juntar ao povo. Já havia feito algo do gênero, violando recomendação médica, ao participar de manifestação em Brasília. Nessa manifestação houve cartazes contra os Poderes Legislativo e Judiciário – contra a ordem institucional democrática, portanto. Alguma surpresa quanto ao entusiasmo de sua excelência?

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O país que se lixe

Editorial, O Estado de S. Paulo, 21/3/2020.

Desde a campanha eleitoral de 2018 se sabe que lulopetismo e bolsonarismo são da mesma cepa. Um alimenta o outro, na expectativa de que a polarização os favoreça, e ambos só se preocupam de fato com os interesses de seus líderes messiânicos, nunca com os interesses dos brasileiros em geral – que são invocados por esses demagogos apenas para sustentar uma retórica salvacionista destinada a justificar expedientes autoritários.

Para o lulopetismo e o bolsonarismo, a aflição de milhões de brasileiros diante das catastróficas consequências da covid-19, para ficar apenas nesse dramático exemplo, não é nada senão instrumento para seus projetos de poder.

O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, sempre que se manifesta a respeito da epidemia o faz para responsabilizar terceiros, seja a imprensa, que noticia a crise, sejam os governadores, que tomaram providências duras para enfrentá-la. Chegou a dizer, no domingo passado, em entrevista à TV CNN, que “com toda certeza há um interesse econômico envolvido nisso para que se chegue a essa histeria”. Segundo o presidente, em raciocínio tão tortuoso quanto seu português, houve uma “crise semelhante” em 2009, em referência à pandemia de gripe A, mas “no Brasil o PT que estava no governo, e nos EUA eram os democratas, e a reação não foi nem sequer perto dessa que está acontecendo hoje em dia no mundo”. Traduzindo: para Bolsonaro, houve um conluio esquerdista envolvendo a imprensa e os governos do PT, no Brasil, e do democrata Barack Obama, nos Estados Unidos, para abafar a crise causada pela gripe A; agora, como tanto o Brasil como os Estados Unidos são governados por direitistas, “interesses econômicos” ocultos tentam desgastá-los.

A tática é antiga, tendo sido usada pelos mais conhecidos regimes totalitários ao longo da história: em meio a uma crise, atribui-se a responsabilidade a conspiradores que agem nas sombras com objetivos inconfessáveis, a serviço de potências estrangeiras. No caso do Brasil, o presidente Bolsonaro não disse quais eram esses “interesses econômicos” tão nefastos, mas os bolsonaristas trataram de esclarecer nas redes sociais: trata-se da China comunista.

Nesse ponto, como em tantos outros, os bolsonaristas se espelharam no presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chamou o coronavírus de “vírus chinês”. E Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, tratou de responsabilizar a China pela epidemia, causando um atrito diplomático com o governo chinês.

No mundo real, o comportamento de Eduardo Bolsonaro – que nada mais fez do que se inspirar no próprio pai e em Trump – irritou profundamente os representantes do agronegócio brasileiro, que depende em larga medida do mercado chinês. Mas essa consequência, para os propósitos bolsonaristas, é irrelevante; o que interessa é manter a mobilização dos devotos de Bolsonaro no momento em que o presidente vê diminuir sua popularidade.

Já o lulopetismo investe, como sempre, no cinismo desbragado. O PT, cuja passagem pelo poder ensejou a maior crise política, econômica e moral da história brasileira e que intoxicou a atmosfera democrática com um discurso de exclusão dos que questionam suas certezas ideológicas, aproveita a comoção do momento para tentar pegar carona nos protestos espontâneos contra Bolsonaro. Até a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, apareceu em vídeo no Twitter para estimular os panelaços – que, quando eram contra a presidente Dilma Rousseff, foram qualificados de “orquestração com viés golpista da burguesia” pelo partido. Como um parasita, o lulopetismo tenta extrair lucro político do terrível momento do País e aposta na falta de memória. Em vídeo compartilhado por Gleisi, a culpa da crise atual é atribuída a quem apoiou a oposição ao PT, o impeachment de Dilma e a reforma trabalhista. Não fossem esses cidadãos, não haveria nem crise nem ódio no País, é o que diz, em resumo, o vídeo divulgado por Gleisi.

O lulopetismo e o bolsonarismo, como se vê, se merecem – e o País que se lixe.

21/3/2020

Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (4)

Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (3)

Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (2)

Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (1)

Um lembrete: esta série de textos e compilações não tem periodicidade fixa.

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