Vai melhorar. Não há dúvida, é certeza: vai melhorar. Já começam a aparecer os primeiros sinais.
Escrevi isso ontem, quinta, 10 de junho – e, para comprovar, transcrevi um artigo de Míriam Leitão e outro de Carlos Alberto Sardenberg publicados em O Globo.
Me senti obrigado a repetir a mesma afirmação hoje, ao ler duas reportagens, uma publicada no Globo, outra no Estadão.
A do Estadão, assinada por Josette Goulart, mostra que, em menos de um mês, depois do afastamento de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, os investidores estrangeiros compraram US$ 9,6 bilhões em bônus de empresas como Petrobrás, Marfrig, Vale, Eldorado e Cosan.
Isso é mais do que o volume captado pelas companhias brasileiras ao longo de todo o ano passado, que foi de cerca de US$ 8 bilhões!
A reportagem do Globo, de Lucianne Carneiro, relata que os bancos começam a ver uma recuperação mais rápida da economia brasileira, e estão revendo suas projeções para o PIB deste ano. Na quinta, dia 10,
Itaú Unibanco e BNP Paribas divulgaram previsões melhores para o Produto Interno Bruto (PIB). A do Itaú Unibanco passou de queda de 4% para recuo de 3,5%, enquanto o BNP Paribas mudou de perda de 4% para 3%. Na semana passada, o Bradesco já tinha alterado a estimativa de recessão de 3,5% para 3%.
É fantástico! É uma maravilha!
É como eu disse ainda ontem: as melhoras não são ainda perceptíveis no dia-a-dia das pessoas, e vai demorar para que sejam, porque o buraco em que a incompetência, o voluntarismo, os erros e a corrupção de 13 anos e quatro meses de lulo-petismo enfiaram o país é fundo demais. Não se interrompe uma trajetória de queda da noite para o dia. Muito menos se inverte a trajetória de queda para uma de subida para longe do fundo do poço. A recuperação vai ser necessariamente lenta – mas vai vir.
Transcrevo abaixo as duas reportagens. E aproveito para deixar aqui também a coluna desta sexta de Míriam Leitão no Globo, em que ela relata trechos de uma entrevista com Maria Silvia Bastos Marques. Ao ler o que diz a nova presidente do BNDES, dá ainda mais fé.
Vai melhorar!
Após mudança de governo, empresas captam US$ 9,6 bilhões no exterior
Reportagem de Josette Goulart, Estadão, 10/6/2016.
As empresas brasileiras estão aproveitando a melhora da avaliação sobre o risco Brasil, após a mudança de governo, para captar recursos no exterior e refinanciar suas dívidas. Em menos de um mês, os investidores estrangeiros compraram 9,6 bilhões de dólares em bônus de empresas como Petrobras, Marfrig, Vale, Eldorado e Cosan. A expectativa é de que mais companhias façam novas emissões nas próximas semanas.
A demanda por papéis de empresas brasileiras já conhecidas no mercado está muito superior à oferta, segundo o diretor-gerente do Bradesco Banco de Investimento (BBI), Leandro de Miranda, que esteve à frente das operações de Marfrig, Vale e Cosan. O volume captado pelas companhias nos últimos dias já supera todo o volume do ano passado, de cerca de 8 bilhões de dólares. Miranda lembra, porém, que a oferta de títulos ainda é baixa: há alguns anos, o volume de emissões no primeiro semestre ficava entre 25 bilhões de dólares e 30 bilhões de dólares.
Diversos fatores têm influenciado nas captações. Além da melhora na parte política, com a mudança de governo e a expectativa de que as reformas econômicas sejam feitas, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) indicou nesta semana que não deve elevar os juros. Assim, os investidores continuam procurando juros mais atrativos. Outro ponto é que muitos fundos de investimento estão com porcentuais históricos muito baixos de exposição ao Brasil – e com espaço para recompor seus portfólios.
Diante desse apetite por Brasil, os custos para as empresas têm caído, na esteira da queda do risco país, que era de 500 pontos básicos no início do ano e caiu agora para 300. O economista Nathan Blanche, da Tendências Consultoria, lembra, porém, que o dinheiro que está fazendo com que o dólar caia, a Bolsa se valorize e as empresas captem recursos ainda é de curto prazo, de investidores que se aproveitam de situações momentâneas.
“Não podemos esquecer que nosso risco já foi de 140”, diz. “Até outro dia, falava-se de insolvência fiscal em dois, três anos. Isso significa que, se as novas reformas não forem aprovadas, não teremos capital externo para investimento de longo prazo.”
O responsável pela área de mercado de capitais do banco Morgan Stanley, Alexandre Castanheira, diz que as empresas não estão neste momento captando para investir. A Marfrig, por exemplo, captou 750 milhões de dólares, e boa parte desse montante foi para recomprar títulos que venciam no curto prazo.
A única nova emissão, de empresa que não era conhecida dos investidores, foi a da Eldorado Celulose, que acabou tendo um pouco menos de demanda para seus papéis, segundo alguns executivos de bancos. Já a Vale, que pretendia emitir entre 500 milhões de dólares e 1 bilhão de dólares, acabou fechando em 1,25 bilhão de dólares, com juros abaixo de 6% e demanda por 5 bilhões de dólares. A maior captação do ano foi da Petrobras, de 6,75 bilhões de dólares, mas os juros ficaram acima de 8%.
Analistas começam a prever reação mais rápida da economia
Reportagem de Lucianne Carneiro, O Globo, 10/6/2016.
Os bancos começam a ver uma recuperação mais rápida da economia brasileira, com recessão em 2016 menor que aquela até então estimada. Ontem, Itaú Unibanco e BNP Paribas divulgaram previsões melhores para o Produto Interno Bruto (PIB). A do Itaú Unibanco passou de queda de 4% para recuo de 3,5%, enquanto o BNP Paribas mudou de perda de 4% para 3%. Na semana passada, o Bradesco já tinha alterado a estimativa de recessão de 3,5% para 3%.
— Para que esse crescimento seja sustentável, é preciso ter ganho de confiança, com a aprovação das medidas fiscais e um cenário de mais previsibilidade. E isso pode ajudar os investimentos — afirma o economista do Itaú Unibanco Felipe Salles.
Ele diz que o setor externo deve puxar o início da recuperação, mas sozinho não bastaria “para tirar a economia da recessão”. Por isso, aponta a importância da retomada dos investimentos. Já o consumo das famílias ficará na retaguarda, diz Salles, a reboque da piora do mercado de trabalho, que deve continuar até 2017.
Para Igor Velecico, economista do Bradesco, porém, o consumo pode se estabilizar na medida em que a incerteza diminuir, mesmo que o desemprego continue aumentando por alguns trimestres. Segundo ele, o consumo em baixa reflete uma precaução em razão da incerteza e pode haver reação positiva do consumo no segundo semestre.
Em relatório assinado pelos economistas Marcelo Carvalho e Gustavo Arruda, o BNP Paribas diz que o país vive “o momento de virada”. Eles dizem que é difícil identificar esses momentos, porque os setores reagem em ritmos diferentes, mas que os indicadores de confiança de empresários e consumidores estão avançando. Na avaliação de Carvalho e Arruda, o padrão histórico da economia brasileira é de uma recuperação mais rápida do que o mercado espera e até do que a projeção do BNP Paribas (de alta de 2% em 2017). Considerando momentos passados, a alta seria de 4%.
Com uma projeção de recuo do PIB em 3,5% desde outubro, o chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, afirma que tem projeção “confortável” e não prevê mudanças.
— Não dá para escapar de uma recessão pesada em 2016. A grande questão é quando será a virada este ano, para saber qual será o impacto estatístico em 2017 — diz ele.
Para 2017, as projeções são de avanço de 1% (Itaú Unibanco), 1,5% (Bradesco) e 2% (BNP Paribas) e não foram alteradas.
Sob nova direção
Coluna de Míriam Leitão, O Globo, 10/6/2016.
Maria Silvia fala com o entusiasmo de sempre sobre a equipe e planos para o BNDES. Perguntei como via o fato de estar num governo provisório. “Sinceramente, eu não vejo. Eu não tenho tempo. Eu estava no banco como diretora no impeachment de Fernando Collor. Trabalhei até o último dia. Agora vou fazer o melhor que posso durante o tempo em que estiver no cargo”.
Entre as várias áreas que a nova presidente considera que o BNDES pode atuar está a de privatização e de concessões. Ela disse, no dia da posse, que já estava em contato com o governador do Rio:
— Agora há governadores me procurando, querendo fazer concessões na área de saneamento, além do Rio. Isso pode ser uma ferramenta importante na renegociação da dívida dos estados.
O BNDES recebeu de repasses do Tesouro, durante os governos Lula e Dilma, meio trilhão de reais. Era para garantir o investimento e o crescimento. Isso foi feito à custa de um brutal aumento da dívida pública. Mesmo assim, o investimento cai a 10 trimestres e o país está na pior recessão de sua história. Perguntei para ela, na entrevista que me concedeu para a GloboNews, como isso pode ter acontecido:
— Estudos mostram que esses recursos que as empresas tomavam no BNDES elas teriam acesso em outras fontes, e muitos desses investimentos já seriam feitos. Em muitos casos, o BNDES apenas substituiu a fonte e não houve aumento do investimento na margem. Acabou inibindo o mercado de crédito. Uma parte desses recursos, e não foi pequena, já veio com uma destinação. Era para o Programa de Sustentação do Investimento ou para a compra de ações de empresas públicas, como Petrobras e Eletrobras.
Ela acha também que o banco deveria ter outras fontes de financiamento:
— Hoje as fontes do BNDES são o Tesouro e o Fundo de Amparo ao Trabalhador, ou seja, recursos públicos, mas nem sempre foi assim. Eu mesma quando fui diretora do banco participei de road show para lançar bônus no exterior. Se a economia retomar o crescimento, é muito natural fazer um mix de fontes. O banco tem que ser um indutor do crescimento, ajudar a reduzir a dívida do país e trabalhar pelo desenvolvimento do mercado de financiamento de médio e longo prazos.
O BNDES terá que devolver nos próximos três anos R$ 100 bilhões do dinheiro transferido pelo Tesouro, e a grande dúvida é se isso fará com que o banco fique sem recursos para emprestar.
Maria Silvia explicou que a devolução dos recursos foi uma decisão de governo, da qual participou assim que foi nomeada, e que foram os técnicos do BNDES, olhando as regras prudenciais e os requerimentos do Índice de Basileia, que concluíram o volume e o cronograma das devoluções. Serão R$ 40 bilhões este ano:
— Costumo dizer que se faltar recursos é sinal de que a demanda pelos nossos empréstimos reaqueceu. Quando isso acontece é que estamos entrando num ciclo positivo da economia.
Nesta primeira semana desde a posse, Maria Silvia se ocupou em montar uma equipe e quis falar dela na entrevista. Montou um time de peso com pessoas de experiência diversificada. Alguns do próprio banco, como a chefe de gabinete, que é Solange Paiva, ex-diretora da Anac. Entre os diretores, está a engenheira Marilene Ramos, ex-presidente do Ibama, que foi para a área de infraestrutura. A economista Eliane Lustosa, ex-diretora da Petros, assumirá o BNDESPar e cuidará também da área de Recursos Humanos, onde está o fundo de pensão dos funcionários, a Fapes. O professor da PUC Vinícius Carrasco, que tem vários estudos sobre o banco, assumiu a área de planejamento. Ricardo Baldin que foi da consultoria PWC, assumiu a nova estrutura de controle. Claudio Coutinho, que foi do BBM, vai para a área de crédito. A diretoria tem também dois funcionários de carreira do BNDES. Claudia Prates fica responsável pela área de indústria, serviços e insumos básicos; Ricardo Ramos está na diretoria de comércio exterior e operações indiretas.
Maria Silvia disse que a equipe econômica está trabalhando afinada, com os mesmos objetivos:
— O diagnóstico é que a questão crucial é reduzir a trajetória da dívida bruta, que cresce a um ritmo insustentável e é parte da nossa perda de credibilidade.
A economista disse que no banco e na área econômica estão todos trabalhando intensamente para tirar o país da crise, apesar de a economia estar atrelada à questão política.
— Talvez tenhamos chegado ao fundo do poço, mas vai ser um ano difícil.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
10/6/2016
Aproveito este nobre espaço para responder às provocações feitas pelo Miltinho, lá embaixo, na matéria “Um olho no peixe, outro no gato”, de Hubert Alquéres: não, Miltinho, nunca aplaudi ditaduras, nem de esquerda e nem de direita. Já contei até como meu Passat 76 levou opchicotadas do General Newton Cruz, num buzinaço. Esse truque de associar automaticamente críticos do PT à ditadura militar só engana a militância. E também não aplaudo golpes. Um impeachment não vai ser transformado em golpe somente porque o PT usa e abusa da manjada técnica de repetir uma mentira à exaustão. No Brasil de hoje, esse tipo de mentira também só funciona com a militância, com os convertidos da seita dos bilhões. Eu juro que não preciso da propaganda petista para me “ajudar” a entender algo definido de maneira tão clara na Constituição. Quanto à sua reprodução da propaganda petista de que Temer não foi votado para o cargo, informo que votei para vice em Aloysio Nunes, com a plena consciência de que ele poderia assumir a Presidência em determinadas circunstâncias. Ainda seguindo a legislação eleitoral e a Constituição, foi com essa mesma intenção que votei em todos os vices desde a redemocratização. Votei no vice de Lula e assisti à posse do vice de Collor, numa época em que o PT chamava isso de impeachment e não de golpe. Velhos tempos em que os companheiros ainda aceitavam a absurda disposição legal de que o voto para vice servia para que o sujeito fosse, estranhamente, eleito para o cargo de vice. Ainda hoje os eleitores de todas as repúblicas democráticas, talvez não devidamente alertados pelo PT, têm o exótico hábito de, nas eleições presidenciais, eleger tambem um vice presidente, para que exista um eventual substituto de plantão. Fiquei preocupado em saber que, depois de ter votado também em tantos vices, você agora, orientado pelos bem intencionados petistas, chegou à conclusão de que, ao contrário do resto do mundo, o voto para vice no Brasil não tem nenhum valor legal. Aliás, parece que, de acordo com o prescrito na propaganda, não se pode nem cometer a heresia de dizer que o sujeito foi eleito. O TSE é que se enganou ao interpretar a Constituição sem consultar os geniais petistas e programou errado aquelas maquininhas. Colocou ilegalmente nelas companheiros de chapa para todos os candidatos, sem avisar que estavam ali só de enfeite. Enganaram especialmente os eleitores de Dilma, colocando lá o nome de um libanês, só para aplicar o golpe depois. Deixaram propositalmente de avisar aos incautos o perigo que seria, depois, algum espírito de porco alegar que, ao apertarem aquela tecla, teriam votado também no libanês traidor. Felizmente o PT, desinteressadamente, está invalidando esses votos. Como todos sabem, no Brasil, terra da jaboticaba barbuda, nem todo voto é voto, nem toda lei é lei. Caso o PT não reconheça determinados votos como válidos, ou determinadas leis como legais, é golpe. E isso não por alguma inconformidade do nosso texto constitucional. Muito mais do que a legislação, o que se deve levar em conta mesmo é a abalizada opinião de exegetas do calibre intelectual de um Sibá Machado, de um Lindbergh, de uma Dilma Rousseff. Tenho até a curiosidade de saber quantas vezes Dilma cometeu a ilegalidade de, ao viajar, deixar no cargo um usurpador, que não foi eleito para tanto. Você não morre de de pena dos americanos, Miltinho, por terem cometido o erro histórico de deixar Lyndon Johnson assumir no lugar de Kennedy? Hoje está claro que, por falta de um Sibá Machado para ajuda-los a raciocinar, eles chegaram ao cúmulo de aplicar um golpe no pobre do Nixon. Será que também deixaram o coitado do Richard sem comida?
Saudações, direto da praia de Ponta Verde, Maceió.
Eis a raiz do golpismo. Voto vale ou não? Se vale para vice vale para presidenta. Os que apoiaram o golpe de 64 viraram vibrantes militantes contra o regime instalado com apoio verde oliva. Os apoiadores do golpe de hoje, nobres coxinhas vestidos de amarelo seleção veem no ilegítimo vice a esperança de melhora.
Que vai melhorar vai, mas melhorar para quem? Enquanto milhares protestam na Paulista contra o vice, alguns torcem por Aloysio Nunes em Ponta Verde.
LC não quero invadir sua praia, aproveite.
Saudações direto do piscinão de Ramos!
Parece claro, finalmente, a cultura que tomou o poder por um golpe jurídico, parlamentar e midiático estuprando e violentando a democracia.
Irão se arrepender mas não darão o braço a torcer
A Esperança de um povo
está na semente de fé
plantada nas manhãs de sol
e na coragem de amar.
Pois virão os frutos
e mesmo entre espinhos
dos invernos mais brutos
O Povo florescerá.
Sergio Vaz