Dilma Rousseff acertou no diagnóstico: o pessimismo está no ar.
Também pudera. Só hienas, acostumadas a rir de sua própria desgraça, alimentariam sentimento distinto diante da inflação alta que esburaca o bolso principalmente dos mais pobres, do crescimento pífio a sinalizar redução na oferta de emprego, de serviços públicos cada vez mais precários, da escalada da corrupção. Ânimo difícil de ser revertido se a ação da presidente se limitar ao slogan marqueteiro “Xô, pessimismo!”, esboçado por sua campanha à reeleição.
Ao longo da semana, Dilma recitou o discurso decorado: quer fazer crer que o Brasil vai muito bem, obrigado, e que as críticas são passam de mau agouro daqueles que torcem pelo “quanto pior melhor”. Fala como se houbesse uma gigantesca conspiração contra o seu governo, como se os números negativos fossem plantados pela oposição e os indicadores econômicos estivessem sendo manipulados contra ela.
No máximo, aceita atribuir os problemas do Brasil à crise internacional, já distante até mesmo dos países que a provocaram.
Usa e abusa do sucesso da Copa do Mundo como exemplo dos erros cometidos pelos analistas. Esquece-se das promessas não cumpridas, do legado que não veio, da inutilidade de várias das arenas, elefantes-brancos que custaram milhões ao contribuinte e já estão sem uso. Por fim, rouba para o seu governo o crédito dos brasileiros que perderam fragorosamente dentro do campo, mas deram um show de alegria. Este, sim, o verdadeiro sucesso do Mundial.
Chamem como quiser – pessimismo, negativismo, desesperança -, mas qualquer pessoa que some um mais um sabe que essas sensações estão associadas diretamente à falta de crédito no governante.
Não raro, são frutos de plantios desastrados, mal planejados, feitos por quem não é do ramo, mas acha que é. Adubados por promessas que não se materializam, geram desconfiança e incerteza sobre a capacidade do governante de garantir a próxima colheita, quanto mais prosperidade. Algo crucial para quem deseja renovar o mandato.
Por mais bem feita que possa ser – e será -, a campanha contra o pessimismo pode, no máximo, maquiar a realidade.
Mas não será capaz de reverter os indicadores econômicos. Muito menos dará conta de coisas como as 6.000 creches nunca criadas, UPAs que não saíram do papel, o paralisado megaprojeto de transposição do Rio São Francisco. Ou de consertar malfeitos em todas as obras de infraestrutura auditadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), de acordo com relatório revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. De coibir a corrupção.
Pode até dar certo, mas é um bordão de risco.
Xô!
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 2/8/2014.
Parte dos conflitos que vimos crescer nas ruas a partir de junho de 2013 tem origem na incapacidade das instituições de aprofundar a compreensão do Brasil contemporâneo.
Presos a essa roda de ignorâncias por aceitarem a dependência de um sistema de mídia limitador e intelectualmente modesto, governantes que deveriam tomar a iniciativa da mudança não se mostram capazes de inovar. Os candidatos ao cargo mais elevado do sistema de poder, colocados diante da oportunidade de expor o que se espera sejam ideias inovadoras, repetem velhas receitas genéricas.
A imprensa compra qualquer coisa e repassa ao público o que é o desconhecimento geral do Brasil sobre si mesmo.
Pois é, Miltinho… os governas, no lugar de buscar soluções inovadoras – e mesmo ousadas – para o País/Estado/Município, ficam dando moral para o que Band/Globo/SBT apregoam: reforma trabalhista, previdenciária, privatizações etc.
Ferrovias e reforma agrária, nem pensar.