Não sou muito fã das pessoas que são fãs fanáticas, tietes, groupies. Acho isso um tanto bobo, um tanto adolescente, um tanto histérico.
Claro: como todo mundo, sou profundo admirador de algumas personalidades – de Bob Dylan a François Truffaut, de Mikhail Gorbachev a Mario Covas, de Liev Tolstói a Roberto Carlos, de Leila Diniz a Georges Moustaki. Tive muita sorte na vida, inclusive a oportunidade de aplaudir muitas das pessoas que não me envergonho de chamar de ídolos – como Pete Seeger, Mercedes Sosa, Milton Nascimento, Paul Simon, Paul McCartney, Nara Leão, o próprio Roberto Carlos.
Uma vez, no Anhembizão, cheguei a ter um momento de tietagem: berrei uma frase da qual nunca esqueci – até porque tem uma testemunha que sempre faz questão de lembrar o vexame: “Roberto, você é demais”. Eu tinha 20 anos, e tinha bebido umas cachaças. Aos 60 anos, e sóbrio (às vezes também fico sóbrio), continuo achando que Roberto é demais – mas tenho bastante vergonha, faz 40 anos, da expressão de tietagem.
Tietagem é coisa um tanto boba, adolescente, histérica.
Ah, sim, tive outro momento de tietagem na vida. Tinha ido jantar numa cantina do Bexiga com Regina, e, numa outra mesa, estava Clementina de Jesus. Uma determinada hora, tomei coragem, me levantei, me aproximei dela e falei algo do tipo: “A senhora permite que eu dê um beijo em sua mão?”
A tietagem no Anhembizão me envergonha mais do que a que demonstrei na cantina do Bexiga. Esta foi mais sutil; falei baixinho com Clementina, não berrei.
Mas estou tergiversando.
Teoricamente, não gosto de misturar muito obra e autor. São coisas diferentes. Teoricamente, nego pode ser um babaca absoluto, mas, se sua obra for boa, beleza – que se respeite a obra.
Como na prática a teoria vai sempre pras cucuias, volta e meia me pego me afastando do que considero certo. Já tive grande antipatia de Gilberto Gil na época – eram os anos 80 – em que ele ficou, para o meu gosto rígido e esquerdóide de então, muito festeiro, muito dancing, muito plumas e paetês. Já me peguei puto da vida com Bob Dylan porque ele ficou muito cristão, quando eu me considerava muito ateu. Hoje em dia me flagro tendo antipatia por Gilberto Gil por ter sido ministro ruim do desgoverno Lula, ou maior antipatia ainda por um dos maiores ídolos que tive na vida, Chico Buarque, por ele insistir em ser tão dinossauricamente, niemeyermente comunista.
Sei que tudo isso é errado, idiota, sem sentido, sem lógica. A arte de Gil, de Dylan, de Chico é muito maior do que as eventuais atitudes que eles tiveram na vida. Mas são pecados que cometo, mesmo sabendo que são pecados. De qualquer forma, sei que são pecados. Não me orgulho deles.
O certo, na verdade, é não misturar muito obra e autor.
Claro que quando o autor tem uma vida exemplar, tão admirável quanto a obra, é uma maravilha. É bom poder admirar uma vida tão maravilhosa quanto a obra – como é o caso, por exemplo, de Nara, de Joan Baez, de Bruce Springsteen, de Pete Seeger, de Mario Covas.
Ter ídolo é natural. Admirar pessoas, pela sua vida ou pela sua obra, ou pelo conjunto, é natural, é normal.
Ser tiete, ser groupie, dar gritinho histérico, é coisa um tanto boba, adolescente, histérica.
Tive certeza disso, mais uma vez, hoje (quinta, 25 de fevereiro), ao ver as fotos de Lula e Franklin Martins sendo fotografados sorridentes, em flagrante de tietagem explícita, ao lado de Fidel e Raúl Castro, poucas horas depois da morte de Orlando Zapata Tamaya, após 85 dias de greve de fome.
É de dar vergonha. Profunda, imensa vergonha.
Meu amigo Sandro comentou comigo: “a foto do Lula fotografando o Franklin Martins com a mão no ombro do Fidel me deu arrepios na espinha”.
Ser tiete, ser groupie, dar gritinho histérico, demonstrar alegria ginasiana por estar sendo fotografado ao lado do ídolo é coisa bastante boba, adolescente, histérica, babaca.
É de dar arrepios na espinha.
Quando o ídolo é o ditador caquético, dinossáurico, responsável pela morte de centenas de presos políticos, uma delas ocorrida menos de 24 horas antes da tietagem explícita, grotesca, então, é o pior dos horrores.
Lula, Franklin, Dilma, Dirceu R$ 620 mil, esse bando, essa quadrilha, essa corja, dá vergonha, arrepios na espinha, asco, nojo, ânsia de vômito.
25/2/2010
Já tinha escrito aqui sobre a morte de Orlando Zapata Tamayo, mais uma vítima da ditadura dos irmãos Castro, mas, quando Mary falou sobre a tietagem explícita nas fotos, que ela iria comentar no seu artigo do domingo, dia 28, para o Blog do Noblat, não resisti, e voltei ao assunto. Muita gente já falou da indignação diante dessas imagens deprimentes, que sujam ainda mais a história da diplomacia brasileira. Mas nunca é demais insistir nesse tema.
Sérgio,
concordo até com as entrelinhas.
Beijo
Vivina.
Cara! Faltou citar o cantor popularesco Alexandre Pires, emocionado ao ver o facínora George Busha-di-Canhon em Washington!
Sem dúvida, o Sr. Pires também abraçaria o Nixon, um dos assassinos do Vietnã. Aquele país onde estima-se que 4 milhões, entre civis e soldados, morreram no meio do mato, envenenados pelo agente laranja.
Vaz, o teu artigo não deve se referir à turma do Fidel, mas sim a qualquer tietagem nojenta.