Marianne Faithfull

A garotinha linda demais, mais bela que qualquer boneca Barbie, que cantava com a voz mais doce do mundo “As tears go by” e “Scaborough Fair”, me deixou profundamente impressionado quando a vi madura, depois de muita história, muita droga, muita barra, fazendo aquele papel impressionante em Irina Palm (2007). Meu, que coragem!

Mulher impressionante essa Marianne Faithfull. Que os anjos a recebam com o respeito que ela merece. Nós ficamos aqui mais algum tempo no boulevard of broken dreams.

Coloquei esses dois parágrafos aí acima no Facebook, no meio da tarde desta quinta-feira, 30 de janeiro, assim que fiquei sabendo da morte dela, aos 78 anos, em Londres – “pacificamente, ao lado de sua amorosa família”, segundo o comunicado distribuído por seu agente.

E, em seguida, fui ler o que escrevi ao ver Irina Palm. Não me lembrava, claro, de ter feito assim uma espécie de minibiografia dela. E está correta, informativa. Pensei em talvez colocar aqui no + de 50 Anos de Textos. Tem algum sentido – mas ainda estava em dúvida.

A dúvida acabou quando vi a galeria de fotos dela que o Guardian publicou. Ah, meu, é impossível resistir. Vai aí abaixo a minibiografia que fiz em 2008 – mas, sobretudo, vão aqui algumas das fotos da galeria do Guardian.

1965

1965

1967

1973

2007, em cena de Irina Palm.

2007, no Festival de Berlim.

2018, em casa. 

Como Irina Palm, o filme ao qual empresta brilho, Marianne Faithfull  é uma figura em tudo extraordinária. Teve várias vidas e duas sólidas carreiras, a de atriz e a de cantora. Em 1968, estrelou A Garota da Motocicleta/The Girl on a Motorcycle, ao lado de Alain Delon, então no auge da fama; fez a Ofélia no Hamlet de Tony Richardson em 1969; fez diversos outros filmes para o cinema e participou de séries de TV; em 2006, trabalhou no Maria Antonieta de Sofia Coppola.

Apesar de todo esse bom currículo, ela teve ainda mais sucesso como cantora. Nascida em 1946, filha de uma baronesa e de um agente do serviço secreto inglês, estreou como cantora em 1964, aos 18 anos de idade, e seu primeiro compacto chegou aos primeiros lugares nas paradas de sucesso da Inglaterra e dos Estados Unidos; era uma canção composta por uma dupla de iniciantes, chamados Mick Jagger e Keith Richards – “As Tears Go By”. A música só seria gravada pelos Rolling Stones um ano depois.

Era uma menininha linda de doer, um rostinho perfeito, um tesão. A vozinha era pequena, mas de timbre gostoso, afinadinha, charmosa. Nessa sua primeira encarnação como cantora jovenzinha (haveria outras, depois), gravou pérolas pop, como “Yesterday” e “Monday Monday”, do folk, como “The First Time Ever I Saw Your Face” e “Four Strong Winds”, e do folclore dos Estados Unidos, como “The House of the Rising Sun”, e das ilhas britânicas, como “Scarborough Fair” (sim, é uma canção folclórica; Paul Simon fez apenas uma adaptação, um arranjo, embora tenha assinado como autor).

Por uma grande ironia do destino, acabou ficando mais conhecida como a namorada de Mick Jagger do que como cantora e atriz. Até que, a partir dos anos 70 e do rompimento com Jagger, afundou nas drogas – cocaína, heroína, álcool. A filha de baronesa conheceu o inferno; conta-se que morou nas ruas de Londres durante mais de um ano.

“Poucas estrelas dos anos 60 se reinventaram com tanto sucesso quanto Marianne Faithfull”, escreveu, bem escrito, o autor de sua biografia no AllMusic. Em 1979, depois de anos sem gravar, voltou com Broken English, um álbum belíssimo, cheio de dor; passou a escrever canções, com grandes colaboradores – e grande talento. Fez diversos outros belos discos a partir daí. Era outra cantora, tinha outra voz – uma voz bem mais grave, quebrada como o inglês do título do disco do retorno, algo próximo da voz das cantoras de cabaré, entre uma Marlene Dietrich e uma Ute Lemper.

Ao interpretar Maggie, não tem quase nada a ver com a adolescente lindérrima dos anos 60. É uma mulher grande; não é propriamente gorda, mas é grande, aparentando uma estrutura óssea pesada, forte. Perfeita para o papel de Maggie, uma matrona inglesa. O rosto tem as marcas de quem passou pelo inferno e voltou, mas mantém os traços belos, os olhos luminosos.

Postado em 30/1/2025

Um comentário para “Marianne Faithfull”

  1. Mais uma perda, RIP. Achei seu aspecto reluzente em 2007, sobretudo por tudo o que consumiu e a consumiu.

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