Independência ou morte

Ora, por que não ir ao Guarujá? Se estão lá o apartamento, comprado há décadas, os queridos parentes, e amigos jornalistas? Resposta: porque os anos passaram. Nos bons tempos, em certas sextas-feiras, fim de tarde, minha Haydée e sua irmã Dena chegavam com nosso carro e paravam na porta do Estadão/JT. Este narrador assumia o volante.

Guarujá, lá vamos nós! O tempo passou. 0 hoje aposentado seguiu descendo a serra. Encontrava-se com Elói Gertel e sua Vera, colegas do JT, que passaram a morar na cidade. Local do encontro: agradável bar e casa de chá, onde colocávamos a conversa em dia. Na sequência, os amáveis amigos nos ofereciam jantar em seu apartamento.

O destino vira a página. Minha Haydée falece. Os anos voam. Passo a ir muito menos ao Guarujá. Mas ia. Em horas tranquilas, partia de ônibus de Guarulhos, passava para um metrô quase vazio, chegava na rodoviária do Jabaquara, de onde saem os ônibus para o Guarujá.

Tomava meu cafezinho, em paz; comprava a passagem, para janela do lado direito. E com muita tranquilidade, embarcava. Dessa janela, descortina-se toda a Serra do Mar; as janelas da esquerda só mostram as encostas abertas nos morros. Quem sabe, sabe. Assim desfrutava a paisagem e com mais um pouco chegava a Guarujá, a pouca distância do apartamento.

Isso tudo tranquilo… até há alguns anos. Hoje a família não libera essa liberdade toda. O octogenário tem que ser removido em automóvel por elementos da família. Nada de transporte público desacompanhado. Mas preparo uma surpresa, para reconquistar minha liberdade.

Vou comunicar que estou comprando uma moto para me tomar independente. Já imagino a reação familiar. “Mas isso é morte certa”. Pois é, lanço o grito. “Independência ou morte”.

Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em 17/3/2025. 

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