Aventura em textos e fotos

Nos memoráveis tempos do Jornal da Tarde, belas (e às vezes ousadas) pautas levavam os repórteres a lugares remotos do País. Inajar de Souza (hoje nome de avenida na Zona Norte paulistana) foi parar no acampamento de uma empresa em plena floresta Amazônica. Na hora de dormir entrou no quarto e estancou. Havia uma cobra em um dos cantos.

Inajar deu meia-volta para a debandada, mas o funcionário que o acompanhava explicou: “Essa cobra não vai se mexer daí durante a noite inteira. Se tirar, enche de rato”. Inajar ficou com a cobra.

Este que vos escreve chegou com Rolando de Freitas e suas câmeras em Santa Quitéria, na caatinga cearense. Havia-se descoberto urânio na cidade. O hotel disponível era muito simples. Banho de canequinha (água pega em um tambor); quarto com redes para dormir. O sono veio logo para Rolando, mas fiquei lendo.

Um fio de eletricidade passava, no alto, por cima da minha rede. De repente, o fio começa a balançar. E surge o rato. E que rato! Ele segue pelo fio, passa bem por cima de onde estou, e acaba sumindo-se pelo quarto vizinho (os quartos não tinham forro). Tentei continuar a leitura; mas em vez disso ficava atento ao fio. Fechei o livro e fui dormir no carro.

No dia seguinte, um domingo, o prefeito abriu a Prefeitura para nos receber, de terno e gravata, em sua mesa de trabalho, com banda tocando no pátio de entrada.

No JT, viajávamos muito. Em julho de 1969, quando os astronautas americanos pousaram na lua, Anélio Barreto estava na Amazônia, em uma aldeia de índios que adoravam o deus Lua.

Em tempos mais recentes, 1983, a Polícia Federal chegou a Tefé, às margens do Rio Solimões, para combater o plantio do epadu, matéria prima da cocaína. Reginaldo Manente e este de texto aterrissamos na véspera.

O dono do lugar onde jantaríamos fez questão de preparar o prato mais tradicional da região, o tracajá, uma pequena tartaruga de rio. Com o prato à minha frente pedi para Manente fotografar. Mandamos a imagem para Raudáu Marques, o especialista em ecologia do jornal, que não gostou nada. (Da minha parte, achei saboroso.)

Em outra ocasião, matéria concluída e despachada, esticamos para nova pauta, uma pousada às margens do rio Teles Pires, no Pará. Lugar rústico, atraía pescadores até de São Paulo. Naquele cálido entardecer, os hóspedes não tinham chegado. O que fazer? Ora, que tal um mergulho naquele belo rio. E… por que não como os índios, nus?

Fomos! Muito agradável, até que um pensamento vara a minha mente. Falo para o funcionário que nos acompanhava da margem: “Não tem piranha neste rio, não é?” Resposta: “A gente não vê, mas que tem, tem”. Saída rápida!

Iniciamos em Marabá, Pará, em 1986, viagem pela Transamazônica. Paulo César Bravos com sua câmera e lentes. “A travessia do Inferno” seria o título de capa da revista Afinal. Atolamos em trechos impraticáveis, nos safamos pela ajuda de pessoas locais. Conseguimos chegar a uma agrovila, por fim alcançamos o acampamento de uma empresa que tentava conservar a estrada. Dali fomos em frente por quase um quilômetro até que… a embreagem do carro quebra!

Uma retroescavadeira rebocaria o carro até o acampamento, de onde mais tarde seria levado. Ficamos ali por dois dias, até surgir um caminhão da empreiteira que nos deixou em uma pequena vila. Ali, vi uma caminhonete passando e ergui o polegar da carona. Nossa viagem transamazônica terminou em cima de uma carga de bananas verdes, na mesma Marabá de onde havíamos partido.

(Depois, por estrada mais praticável estivemos na Hidrelétrica de Tucuruí e outros lugares.)

Em fevereiro de 1983, Edward Costa vivia um problema. Grande parte de seus filmes em cor tinha sido roubada. Estávamos à beira do Rio Tocantins, preparando, para a revista Afinal, matéria sobre o Estado que nasceria com aquele mesmo nome.

Naquele amanhecer, o cenário que tínhamos pela frente, o sol que acabara de raiar e um barco na travessia do rio, era belíssimo. Merecia muita foto, para escolher a melhor, como os fotógrafos sempre fazem. Mas Edward economizou. Fez uma, uma só – que seria a capa da revista.

Este texto foi originalmente publicado no blog Vivendo e Escrevendo, em 24/2/2025. 

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *