Valdir Sanches estava mexendo em fotos feitas por colegas profissionais das lentes – daquelas antigas ampliações em papel fotográfico –, e deparou com esta aí. Não se lembrava dela.
Eu me lembrava. Mais que velha, é uma foto histórica.
Estávamos, esses 14 aí, reunidos na manhã de uma sexa-feira de agosto de 1984, acabando de receber da gráfica os exemplares do número 1 da revista Afinal – a razão de termos, todos nós, abandonado bons empregos, seguros, bem pagos, em troca de uma aventura.
Eu abria mão de 14 anos de Jornal da Tarde e da S.A. O Estado de S. Paulo, uma das melhores e mais sólidas empresas jornalísticas do país. Valdir Sanches, Fernando Mitre, Sandro Vaia, Anélio Barreto tinham ainda mais anos de JT do que eu. Eram todos grandes profissionais quando entrei no jornal, foca de tudo, em 1970, levado pelas mãos de Gilberto Mansur, que também está na foto.
Ari Schneider, Miguel Ângelo Filiage e Mariozinho Schwartz também abandonavam um monte de anos no JT. Carmo Chagas, Geraldo Mayrink e creio que também Amilton Vieira deixavam a Editora Abril após anos e anos – e, em 1984, a Editora Abril parecia tão sólida quanto o New York Times, Gibraltar, o Everest.
Pedro Cafardo deixava a Folha de S. Paulo. Gilberto, não me lembro se saía diretamente da Editora Três, onde foi diretor de redação da Status. E o Gabriel Manzano, o Gabi, ex-JT, ex-Veja, ex-um monte de coisa, também não me lembro de onde estava saindo.
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Claro: quem vê essa foto pode perfeitamente dizer que isso aí é um Clube do Bolinha danado.
Não, a Afinal não era um Clube do Bolinha. Estavam no time Nair Keiko Suzuki, Marta Góes, Maria Amélia Rocha Lopes, Tonica Chagas, Cleide Abramo, Sarah Coelho.
Não sei dizer, de jeito algum, é por que as moças não estavam aí na hora da foto.
Também não estavam Melchíades Cunha Júnior, Dirceu Soares, José Roberto Palladino, Dagoberto Azzoni, Décio Vioto, Jorge Zappia, Carlos Roberto Motta, José Pinto, Roberto Faustino.
Este último tinha um bom motivo para não aparecer na foto: ele estava atrás da máquina que registrou o momento histórico.
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Não havia foca no grupo. Se havia, era eu – um foca com 14 anos de experiência no jornal que era modelo do bom jornalismo brasileiro.
Era um belíssimo time. Um bando de jornalistas experientes, testados, tarimbados – que, insisto, repito, largavam empregos sólidos, seguros, bem pagos, em troca de uma aventura.
Porque um cubano desconhecido no meio, mas simpático, envolvente, que fumava sempre, absolutamente sempre, um charutão, e dizia um “coño” em cada frase, veio com o papo de que queria fundar uma nova revista semanal de informação, e tinha uma grande fortuna para bancar a empreitada, e não tinha como dar errado.
A Afinal ainda não tinha completado dois anos quando os salários começaram a atrasar – e o belíssimo time passou a ter uma baixa atrás da outra. Os craques foram jogar em times mais confiáveis, mais estáveis – os que haviam abandonado antes, como se fossem filhos pródigos.
Fui um dos que mais resistiram, dos que foram quase até o finalzinho. Mineiro, controlado, tinha feito uma poupança nos tempos de bonança do JT. A poupança tinha ido toda embora quando, como se fosse um bom filho, retornei para casa, chamado pelo Rodrigo Mesquita, que já havia resgatado o Sandro e o Elói Gertel, que tinha ido se aventurar na TV Globo.
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Tem o velho dito “Eu era feliz e não sabia”.
Felizmente, minha aventura na Afinal não teve nada a ver com o dito. Fui feliz ali, e sabia muito bem disso.
11/3/2020
Um P.S. com detalhinho: A Afinal rodava nas madrugadas de sexta-feira, e, assim, chegava às bancas antes da Veja e da IstoÉ, que rodavam nas madrugadas de sábado. O número 1 da revista – verifiquei agora – saiu com a data de capa de 4 de setembro de 1984, uma terça-feira. Portanto, a foto é de sexta-feira, 31 de agosto.
Na foto de Roberto Faustino, de pé, da esquerda para a direita:
Geraldo Mayrink
Gilberto Mansur
Amilton Vieira
Valdir Sanches
Sérgio Vaz
Fernando Mitre
Gabriel Manzano
De joelhos:
Sandro Vaia
Mario Schwartz
Anélio Barreto
Ari Schneider
Pedro Cafardo
Carmo Chagas
Miguel Ângelo Filiage